quinta-feira, 10 de março de 2016

Homilía Dominical dia 13/03/2016



Atirar Pedras.
Mons. José Maria Pereira

No Evangelho (Jo 8, 1-11) temos uma comovente cena da vida de Jesus: os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério! Segundo a Lei de Moisés tais pessoas deviam ser apedrejadas.
            Aproveitaram a situação, para deixar o Cristo numa situação embaraçosa: “Mestre, que vamos fazer dessa mulher, perdoá-la ou apedrejá-la, como manda a nossa lei?”
            Para os escribas e fariseus, era uma oportunidade para testar a fidelidade de Jesus às exigências da Lei.
            Para Jesus, foi a oportunidade para revelar a atitude de Deus frente ao pecado e ao pecador.
            Perguntaram ao Mestre: “Que dizes?”(Jo 8,4).
            O Salvador faz uma coisa absolutamente inédita, não prevista na lei antiga: não pronuncia qualquer sentença mas, após uma pausa silenciosa, um momento de tensão deveras emotiva, tanto por parte dos acusadores como da acusada, afirma simplesmente: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (Jo 8,7). Todos os homens são pecadores; por isso ninguém tem o direito de se arvorar em juiz dos outros. Só um tem esse direito: o Inocente, o Senhor, mas nem sequer usa dele, preferindo exercer o Seu poder de Salvador: “Ninguém te condenou?... Também Eu não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8, 10-11). Somente Cristo, que veio para entregar a Sua vida pela salvação dos pecadores, pode libertar a mulher do seu pecado e dizer-lhe: “não tornes a pecar”. A Sua palavra é portadora da graça que nasce do Seu sacrifício       
Ao dizer: quem de vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra; foi como se Jesus tivesse tirado a tampa da consciência de cada um; Jesus sabia o que estava no coração de cada um.
            O silêncio se tornou pesado e insuportável; os mais velhos começaram a se retirar em silêncio, talvez por medo de que Jesus começasse a cavar em sua vida passada, para ver se estavam realmente sem pecado, sem aquele pecado que no Decálogo chamava-se “desejar a mulher do próximo”. Foi o silêncio, não o fato de Jesus escrever no chão que os deixou inquietos.
            “Ninguém te condenou?”, diz Jesus à mulher. Responde ela: Ninguém, Senhor! E Jesus: Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar.
            Cristo é o único sem pecado; o único portanto, que podia arremessar a primeira pedra..., mas renuncia ao direito de condenar porque, como o Pai, não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva” (Ez 33,11). Quanta nova confiança deve ter infundido, na mulher, aquele Vai, pois significa: volta a viver, a esperar, volta para a casa; retoma a tua dignidade; dize aos homens, com tua presença entre eles, que não há somente a Lei, há também a Graça.
            Podemos estar certos: a experiência daquele perdão, daquela compreensão infinita por parte de Jesus, reergueu aquela mulher, lhe encheu o coração com a experiência de um amor novo, tão diferente daquele que a tinha iludido em seu adultério.
            O que nos diz a nós, cristãos de hoje, o episódio da adúltera?
            Este Evangelho toca na raiz de muitos de nossos costumes. Certo, não pegamos em pedras contra o próximo; a lei civil proíbe! Mas a lama sim, a crítica sim. Quanta lama é esguichada no próximo em certas conversas entre amigos e amigas! Se alguém de nosso círculo de conhecimento fraqueja ou dá motivo a conversas, logo se cai em cima dele, como aqueles fariseus; mas não porque se detesta sinceramente o mal (dele se tem, às vezes, inveja!), mas porque se detesta o pecador; porque do contraste com sua conduta se quer, inconscientemente, fazer brilhar mais a nossa: Agradeço-vos, meu Deus, que não sou como os outros, dizia o fariseu no templo.
            “Quem de vós estiver sem pecado...”
            Na caminhada rumo à Páscoa, nesse tempo da Quaresma, façamos um bom exame de consciência! Olhemo-nos com o olhar com que Deus nos vê e, então, sentiremos, sim, a necessidade de correr a Jesus, mas para pedir o perdão para nós e não a condenação para os outros. O perdão para si mesmo também, e sobretudo, daquela culpa – se , por acaso, alguém se encontra culpado – que Jesus perdoou à adúltera; esta é uma culpa devastadora, um cristão não pode conviver tranquilo e longamente com este peso de consciência sem arruinar com ele, além da própria família, também a própria fé.
            Corramos a Jesus no sacramento da Confissão!

No sacramento da Penitência (Confissão) renova-se para todos os crentes, o gesto libertador de Cristo, que concede ao homem a graça para lutar contra o pecado, para não tornar a pecar.

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