quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Homilía Dominical dia 02/03/2014 Mt 6, 24-34




Viver o Presente!
Mons. José Maria Pereira

A Palavra de Deus em Is. 49, 14-15 tem a expressão mais profunda e eloqüente da ternura maternal de Deus e de seu amor ao povo eleito e ao homem. A mãe não ama seu filho porque ele é bom, mas porque é seu filho.
Deus é comparado a uma MÃE CARINHOSA, que não esquece de seu filhinho: “Poderá uma mãe esquecer de seu filhinho, e não amar o fruto do seu ventre?
Mesmo se houvesse alguma mulher capaz de esquecê-lo, Eu não te esqueceria jamais” (Is 49, 14-15).
No Evangelho (Mt 6, 24-34) Jesus ensina as pessoas a buscarem o essencial, o que realmente conta.
O Senhor dá-nos este conselho: “Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações! Para cada dia bastam seus próprios problemas” (Mt 6, 34). “E porque ficais preocupados com a roupa?” (Mt 6, 28). Jesus não diz que não nos ocupemos das coisas que se referem ao alimento e ao vestuário, mas que não nos preocupemos com desassossego e perturbação dessas coisas. É como se dissesse: “Não vos preocupeis excessivamente com os bens materiais, ainda que necessários à vida; não estais sobre a terra para aqui viverdes imersos em pensamentos de coisas materiais, sois filhos de Deus, bem superiores às flores do campo e às aves do céu. Deus pensará em vós, mais do que pensa nas outras criaturas e vos dará o necessário.”
“Tudo mais vos será dado por acréscimo”, segundo comenta Santo Agostinho: “não como um bem no qual devais fixar a vossa atenção, mas como um meio pelo qual possais chegar ao sumo e verdadeiro bem.”
Trata-se de uma atitude de fé viva na Providência divina e de confiança filial no Pai Celeste, que conduz à paz e serenidade de espírito.
“Para cada dia bastam seus próprios problemas.”
O ontem já passou; o amanhã não sabemos se chegará para cada um de nós, pois a ninguém foi entregue o seu porvir. Do dia de ontem, só ficaram muitos motivos de ação de graças pelos inúmeros benefícios e ajudas de Deus, bem como daqueles que convivem conosco. Com certeza pudemos aumentar, nem que fosse um pouco, o nosso tesouro no Céu. Podemos dizer do dia de ontem, com palavras do salmista: “O Senhor tornou-se o meu apoio, libertou-me da angústia e salvou-me porque me ama.” (Sl 17, 19-20).
O amanhã “ainda não é”, e, se chegar, será o dia mais belo que jamais pudemos sonhar, porque foi preparado pelo nosso Pai-Deus para que nos santifiquemos: “Vós sois o meu Deus, os meus dias estão nas vossas mãos” (Sl 31, 16). Não há razões objetivas para andarmos angustiados e preocupados pelo dia de amanhã: teremos as graças necessárias para enfrentá-lo e sair vitoriosos.
O que importa é o hoje. É o que temos para amar e para nos santificarmos, através de inúmeros pequenos acontecimentos que constituem a trama de um dia.
Aqui e agora é que eu tenho que amar a Deus com todo o meu coração... e com obras.
Boa parte da santidade e da eficácia consiste certamente em vivermos cada dia como se fosse o único da nossa vida. Dias para serem cumulados de amor de Deus e terminados com as mãos cheias de boas obras. O dia de hoje não se repetirá nunca, e o Senhor, espera que o impregnemos de Amor e de pequenos serviços aos nossos irmãos. As aflições procedem, pois, quase sempre, de não vivermos com intensidade o momento atual e de termos pouca fé na Previdência. Por isso desapareceriam se disséssemos sinceramente ao Senhor: “quero o que queres, quero porque o queres, quero como o que queres, quero enquanto o quiseres” (Oração de Clemente XI). Vêm então a alegria e a paz.
“Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6, 24). “Os bens da terra, diz São Josemaria Escrivá, não são maus; pervertem-se, quando o homem os torna como ídolos e se prostra diante deles; mas tornam-se nobres, quando os converte em instrumentos para alcançar o bem, numa missão de justiça e de caridade. Não podemos correr atrás dos bens econômicos como quem procura um tesouro; o nosso tesouro é Cristo e nEle se há de concentrar todo o nosso amor, porque onde está o nosso tesouro, aí está também o nosso coração (Mt 6, 21)” (Cristo que passa, nº 35).
Deixemos de ser servos do dinheiro e escravos de nós mesmos, para servir no Senhor com alegria e livres da angústia possessiva.
Aproveitemos bem o dia que estamos vivendo! Todos os dias da nossa vida estão presididos por Deus que tanto nos quer. E só temos capacidade para viver o presente!
Aqui e agora devemos ser generosos com Deus, fugindo da tibieza.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Homilía Dominical dia 23/02/2014 Mt5, 38-48



