quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Homilía Dominical dia 14/09/2014 Jo 3,13-17




Exaltação da Santa Cruz
Mons. José Maria Pereira

A devoção e o culto à Santa Cruz, na qual Cristo deu a sua vida por nós, remonta aos começos do cristianismo. A Igreja canta com entusiasmo a Santa Cruz, pois foi o instrumento da nossa Salvação; se a árvore a cuja sombra os nossos primeiros pais pecaram foi a causa de perdição, a árvore da Cruz é origem da nossa salvação eterna.

A Palavra de Deus (Num 21,4-9) narra-nos como o Senhor castigou o Povo eleito por ter murmurado contra Moisés e contra Deus ao experimentar as dificuldades do deserto; enviou-lhe serpentes que causavam estragos entre os israelitas. Quando se arrependeram, o Senhor disse a Moisés: “Faze uma serpente de bronze e coloca-a como sinal sobre uma haste; aquele que for mordido e olhar para ela viverá. Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e colocou-a como sinal sobre uma haste. Quando alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, ficava curado” (Num 21, 8-9).

A serpente de bronze era figura de Cristo na Cruz; quem o olha obtém a salvação. Assim o diz Jesus no diálogo mantido com Nicodemos: “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que seja levantado o Filho do Homem, a fim de que todo aquele que crer tenha nele vida eterna” ( Jo 3, 14-15).

Desde então, o caminho da santidade passa pela Cruz, e ganham sentido todas essas realidades que tanto precisam dele, como são a doença, a dor, as aflições econômicas, o fracasso..., a mortificação voluntária. Mais ainda: Deus abençoa com a Cruz quando quer conceder grandes bens a um dos seus filhos, a quem trata então com particular predileção.

Não são poucos os que fogem em debandada da Cruz de Cristo, e se afastam da verdadeira alegria, da eficácia sobrenatural, da própria santidade; fogem de Cristo. Levemos a Cruz sem rebeldia, sem queixas, com amor.

É possível que tenhamos aprendido  desde a nossa infância a fazer o sinal da Cruz sobre a nossa testa, os nossos lábios e o nosso coração, em sinal externo da fé que professamos. A Cruz é a árvore de riquíssimos frutos, arma poderosa que afasta todos os males e espanta os inimigos da nossa salvação: Pelo sinal da Santa Cruz, livrai-nos Deus Nosso Senhor dos nossos inimigos, dizemos todos os dias ao persignar-nos. A Cruz, ensina São João Damasceno, “é o escudo e o troféu contra o demônio. É o sinal para que não sejamos atingidos pelo anjo exterminador, como diz a Escritura( Ex 9,12). É o instrumento para levantar aqueles que caem, o apoio para os que se mantém em pé, o bastão dos débeis, o guia dos que se extraviam, a meta dos que avançam, a saúde da alma e do corpo. Afugenta todos os males, acolhe todos os bens, é a morte do pecado, a semente da ressurreição, a árvore da vida eterna”. O Senhor pôs a salvação da humanidade no lenho da Cruz, para que a vida ressurgisse de onde viera a morte, e aquele que vencera na árvore do Paraíso fosse vencido na árvore da Cruz ( Prefácio da Missa da Exaltação da Santa  Cruz).

A Cruz apresenta-se na nossa vida de diversas maneiras: doença, pobreza, cansaço, dor, desprezo, solidão... Hoje podemos examinar como é a nossa disposição habitual em face dessa Cruz que às vezes se mostra áspera e dura, mas que, se a levamos com amor, converte-se em fonte de purificação e de Vida, e também de alegria.

O amor à Cruz produz abundantes frutos na alma. Em primeiro lugar, leva-nos a descobrir Jesus, que sai ao nosso encontro e carrega sobre os seus ombros a parte mais pesada da contradição. A nossa dor, associada à do Mestre, deixa de ser o mal que entristece e arruína, e converte-se em meio de íntima união com Deus.

A Cruz de cada dia é uma grande oportunidade de purificação, de despreendimento, de aumento de glória.

A única dor verdadeira é afastar-se de Cristo. Os outros sofrimentos são passageiros e convertem-se em alegria e paz.

O trato e a amizade com o Mestre ensinam-nos a ver e a enfrentar as dificuldades que se apresentam com um espírito jovem e decidido, sem nenhum assomo de tristeza ou de queixa.

À semelhança dos santos, encararemos as contrariedades como um estímulo que é preciso transpor neste combate que é a vida. Essa disposição de ânimo alegre e otimista, mesmo nos momentos difíceis, não é fruto do temperamento ou da idade: nasce de uma profunda vida interior, da consciência sempre presente da nossa filiação divina. É uma atitude serena, que cria em todas as circunstâncias um bom ambiente à nossa volta na família, no trabalho, com os amigos... - e constitui uma grande arma para aproximarmos os outros de Deus.

Reza o hino: Cruz fiel, tu és a mais nobre de todas as árvores; nenhuma outra pode comparar-se a ti em folhas, em flor, em fruto”.

Ensina São Josemaría Escrivá: “É verdadeiramente suave e amável a Cruz de Jesus. Não contam aí as penas: só a alegria de nos sabermos corredentores com Ele”( Via Sacra).

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