A Missão de Todos
Mons. José Maria Pereira
O Evangelho (Mc 9,38-48) relata-nos que João aproximou-se de Jesus
para dizer-lhe que tinham visto uma pessoa que expulsava os demônios em
nome d’Ele. Como não era do grupo que acompanhava o Mestre, tinham-no
proibido de fazê-lo.Jesus respondeu-lhes:”Não o proibais, pois ninguém
faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Estão com ciúme!
Jesus reprova a intransigência e a mentalidade exclusivista e estreita
dos discípulos, e abri-lhes o horizonte e o coração para um apostolado
universal, variado e diversificado.
Diz Jesus: “Quem não é
contra nós é a nosso favor.” E, para testemunhar que tudo aquilo que se
faz em Seu nome tem sempre algum merecimento, acrescenta: “Se alguém vos
der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem
receber a sua recompensa.” A mais insignificante obra de misericórdia
feita por amor a Cristo terá a recompensa, ainda que seja feita por
alguém que ainda não pertence à comunidade. E, se é feita em favor dos
irmãos ou de quem, na Igreja, é representante do Senhor, Ele aceitará e
recompensará como se fosse feita a Si mesmo (Mt 10, 40-42).
Quem vos der a beber um copo de água porque sois de Cristo, não
ficará sem receber a sua recompensa, disse Jesus. O valor e o mérito das
obras boas está principalmente no amor a Deus com que se realizam: “Um
pequeno ato, feito por Amor, quando não vale!” (Caminho, 814). Deus
recompensa, sobretudo, as ações de serviço aos outros, por pequenas que
pareçam: “Vês esse copo de água ou esse pedaço de pão que uma mão
caritativa dá a um pobre por amor de Deus? Pouca coisa é na realidade e
quase não estimável para o juízo humano; mas Deus recompensa-o e concede
imediatamente por isso aumento a caridade” (Tratado do amor de Deus,
livro 3, cap. 2).
Jesus, depois de ter ensinado a
obrigação de evitar o escândalo aos outros, coloca agora as bases da
doutrina moral cristã sobre a ocasião de pecado; a doutrina do Senhor é
imperiosa: o homem está obrigado a afastar e evitar a ocasião próxima de
pecado, como o próprio pecado, segundo o que já tinha dito Deus no
Antigo Testamento: “O que ama o perigo cairá nele” (Eclo 3, 26-27). O
bem eterno da nossa alma é superior a qualquer estima de bens temporais.
Portanto, tudo aquilo que nos põe em perigo próximo de pecado deve ser
cortado e arrancado de nós. Esta forma de falar – tão gráfica- do Senhor
deixa bem claro a gravidade dessa situação.
Nós, cristãos, não
temos mentalidade de partido único, de quem condena formas apostólicas
diferentes daquelas que, por formação e modo de ser, se sente chamado a
realizar. A única condição -dentro da grande variedade de modos de levar
Cristo às almas - é a unidade no essencial, naquilo que pertence ao
núcleo fundamental da Igreja.
Quais os critérios para
discernirmos se uma determinada associação mantém a comunhão com a
Igreja? Entre os critérios, diz o São João Paulo II, encontra-se a
primazia
que se deve dar à vocação de cada cristão para a santidade, que tem
como fruto principal a plenitude de vida cristã e a perfeição da
caridade. Neste sentido, as associações de leigos estão chamadas a ser
instrumento de santidade na Igreja.
Outro critério apontado pelo
Papa é o apostolado, que deve antes de mais nada proclamar a verdade
sobre Cristo, sobre a Igreja e sobre o homem, em filial obediência ao
Magistério da Igreja que a interpreta autenticamente. Trata-se de uma
participação no fim sobrenatural da Igreja, que tem como objetivo a
salvação de todos os homens. Todos os cristãos participam desse único
fim missionário...
Se somos cristãos verdadeiros, embora às
vezes sejamos muito diferentes uns dos outros, nos sentiremos
comprometidos a levar para Deus a sociedade em que vivemos e da qual
fazemos parte. E nos será fácil aceitar modos de ser e de atuar bem
diferentes dos nossos. Como nos alegramos de que o Senhor seja anunciado
de formas tão diversas! Isto é o que realmente importa: que Cristo seja
conhecido e amado.
O Evangelho (Boa Nova) deve chegar a todos
os cantos da terra! E para o cumprimento desta tarefa, o Senhor conta
com a colaboração de todos: homens e mulheres, sacerdotes e leigos,
jovens e anciãos, solteiros e casados, religiosos... conforme tenham
sido chamados por Deus, com iniciativas que nascem da riqueza da
inteligência humana e do impulso sempre novo do Espírito Santo.
Todo cristão é chamado a dilatar o Reino de Cristo, e qualquer
circunstância é boa para levar a cabo essa tarefa. Diz o Concílio
Vaticano II: “onde quer que o Senhor abra uma porta à palavra para
proclamar o mistério de Cristo a todos os homens, anuncie-se com
confiança e sem cessar o Deus vivo e Jesus Cristo, enviado por Ele para a
salvação de todos” (Decreto Ad Gentes,13).
“Conservemos a doce e
reconfortante alegria de evangelizar, mesmo quando temos de semear
entre lágrimas” (Papa Paulo VI, Evangelii Nuntiandi).
Nós, que
recebemos o dom da fé, sentimos a necessidade de comunicá-la aos outros,
fazendo-os participar do grande achado da nossa vida. Esta missão como
se vê na vida dos primeiros cristãos, não é da competência exclusiva dos
pastores de almas, mas tarefa de todos, de cada um segundo as suas
circunstâncias particulares e a chamada que recebeu do Senhor.
É
nesta direção que o Doc. de Aparecida nos aponta: “Conhecer a Jesus
Cristo pela fé é nossa alegria; segui-Lo é uma graça, e transmitir este
tesouro aos demais é uma tarefa que o Senhor nos confiou ao nos chamar e
nos escolher” (A,18)
Celebramos hoje o DIA DA BÍBLIA.
A
Palavra de Deus sempre nos oferece uma luz para as mais diversas
situações de nossa vida. “Por isso, como discípulos e missionários de
Jesus, queremos e devemos proclamar o Evangelho, que é o próprio Cristo.
Os cristãos somos portadores de boas novas para a humanidade, não
profetas de desventuras” (Doc. de Aparecida,30).
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