  Amar os Inimigos!...
 Mons. José Maria Pereira
 
A Palavra de Jesus (Mt 5, 38-48) nos convida a  amar a todos, sem nenhuma discriminação, pois assim seremos perfeitos como o Pai Celeste é perfeito. O Senhor nos convida a sermos santos como Ele é santo! A santidade a que somos chamados consiste em fazer a vontade de Deus nosso Pai, que ama a todos, sem distinção. Diz-nos São Paulo: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1Ts 4, 3). Jesus nos convida a viver a caridade para além dos critérios humanos.
“Aquele que te fere na face direita, oferece-lhe também a esquerda” (Mt 5, 39). Diante da lei do talião Jesus Cristo estabelece novas bases – o amor, o perdão das ofensas, a superação do orgulho – sobre os quais os homens hão de atender a uma defesa razoável dos seus direitos. Ele não nos ensina a sermos trouxas. A pessoa pode defender-se e exigir-se que se faça justiça. Mas em todo esse processo ela é chamada a praticar a mansidão, a não usar de violência e a buscar o bem da pessoa que a prejudicou.
Diz São João Crisóstomo: “O homem não tem nada de tão divino – tão de Cristo – como a mansidão e a paciência na prática do bem. Acrescenta São Josemaria Escrivá: “Um discípulo de Cristo jamais tratará mal pessoa alguma; ao erro chama erro,mas, a quem está errado, deve corrigi-lo com afeto; senão, não poderá ajudá-lo, não poderá santificá-lo”, e essa é a maior prova de caridade.
Ensina Jesus: “Amai os vossos inimigos, rezai por aqueles que vos perseguem e caluniam” (Mt 5, 44). Devemos também viver a caridade com aqueles que nos tratam mal, que nos difamam e roubam a honra, que procuram positivamente prejudicar-nos. O Senhor deu-nos exemplo disso na Cruz, e os discípulos seguiram o mesmo caminho do Mestre. Ele nos ensinou a não ter inimigos pessoais – como o testemunharam heroicamente os santos de todas as épocas – e a considerar o pecado como o único mal verdadeiro.
“Sede perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito” (Mt 5, 48). A expressão não é um paradoxo, pois rigorosamente falando, é impossível que a criatura alcance a perfeição de Deus. Mas esta é a meta para que deve tender todo o discípulo de Cristo. A chamada universal à santidade não é uma sugestão, mas um mandamento de Jesus Cristo: “Tens obrigação de te santificar. – Tu, também. – Quem pensa que é tarefa exclusiva de sacerdotes, e religiosos? A todos, sem exceção, disse o Senhor: “Sede perfeitos, como Meu Pai Celestial é perfeito” (São Josemaria Escrivá, nº 291, Caminho).
A santidade é a vocação de todo o batizado. O Venerável João Paulo II propôs como objetivo para o caminho da Igreja no Terceiro Milênio a santidade de vida para todos: “Como explicou o Concílio, este ideal de perfeição não deve ser objeto de equívoco, vendo nele um caminho extraordinário, capaz de ser percorrido apenas por algum gênio da santidade. Os caminhos da santidade são variados e apropriados à vocação de cada um. Agradeço ao Senhor por ter me concedido, nestes anos, beatificar e canonizar muitos cristãos, entre os quais numerosos leigos que se santificaram nas condições ordinárias da vida. É hora de propor de novo a todos, com convicção, esta medida alta da vida cristã ordinária: toda a vida da comunidade eclesial e das famílias cristãs deve apontar nesta direção. Mas é claro também que os percursos da santidade são pessoais e exigem uma verdadeira e própria pedagogia da santidade, capaz de se adaptar ao ritmo dos indivíduos; deverá integrar as riquezas da proposta lançada a todos com as formas tradicionais de ajuda pessoal e de grupo e as formas mais recentes oferecidas pelas associações e movimentos reconhecidos pela Igreja”.
Que o Senhor nos conceda a graça de acolhermos a essência de seu ensinamento: o AMOR. Só assim poderemos rezar o Pai Nosso: “Perdoai, assim como perdoamos...” Assim nos tornamos verdadeiros filhos de Deus...

