Ficai
Preparados!
Mons. José Maria Pereira
Nesse domingo,
inicia mais um Ano Litúrgico, no qual relembramos e revivemos os Mistérios da
História da Salvação. A Igreja nos põe de sobreaviso com quatro semanas de
antecedência a fim de que nos preparemos para celebrar de novo o Natal e, ao
mesmo tempo, para que, com a lembrança da primeira vinda de Deus feito homem ao
mundo, estejamos atentos a essas outras vindas do Senhor: no fim da vida de
cada um e no fim dos tempos. Por isso o Advento é o tempo de preparação e de
esperança.
A palavra
ADVENTO significa “Vinda”, chegada: nos faz relembrar e reviver as primeiras
etapas da História da Salvação, quando os homens se preparam para a vinda do
Salvador, a fim de que também nós possamos preparar hoje em nossa vida a vinda
de Cristo por ocasião do Natal.
Diz o profeta
Jeremias: Eis que outros dias virão. E nesses dias e nesses tempos farei nascer
de Davi um rebento justo que exercerá o direito e a equidade na terra, diz Deus
a seu povo. Essa palavra revela um esquema constante da ação de Deus: Deus
promete de antemão o que vai realizar e realiza fielmente tudo o que prometeu.
A promessa, portanto, é para o homem, para que possa reconhecer o que vem de
Deus, para que possa ouvi-lo com fé e testemunhá-lo com força. Este é o motivo
verdadeiro e profundo pelo qual o Antigo Testamento é sempre atual inclusive
para nós cristãos, que continuamos a lê-lo em nossas assembleias; ele confirma
que a salvação operada por Cristo vem do mesmo Deus que a anunciara pelos
profetas e demonstra a unidade do plano divino da salvação.
O evangelho
nos leva em cheio ao “centro dos tempos”, isto é, a Jesus Cristo. Aquela vinda
de Deus junto aos homens tão esperada se realizou nele: Deus voltou os olhos
para o seu povo (Lc 7,16). Mas a história não parou: o tempo “se cumpriu”, mas
não se completou ainda! É Jesus mesmo que orienta o homem e a Igreja para a
espera de outra vinda: Então, verão o Filho do Homem vir sobre uma nuvem com
grande glória e majestade (Lc 21,27). A primeira vinda na plenitude dos tempos
aconteceu na humildade e no sofrimento. A segunda, no fim dos tempos, será com
grande poder e glória. Nós vivemos nesta precisa situação determinada pela
vinda de Jesus, isto é, “na recordação” de sua encarnação e “na espera” de sua
parusia, entre um “já” e um “Não ainda”.
O apóstolo
Paulo sugere o que devemos fazer neste meio-tempo. Também o evangelho contém
preciosas indicações neste sentido: vigiar, rezar, não deixar que o coração
fique insensível por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida;
mas é, sobretudo, Paulo que tira as consequências práticas de tudo o que
ouvimos até agora. Ele viveu precisamente em nossa situação, isto é, na
recordação da passagem de Jesus sobre a terra e na espera “de sua vinda com
todos os santos.” A palavra-chave usada pelo apóstolo é: crescer! Este é o
tempo em que a semente acolhida no Batismo deve chegar à maturação,o tempo dado
a cada um, e à Igreja inteira, para alcançar a unidade da fé e do conhecimento
do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da
maturidade de Cristo (Ef 4,13).
As leituras
bíblicas, como se vê, tratam de muitos temas: a vinda de Cristo, a espera, a
vigilância, o crescimento, a necessidade de uma vida cristã sóbria e empenhada.
Preparemos o
caminho para o Senhor que chegará em breve; e se notarmos que a nossa visão
está embaçada e não distinguimos com clareza essa luz que procede de Belém, é o
momento de afastar os obstáculos. É tempo de fazer com especial delicadeza o
exame de consciência e de melhorar a nossa pureza interior para receber a Deus.
É o momento de discernir as coisas que nos separam do Senhor e de lançá-las
para longe de nós. Um bom exame de consciência deve ir até as raízes dos nossos
atos, até os motivos que inspiram as nossas ações. E logo buscar o remédio no
Sacramento da Penitência (Confissão)!
“Vigiai, não
sabeis em que dia o Senhor virá”. Não se trata apenas da “parusia”, mas também
da vinda do Senhor para cada homem no fim da sua vida, quando se encontrar face
a face com o seu Salvador; e será esse o dia mais belo, o princípio da vida
eterna! “Por isso, também vós ficai preparados! Porque na hora em que menos
pensais, o Filho do Homem virá” (Mt 24, 44). Toda a existência do homem é uma
constante preparação para ver o Senhor, que cada vez está mais perto; mas no
Advento a Igreja ajuda-nos a pedir de um modo especial: “Senhor, mostrai-me os
vossos caminhos e ensinai-me as vossas veredas. Dirigi-me na vossa verdade,
porque sois o meu Salvador” (Sl 24).
Para manter
este estado de vigília, é necessário lutar, porque a tendência de todo homem é
viver de olhos cravados nas coisas da terra.
Fiquemos
alertas! Assim será se cuidarmos com atenção da oração pessoal, que evita a
tibieza e, com ela, a morte dos desejos de santidade; estaremos vigilantes se
não abandonarmos os pequenos sacrifícios, que nos mantêm despertos para as
coisas de Deus. Diz-nos São Bernardo: “Irmãos, a vós, como às crianças, Deus
revela o que ocultou aos sábios e entendidos: os autênticos caminhos da
salvação. Aprofundai no sentido deste Advento. E, sobretudo, observai quem é
Aquele que vem, de onde vem e para onde vem; para quê, quando e por onde vem. É
uma curiosidade boa. A Igreja não celebraria com tanta devoção este Advento se
não contivesse algum grande mistério”
Procuremos
afastar os motivos que impedem a acolhida do Senhor:
– os prazeres da vida: a pessoa
mergulhada nos prazeres fica alienada... No domingo, dorme... passeia...
pratica esportes... mas não sobra tempo para a Missa.
– trabalho excessivo: a pessoa obcecada
pelo trabalho esquece o resto: Deus, a família, os amigos, a própria saúde...
Como desejo me
preparar para o Natal desse ano?
Apenas
programando festas, presentes, enfeites, músicas?
Preparemos
numa atitude de humildade e vigilância a chegada de Cristo que vem.
Para nossa
reflexão concluo com as palavras de S. Paulo: “Quanto a vós, o Senhor vos faça
crescer abundantemente no amor de uns para com os outros e para com todos, à
semelhança de nosso amor para convosco. Que ele confirme os vossos corações numa
santidade irrepreensível, diante de Deus, nosso Pai, por ocasião da vinda do
nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos. Enfim, irmãos, nós vos pedimos e
exortamos, no Senhor Jesus, que progridais sempre mais no modo de proceder para
agradar a Deus, Vós o aprendestes de nós, e já o praticais. Oxalá continueis
progredindo cada vez mais. Sabeis quais são as normas que vos temos dado da
parte do Senhor Jesus” ( 1Ts 3,12-4,2).
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