Quem é o maior?
Mons. José Maria Pereira
No
Evangelho (Mc 9, 30-37), São Marcos relata-nos que Jesus atravessa a Galiléia
com os discípulos, e pelo caminho anuncia-lhes sua paixão e morte e dá-lhes uma
lição de humildade e serviço.
Dizia-lhes
com toda a clareza: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e
eles o matarão, e Ele ressuscitará ao terceiro dia”. Mas os discípulos, que
tinham formado outra ideia acerca do futuro reino do Messias, não compreendiam
estas palavras e temiam interrogá-lo. Enquanto Jesus anuncia a sua paixão um
fato que nos chama a atenção é atitude dos discípulos que discutem entre si
“qual deles era o maior.”
Por
isso, ao chegarem a Cafarnaum, quando estavam em casa, Jesus questiona o
assunto da conversa: “o que vocês estavam discutindo pelo caminho? Eles, porém,
ficaram calados, pois pelo caminho tinham discutido quem era o maior.”
Como
naquele momento com os apóstolos, hoje também, Jesus precisa colocar diante de
nós uma criança e dizer-nos sempre de novo: “Se alguém quiser ser o primeiro,
seja o último e aquele que serve a todos. Aquele que receber uma destas
crianças por causa de meu nome, a mim recebe” (Mc 9, 35-36).
Jesus
não nega o desejo existente no coração humano de ser grande, de ser o primeiro.
Dá, porém, a chave para consegui-lo. Trata-se de imitar o Filho do Homem no seu
mistério pascal. Morrer e ressuscitar, entregando-se por amor. Para ser o
primeiro devemos ser o último , aquele que serve a todos. E para servir a todos
é preciso morrer a si mesmo, aos próprios interesses, aos critérios de poder e
de grandeza humanos.
Servir
a todos é acolher a uma criança pelo valor que nela existe, é empregar tempo no
serviço àqueles que como uma criança no tempo de Cristo, e hoje, não têm
importância, não podem dar recompensa, não têm meios de compensar as nossas
ações feitas.
Quem
entendeu realmente este ensinamento de Jesus Cristo, começa a ver as coisas de
modo diferente. Não mais na visão meramente humana. Em vez de pensar em si
mesmo, começa a ver a necessidade do próximo.
Para
alcançarmos essa meta, para termos a visão sobrenatural das coisas, dos
acontecimentos, precisamos da virtude da humildade. O que considera pouca coisa
diante de Deus, o humilde, vê; o que está contente com o seu próprio valor não
percebe o sobrenatural.
A
humildade é uma virtude básica. É a virtude básica! “Pela senda da humildade
vai-se a toda parte..., fundamentalmente ao Céu.” (Sulco, 282).
A oração é verdadeira quando regada
pela humildade. Esta é o fundamento da oração. De onde falamos nós ao rezar?
Das alturas de nosso orgulho e vontade própria, ou das “profundezas” (Sl
130,14) de um coração humilde e contrito? Quem se humilha será exaltado. “Não
sabemos o que pedir como convém” (Rm 8,26). A humildade é a disposição para
receber gratuitamente o dom da oração; o “homem é um mendigo de Deus” (Santo
Agostinho). “A oração é a elevação da alma a Deus ou o pedido a Deus dos bens
convenientes”.
Ensinou Santa Terezinha: “oração é
um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de
reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da Igreja.”
Acredito
ser oportuno meditar, fazer um exame de consciência para saber como estamos
vivendo a virtude da humildade.
Os
santos nos ensinam a adquirir a virtude básica de nossa vida cristã!
“Deixa-me que te
recorde, entre outros, alguns sinais evidentes de falta de humildade: - pensar
que o que fazes ou dizes está mais bem feito ou dito do que aquilo que os
outros fazem ou dizem; - querer levar sempre a
tua avante;
-discutir sem razão
ou – quando a tens – insistir com teimosia e de maus modos;
- dar o teu parecer
sem que to peçam, ou sem que a caridade o exija;
-desprezar o ponto de
vista dos outros;
- não encarar todos
os teus dons e qualidades como emprestados;
-não reconhecer que
és indigno de qualquer honra e estima, que não mereces sequer a terra que pisas
e as coisas que possuis;
- citar-te a ti mesmo
como exemplo nas conversas;
- falar mal de ti
mesmo, para que façam bom juízo de ti ou te contradigam;
- desculpar-te quando
te repreendem;
-ocultar ao Diretor
algumas faltas humilhantes, para que não perca o conceito que faz de ti;
-ouvir com
complacência quando te louvam, ou alegrar-te de que tenham falado bem de ti;
-doer-te de que outros
sejam mais estimados do que tu;
- negar-te a
desempenhar ofícios inferiores;
-procurar ou desejar
singularizar-te;
-insinuar na conversa
palavras de louvor próprio ou que deem a entender a tua honradez, o teu engenho
ou habilidade, o teu prestígio profissional...;
-envergonhar-te por
careceres de certos bens...(São Josemaria Escrivá, Sulco, 263).
Deus
resiste aos soberbos! “... dispersou os que têm planos orgulhosos... e exaltou
os humildes” (Lc 1, 51-52).
Peçamos
continuamente: “Jesus manso e humilde de coração fazei o nosso coração
semelhante ao vosso”!
“Se
alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a
todos” (Mc 9, 35).
Maior
é aquele que serve! Na comunidade cristã, a única grandeza é a grandeza de
quem, com humildade e simplicidade, faz da própria vida um serviço aos irmãos.
Aquilo
que nos deve mover é a vontade de servir e de partilhar com os irmãos os dons
que Deus nos concedeu.