sábado, 15 de fevereiro de 2014

HOMILIA DOMINICAL - DIA 16/02/2014



  O Cristão: Lei Nova e Antiga
Mons. José Maria Pereira

(Mt 5,20-22a.27-28.33-34a.37)



O Senhor diz no Evangelho (Mt 5, 17-37) que Ele não veio destruir a antiga Lei, mas dar-lhe a sua plenitude; restaura, aperfeiçoa, e eleva a uma ordem superior os preceitos do Antigo Testamento. Somos convidados a refletir sobre qual deve ser a atitude do cristão diante da Lei de Deus e as implicações que a mesma tem nas nossas opções de vida.
Só em Deus poderemos conseguir a luz e a força, para alcançarmos o procedimento ideal que nos conduzirá à verdadeira liberdade e à plena felicidade.
Jesus não veio abolir a lei, mas levá-la à perfeição. Depois de ter anunciado os grandes princípios da nova lei, nas bem-aventuranças, Jesus as desenvolve, aprofundando o espírito dos mandamentos dados ao povo de Deus por Moisés. Trata-se de cumprir não apenas materialmente os mandamentos, mas de dar-lhes o verdadeiro espírito de justiça e de amor. Daí as palavras de Jesus: “Ouvistes o que foi dito aos antigos; Eu, porém, vos digo” (Mt 5, 17-37). Isso em relação à vida, à felicidade ao amor conjugal e à verdade. Não basta, por exemplo, não matar; é preciso também evitar palavras de desamor, de ressentimento ou de desprezo para com o próximo. Não basta privar-se dos atos materiais contra a lei; é preciso eliminar também os maus pensamentos e os maus desejos, porque quem os consente, já pecou no “seu coração” (Mt 5, 28): já assassinou  o seu irmão ou cometeu adultério.
É preciso superar a lei antiga, aperfeiçoá-la, isto é, tendo uma delicada atenção à pureza interior...
“Se vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus...” (Mt 5, 20). Não se trata da virtude da justiça que leva a “dar a cada um aquilo que lhe pertence”. Aqui podia traduzir-se por santidade; a dos escribas é meramente externa e ritualista. Entre eles, o cumprimento exato, minucioso, mas externo, dos preceitos tinha-se convertido numa garantia de salvação do homem diante de Deus: “se eu cumpri isto, sou justo, sou santo e Deus tem que me salvar”. Com esse modo de conceber a justificação, já não é Deus fundamentalmente quem salva, mas vem a ser o homem quem se salva pelas suas obras externas. A justificação ou santificação é uma graça de Deus, com a qual o homem só pode colaborar secundariamente pela sua fidelidade a essa graça.
Quanto à verdade, diz Jesus: “Seja o vosso sim sim, e o vosso não não” (Mt 5, 37). O cristão é chamado a ser transparente, simples. O contrário seria cheio de dobras, complicado. Não é só não jurar em falso, mas viver de tal modo a verdade, que não se precise jurar de modo algum. Fazer tudo em nome do Senhor, no Senhor.
Jesus quer inculcar a sinceridade sempre: “sim, sim; não, não!” Se partirmos do princípio da sinceridade, há confiança mútua nas relações humanas e jurar torna-se coisa supérflua; jurar a torto e a direito é um sintoma de falta de sinceridade entre as pessoas.
A necessidade de juramento é sinal de que a mentira e a desconfiança pervertem as relações humanas. Deus Pai apenas exige um relacionamento em que as pessoas sejam verdadeiras e responsáveis.
E nós, como observamos os Mandamentos? Com o espírito do Antigo Testamento? (fazer isto ou aquilo porque é lei, porque é “obrigado”?)
Porque vou à Missa? Porque é um preceito?
“Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5, 20).
“Quem me ama, guarda os meus mandamentos”, disse Jesus.
Seja a nossa observância uma expressão sincera e profunda do nosso amor para com Deus. Peçamos a Deus a Graça de vivermos os seus mandamentos. “Se quiseres observar os mandamentos, eles te guardarão; se confias em Deus, tu também viverás” (Eclo 15, 16). “A vida e a morte, o bem e o mal, estão diante do homem; o que ele escolher, isso será dado” (Eclo 15, 16-18). É como quem diz: o que seguir a lei divina, terá como recompensa a vida e o que não a seguir, espera-o a morte. Tanto a vida como a morte eterna são a conseqüência da sua opção. O homem é livre e, por isso, responsável das suas ações...

