Atirar Pedras.
Mons. José Maria Pereira
No Evangelho
(Jo 8, 1-11) temos uma comovente cena da vida de Jesus: os mestres da Lei e os
fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério! Segundo a Lei de
Moisés tais pessoas deviam ser apedrejadas.
Aproveitaram
a situação, para deixar o Cristo numa situação embaraçosa: “Mestre, que vamos
fazer dessa mulher, perdoá-la ou apedrejá-la, como manda a nossa lei?”
Para
os escribas e fariseus, era uma oportunidade para testar a fidelidade de Jesus
às exigências da Lei.
Para
Jesus, foi a oportunidade para revelar a atitude de Deus frente ao pecado e ao
pecador.
Perguntaram
ao Mestre: “Que dizes?”(Jo 8,4).
O
Salvador faz uma coisa absolutamente inédita, não prevista na lei antiga: não
pronuncia qualquer sentença mas, após uma pausa silenciosa, um momento de
tensão deveras emotiva, tanto por parte dos acusadores como da acusada, afirma
simplesmente: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe
uma pedra” (Jo 8,7). Todos os homens são pecadores; por isso ninguém tem o
direito de se arvorar em juiz dos outros. Só um tem esse direito: o Inocente, o
Senhor, mas nem sequer usa dele, preferindo exercer o Seu poder de Salvador:
“Ninguém te condenou?... Também Eu não te condeno. Podes ir, e de agora em diante
não peques mais” (Jo 8, 10-11). Somente Cristo, que veio para entregar a Sua
vida pela salvação dos pecadores, pode libertar a mulher do seu pecado e
dizer-lhe: “não tornes a pecar”. A Sua palavra é portadora da graça que nasce
do Seu sacrifício
Ao dizer: quem
de vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra; foi como se Jesus tivesse
tirado a tampa da consciência de cada um; Jesus sabia o que estava no coração
de cada um.
O
silêncio se tornou pesado e insuportável; os mais velhos começaram a se retirar
em silêncio, talvez por medo de que Jesus começasse a cavar em sua vida
passada, para ver se estavam realmente sem pecado, sem aquele pecado que no
Decálogo chamava-se “desejar a mulher do próximo”. Foi o silêncio, não o fato
de Jesus escrever no chão que os deixou inquietos.
“Ninguém
te condenou?”, diz Jesus à mulher. Responde ela: Ninguém, Senhor! E Jesus: Nem
eu te condeno. Vai e não tornes a pecar.
Cristo
é o único sem pecado; o único portanto, que podia arremessar a primeira
pedra..., mas renuncia ao direito de condenar porque, como o Pai, não quer a
morte do pecador, mas que se converta e viva” (Ez 33,11). Quanta nova confiança
deve ter infundido, na mulher, aquele Vai, pois significa: volta a viver, a
esperar, volta para a casa; retoma a tua dignidade; dize aos homens, com tua
presença entre eles, que não há somente a Lei, há também a Graça.
Podemos
estar certos: a experiência daquele perdão, daquela compreensão infinita por
parte de Jesus, reergueu aquela mulher, lhe encheu o coração com a experiência
de um amor novo, tão diferente daquele que a tinha iludido em seu adultério.
O
que nos diz a nós, cristãos de hoje, o episódio da adúltera?
Este
Evangelho toca na raiz de muitos de nossos costumes. Certo, não pegamos em
pedras contra o próximo; a lei civil proíbe! Mas a lama sim, a crítica sim.
Quanta lama é esguichada no próximo em certas conversas entre amigos e amigas!
Se alguém de nosso círculo de conhecimento fraqueja ou dá motivo a conversas,
logo se cai em cima dele, como aqueles fariseus; mas não porque se detesta
sinceramente o mal (dele se tem, às vezes, inveja!), mas porque se detesta o
pecador; porque do contraste com sua conduta se quer, inconscientemente, fazer
brilhar mais a nossa: Agradeço-vos, meu Deus, que não sou como os outros, dizia
o fariseu no templo.
“Quem
de vós estiver sem pecado...”
Na
caminhada rumo à Páscoa, nesse tempo da Quaresma, façamos um bom exame de
consciência! Olhemo-nos com o olhar com que Deus nos vê e, então, sentiremos,
sim, a necessidade de correr a Jesus, mas para pedir o perdão para nós e não a
condenação para os outros. O perdão para si mesmo também, e sobretudo, daquela
culpa – se , por acaso, alguém se encontra culpado – que Jesus perdoou à
adúltera; esta é uma culpa devastadora, um cristão não pode conviver tranquilo
e longamente com este peso de consciência sem arruinar com ele, além da própria
família, também a própria fé.
Corramos
a Jesus no sacramento da Confissão!
No sacramento
da Penitência (Confissão) renova-se para todos os crentes, o gesto libertador
de Cristo, que concede ao homem a graça para lutar contra o pecado, para não
tornar a pecar.
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