quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Homilía Dominical dia 19/09/2015 Mc 9, 30-37





Quem é o maior?
Mons. José Maria Pereira

            No Evangelho (Mc 9, 30-37), São Marcos relata-nos que Jesus atravessa a Galiléia com os discípulos, e pelo caminho anuncia-lhes sua paixão e morte e dá-lhes uma lição de humildade e serviço.
            Dizia-lhes com toda a clareza: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão, e Ele ressuscitará ao terceiro dia”. Mas os discípulos, que tinham formado outra ideia acerca do futuro reino do Messias, não compreendiam estas palavras e temiam interrogá-lo. Enquanto Jesus anuncia a sua paixão um fato que nos chama a atenção é atitude dos discípulos que discutem entre si “qual deles era o maior.”
            Por isso, ao chegarem a Cafarnaum, quando estavam em casa, Jesus questiona o assunto da conversa: “o que vocês estavam discutindo pelo caminho? Eles, porém, ficaram calados, pois pelo caminho tinham discutido quem era o maior.”
            Como naquele momento com os apóstolos, hoje também, Jesus precisa colocar diante de nós uma criança e dizer-nos sempre de novo: “Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último e aquele que serve a todos. Aquele que receber uma destas crianças por causa de meu nome, a mim recebe” (Mc 9, 35-36).
            Jesus não nega o desejo existente no coração humano de ser grande, de ser o primeiro. Dá, porém, a chave para consegui-lo. Trata-se de imitar o Filho do Homem no seu mistério pascal. Morrer e ressuscitar, entregando-se por amor. Para ser o primeiro devemos ser o último , aquele que serve a todos. E para servir a todos é preciso morrer a si mesmo, aos próprios interesses, aos critérios de poder e de grandeza humanos.
            Servir a todos é acolher a uma criança pelo valor que nela existe, é empregar tempo no serviço àqueles que como uma criança no tempo de Cristo, e hoje, não têm importância, não podem dar recompensa, não têm meios de compensar as nossas ações feitas.
            Quem entendeu realmente este ensinamento de Jesus Cristo, começa a ver as coisas de modo diferente. Não mais na visão meramente humana. Em vez de pensar em si mesmo, começa a ver a necessidade do próximo.
            Para alcançarmos essa meta, para termos a visão sobrenatural das coisas, dos acontecimentos, precisamos da virtude da humildade. O que considera pouca coisa diante de Deus, o humilde, vê; o que está contente com o seu próprio valor não percebe o  sobrenatural.
            A humildade é uma virtude básica. É a virtude básica! “Pela senda da humildade vai-se a toda parte..., fundamentalmente ao Céu.” (Sulco, 282).
            A oração é verdadeira quando regada pela humildade. Esta é o fundamento da oração. De onde falamos nós ao rezar? Das alturas de nosso orgulho e vontade própria, ou das “profundezas” (Sl 130,14) de um coração humilde e contrito? Quem se humilha será exaltado. “Não sabemos o que pedir como convém” (Rm 8,26). A humildade é a disposição para receber gratuitamente o dom da oração; o “homem é um mendigo de Deus” (Santo Agostinho). “A oração é a elevação da alma a Deus ou o pedido a Deus dos bens convenientes”.
            Ensinou Santa Terezinha: “oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da Igreja.”
            Acredito ser oportuno meditar, fazer um exame de consciência para saber como estamos vivendo a virtude da humildade.
            Os santos nos ensinam a adquirir a virtude básica de nossa vida cristã!
            “Deixa-me que te recorde, entre outros, alguns sinais evidentes de falta de humildade: - pensar que o que fazes ou dizes está mais bem feito ou dito do que aquilo que os outros fazem ou dizem;                                                                                   - querer levar sempre a tua avante;
            -discutir sem razão ou – quando a tens – insistir com teimosia e de maus modos;
            - dar o teu parecer sem que to peçam, ou sem que a caridade o exija;
            -desprezar o ponto de vista dos outros;
            - não encarar todos os teus dons e qualidades como emprestados;
            -não reconhecer que és indigno de qualquer honra e estima, que não mereces sequer a terra que pisas e as coisas que possuis;
            - citar-te a ti mesmo como exemplo nas conversas;
            - falar mal de ti mesmo, para que façam bom juízo de ti ou te contradigam;
            - desculpar-te quando te repreendem;
            -ocultar ao Diretor algumas faltas humilhantes, para que não perca o conceito que faz de ti;
            -ouvir com complacência quando te louvam, ou alegrar-te de que tenham falado bem de ti;
            -doer-te de que outros sejam mais estimados do que tu;
            - negar-te a desempenhar ofícios inferiores;
            -procurar ou desejar singularizar-te;
            -insinuar na conversa palavras de louvor próprio ou que deem a entender a tua honradez, o teu engenho ou habilidade, o teu prestígio profissional...;
            -envergonhar-te por careceres de certos bens...(São Josemaria Escrivá, Sulco, 263).  
            Deus resiste aos soberbos! “... dispersou os que têm planos orgulhosos... e exaltou os humildes” (Lc 1, 51-52).
            Peçamos continuamente: “Jesus manso e humilde de coração fazei o nosso coração semelhante ao vosso”!
            “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos” (Mc 9, 35).
            Maior é aquele que serve! Na comunidade cristã, a única grandeza é a grandeza de quem, com humildade e simplicidade, faz da própria vida um serviço aos irmãos.
            Aquilo que nos deve mover é a vontade de servir e de partilhar com os irmãos os dons que Deus nos concedeu.


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