sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Homilia para casais - 03/02/2013


Pregação e Caridade
Mons. José Maria Pereira
O Evangelho (Lc 4, 21-30) nos mostra que todos davam testemunho a respeito de Jesus, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca. Mas os nazarenos logo se deixaram envolver em considerações demasiadamente humanas: Não era acaso Ele um homem como eles, filho de José? Por que não fazia ali os mesmos milagres que tinha feito em outros lugares?
            Jesus responde: “Nenhum profeta é bem recebido na sua terra”. Mas, nem por isso muda de atitude. Pelo contrário, procura demonstrar-lhes que o homem não pode ditar leis a Deus e que Deus tem a liberdade de distribuir os seus dons a quem quer. Jesus quer fazer compreender aos seus conterrâneos que veio trazer a salvação, não a uma cidade ou a um povo concreto, mas a todos os homens, e que a graça divina não se vincula a uma pátria, a uma raça, ou a méritos pessoais, mas é totalmente gratuita.
            Levantaram e expulsaram Jesus da cidade, tentaram lançá-Lo no precipício; mas, Jesus passando pelo meio deles, continuou o seu caminho.
            Tal é a sorte que o mundo guarda para aqueles que, como Cristo, têm por missão o anúncio da verdade. É o que vemos em Jr 1, 4-5. 17-19: Deus tinha escolhido Jeremias como profeta, antes de nascer, mas ao tomar conhecimento, por revelação divina, quando jovem, desta eleição, treme e, pressentindo futuras contrariedades, quer recusar. Mas Deus anima-o: “Não temas porque estarei contigo para te livrar” (Jr 1,8). O homem escolhido por Deus, para ser porta-voz da Sua palavra, pode contar com a graça de Deus que se lhe antecipa e o acompanhará em todas as situações. Não lhe faltarão contrariedades, perigos e riscos, tal como não faltaram aos profetas e ao próprio Jesus. Apesar disso, Deus também o anima, tal como aconteceu a Jeremias: “Eles combaterão contra Ti, mas não te vencerão, pois Eu estarei contigo para te proteger”. (Jr 1, 19).
            No anúncio da Palavra, S. Paulo nos convida a aspirar aos dons mais elevados. Para descrever esses dons, recorda-nos o chamado hino da caridade, uma das mais belas páginas das Cartas do Apóstolo Paulo (1 Cor 12, 31- 13,13).
            A virtude sobrenatural da caridade não é um mero humanitarismo. “O nosso amor não se confunde com a atitude sentimental, nem com a simples camaradagem, nem com o propósito pouco claro de ajudar os outros para provarmos a nós mesmos que somos superiores. É conviver com o próximo, venerar a imagem de Deus que há em cada homem, procurando que também ele a contemple, para que saiba dirigir-se a Cristo” (São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, 230).
            Sem caridade, a vida ficaria vazia... A eloquência mais sublime e todas as boas obras- se pudessem dar-se - seriam como o som de um sino ou de um címbalo, que dura um instante e desaparece. Sem caridade, diz-nos o Apóstolo, de pouco servem os dons mais preciosos: “Se não tiver caridade, nada sou”.
            São Paulo aponta as qualidades que adornam a caridade e diz, em primeiro lugar, que a caridade é paciente. Para fazer o bem, deve-se antes de mais nada saber suportar o mal. A paciência denota uma grande fortaleza. É necessária para nos fazer aceitar com serenidade os possíveis defeitos, as suscetibilidades ou o mau-humor das pessoas com quem convivemos. É uma virtude que nos levará a esperar o momento adequado para corrigir; a dar uma resposta afável, que muitas vezes será o único meio de conseguir que as nossas palavras calem fundo no coração da pessoa a quem nos dirigimos. É uma grande virtude para a convivência.
            A caridade não é invejosa. Da inveja nascem inúmeros pecados contra a caridade: a murmuração, a detração, a satisfação perante a adversidade do próximo e a tristeza perante a sua prosperidade. A inveja é frequentemente a causa de que se abale a confiança entre amigos e a fraternidade entre irmãos. É como um câncer que corrói a convivência e a paz. São Tomás de Aquino chama-a “mãe do ódio”.
            A caridade não é jactanciosa, não se ensoberbece. Sem humildade, não pode haver nenhuma outra virtude, e particularmente não pode haver amor. Em muitas faltas de caridade houve previamente outras de vaidade e orgulho, de egoísmo, de vontade de aparecer. O horizonte do orgulhoso é terrivelmente limitado: esgota-se em si mesmo. O orgulhoso não consegue olhar para além da sua pessoa, das suas qualidades, das suas virtudes, do seu talento. É um horizonte sem Deus. E neste panorama tão mesquinho, nunca aparecem os outros, não há lugar para eles.
            A caridade não é interesseira. Não pede nada para a própria pessoa; dá sem calcular o que pode receber de volta. Sabe que ama Jesus nos outros e isso lhe basta.
            A caridade não guarda rancor, não conserva listas de agravos pessoais; tudo desculpa.
            A caridade tudo crê, tudo espera, tudo tolera. Tudo, sem nenhuma exceção.
            A caridade não termina nunca; é, já aqui na terra, um começo do Céu, e a vida eterna consistirá num ato ininterrupto de caridade, diz S. Tomás.
            “O amor jamais acabará. As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência desaparecerá. Atualmente permanecem estas três: a fé, a esperança e o amor. Mas a maior delas é o amor” ( 1 Cor 13, 8.13).
            É o maior dom e o principal mandamento do Senhor. Será o distintivo pelo qual se reconhecerá que somos discípulos de Cristo; é uma virtude que, para bem ou para mal estaremos pondo à prova em cada instante da nossa vida.
            “Esforçai-vos por alcançar a caridade” (1 Cor 14,1), exorta-nos S. Paulo.

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