sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Homilía Dominical dia 06/09/2015 - (Mc 7,31-37)



Escutar e Anunciar
 Mons. José Maria Pereira





O Profeta Isaías, num momento de tribulação, levanta-se para reconfortar o Povo eleito que vive no desterro (Is 35, 4-7). Dizei às pessoas deprimidas: criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus... é Ele que vem para vos salvar. E o Profeta apresenta prodígios que terão o seu pleno cumprimento com a chegada do Messias: Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos; brotarão águas no deserto e jorrarão torrentes no ermo. Com Cristo, todos os homens são curados, e as fontes da graça, sempre inesgotáveis, convertem o mundo numa nova criação.
            No Evangelho (Mc 7, 31-37) encontramos a realização da profecia de Isaías.
            Jesus abre os ouvidos e solta a língua de um surdo-mudo. E o povo, entusiasmado, vê nessa cura um sinal da presença do Poder salvífico do Messias e exclama: “Tudo Ele tem feito bem. Fez os surdos ouvirem e os mudos falarem.”
            Nesta cura que o Senhor realizou, podemos ver uma imagem da sua ação nas almas: ela livra o homem do pecado, abre-lhe os ouvidos para que escute a Palavra de Deus e solta-lhe a língua para que louve e proclame as maravilhas divinas. Santo Agostinho, ao comentar esta passagem do Evangelho, diz que a língua de quem está unido a Deus “falará do bem, tornará unido os que estavam divididos, consolará os que choram... Deus será louvado, Cristo será anunciado.” É o que nós faremos se tivermos o ouvido atento às contínuas moções do Espírito Santo e a língua preparada para falar de Deus sem respeitos humanos.
            Existe uma surdez da alma que é pior que a do corpo, porque não há pior surdo do que aquele que não quer ouvir. São muitos os que têm os ouvidos fechados à Palavra de Deus, e são também muitos os que se vão endurecendo cada vez mais ante as inúmeras chamadas da graça! O nosso apostolado paciente, tenaz, cheio de compreensão, acompanhado de oração, fará com que muitos dos nossos amigos ouçam a voz de Deus e se convertam em novos apóstolos que a preguem por toda a parte.
            Não podemos  ficar mudos quando devemos falar de Deus e da sua mensagem sem constrangimento algum, antes vendo nisso um título de glória: os pais aos seus filhos; o amigo ao amigo, com sentido de oportunidade, mas sem receios; o colega de escritório aos que trabalham ao seu lado, com o seu comportamento exemplar e alegre e com a palavra que estimula a sair da apatia; o estudante aos colegas de Universidade com quem convive tantas horas por dia...
            São Beda o Venerável, Doutor da Igreja (séc. VIII), ensina: “Jesus o separou da multidão e, levando-o à parte, colocou seus dedos em seus ouvidos. O primeiro passo para a salvação é que o enfermo, guiado pelo Senhor, seja levado à parte, longe da multidão. Isto acontece quando o Senhor, iluminando a alma do enfermo – prostrada por seus pecados- com a presença do seu amor, o tira do habitual modo de vida e o coloca sobre o caminho dos seus mandamentos.
            Ele coloca os seus dedos nos ouvidos quando, por meio dos dons do Espírito Santo, abre os ouvidos do coração para que compreenda e receba a palavra da salvação. De fato, o próprio Senhor testemunha que o Espírito Santo é o dedo de Deus, quando afirma aos judeus: Se eu expulso os demônios com o dedo de Deus, seus filhos por quem os expulsam? Explicando estas palavras outro evangelista diz: Eu expulso os demônios com o Espírito Santo.
            Os próprios magos do Egito foram vencidos por Moisés por esse dedo, fato que eles reconheceram: Aqui está o dedo de Deus; e também a lei foi escrita sobre tábuas de pedra. E, por meio do dom do Espírito Santo, estamos protegidos contra as ciladas dos homens e dos espíritos malignos, e somos instruídos no conhecimento da vontade divina.
            Portanto, os dedos de Deus, colocados nos ouvidos do enfermo que seria curado, são os dons do Espírito Santo, que abre os corações que tinham se distanciado do caminho da verdade ao conhecimento da ciência da salvação...”
            Peçamos ao Senhor fé e audácia para anunciar com clareza e simplicidade as maravilhas de Deus de que somos testemunhas, como fizeram os Apóstolos depois do dia de Pentecostes. Santo Agostinho aconselha-nos: “Se amais a Deus, atraí para que O amem todos os que se reúnem convosco e todos os que vivem na vossa casa. Se amais o Corpo de Cristo, que é a unidade da Igreja, estimulai a todos para que gozem de Deus e dizei-lhes com Davi: “ Celebrai comigo o Senhor, exaltemos juntos o seu nome” (Sl 33 (34), 4); e nisto não sejais parcos nem tímidos, mas conquistai  para Deus todos os que puderdes e por todos os meios possíveis, conforme a vossa capacidade, exortando-os, suportando-os, suplicando-lhes, conversando com eles e falando-lhes com toda a mansidão e suavidade da razão de ser das coisas que dizem respeito à fé.” Não fiquemos calados quando tantas são as coisas que Deus quer dizer através das nossas palavras.
            Deus também fez uso da Palavra. Ele próprio se fez Palavra, na pessoa de Jesus Cristo. E o que nos lembra São Tiago? “Acolhei com humildade a Palavra que lhes foi plantada no coração” (Tg 1,21).
            Jesus tocou os ouvidos e a boca do doente e ele começou a escutar e a falar! Peçamos a Cristo, que toque também: Nossos ouvidos para que se tornem sensíveis em escutar sua Palavra;
            Nossos lábios para que se tornem entusiastas em anunciá-La e nossas mãos para que nos tornemos generosos em testemunhá-La...
            Nossos pés, para que desperte em nós novo ardor missionário...



 

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