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Homilía Dominial dia 09/02/2014 mt 5, 13-16




Ser Sal e Luz do Mundo
Mons. José Maria Pereira

No Evangelho (Mt 5, 13-16) o Senhor fala-nos da nossa responsabilidade perante o mundo: Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo. E diz isso a cada um de nós; àqueles que queremos ser seus discípulos.
Jesus proclama-se luz do mundo (Jo 9, 5). Hoje Ele nos diz: “Vós sois a luz do mundo.” Só poderemos iluminar se tivermos sido iluminados por Cristo. Jesus acrescenta que não se acende uma lâmpada para colocá-la debaixo de um alqueire, mas no candelabro para que brilhe para todos os que estão na casa. Jesus diz mais: “A vossa luz brilhe diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos céus.” Portanto, a maneira concreta de sermos luz do mundo é pelas boas obras.
O sal dá sabor aos alimentos, torna-os agradáveis, preserva da corrupção e era, no passado, um símbolo da sabedoria divina. No Antigo Testamento, prescrevia-se que tudo que se oferecesse a Deus devia estar condimentado com sal (cf. Lv 2, 13), para significar o desejo de que a oferenda fosse agradável. A luz é a primeira obra da criação (Gn 1, 15), e é o símbolo do Senhor, do Céu e da Vida. As trevas, pelo contrário, significam a morte, o inferno, a desordem e o mal. Os discípulos de Cristo são o sal da terra: dão um sentido mais alto a todos os valores humanos, evitam a corrupção, trazem com as suas palavras a sabedoria aos homens. São também luz do mundo, que orienta e indica o caminho no meio da escuridão. Quando os cristãos vivem segundo a sua fé e têm um comportamento irrepreensível e simples, brilham como astros no mundo (Fil 2, 15), no meio do trabalho e dos seus afazeres, na sua vida normal.
Cristo deixou-nos a sua doutrina e a sua vida para que os homens encontrassem o sentido da sua existência e achassem a felicidade e a salvação. “Assim brilhe a vossa luz diante dos homens...” E para isso é necessário, em primeiro lugar, o exemplo de uma vida reta, a pureza de conduta, o exercício das virtudes humanas e cristãs na vida simples de todos os dias. A luz, o bom exemplo, deve abrir caminho.
Perante a onda de materialismo e de sensualidade que sufoca os homens, o Senhor “quer que das nossas almas saia outra onda – branca e poderosa, como a mão do Senhor –, que afogue com a sua pureza a podridão de todo o materialismo e neutralize a corrupção que inundou o mundo: é para isso que vêm – e para mais – os filhos de Deus”: para levar Cristo a tantos que convivem conosco, para que Deus não seja um estranho na sociedade.
Transformaremos verdadeiramente o mundo – a começar por esse pequeno mundo em que se desenvolve a nossa atividade – na medida em que o ensinamento começar com o testemunho da nossa própria vida.
O exemplo prepara a terra em que a palavra frutificará. Sem cairmos em atitudes grotescas, impróprias de um cristão corrente, podemos mostrar ao mundo o que significa seguir verdadeiramente o Senhor na tarefa cotidiana, tal como fizeram os primeiros cristãos. São Paulo dizia aos cristãos de Éfeso: “Eu vos exorto a que leveis uma vida digna da vocação à qual fostes chamados...” (Ef 4, 1).
Devemos ser conhecidos como homens e mulheres leais, simples, verazes, alegres, trabalhadores, otimistas; devemos comportar-nos como pessoas que cumprem retamente os seus deveres e que sabem atuar a todo o momento como filhos de Deus, que não se deixam arrastar por qualquer vento. A vida do cristão constituirá então um sinal claro da presença do espírito de Cristo na sociedade.
Por isso devemos refletir e perguntar-nos com freqüência se os nossos colegas de trabalho, os nossos familiares e amigos se vêem levados a glorificar a Deus quando presenciam as nossas ações, porque vêem nelas a luz de Cristo. Seria um bom sinal de que em nós há luz e não escuridão, amor a Deus e não tibieza.
Disse o Papa João Paulo II: “Ele tem necessidade de vós. De alguma forma vós lhe emprestais os vossos rostos, o vosso coração, toda a vossa pessoa, na medida em que vos entregais ao bem dos outros e vos tornais servidores fiéis do Evangelho. Então é o próprio Jesus a ficar bem; mas se fordes fracos e vis, obscureceis a sua autêntica identidade e não o honrareis”. Não percamos nunca de vista esta realidade: os outros devem ver Cristo no nosso comportamento diário, simples e sereno.
As nossas boas obras! Não vamos fazer o bem para nos orgulhar, mas para a glória de Deus.
As boas ações, este colocar-se a serviço do próximo, passa pelo mistério da Cruz (1Cor 2, 1-5).