O Que mancha o homem...
Mons. José Maria Pereira
O Evangelho (Mc 7, 1-8. 14-15. 21-23) mostra quando os fariseus e
alguns mestres da Lei se reuniram em torno de Jesus e lhe perguntaram
por que os discípulos não seguiam a tradição dos antigos, mas comiam o
pão sem lavar as mãos. Jesus, citando Isaías, lhes respondeu que eles
eram um povo que O honrava com os lábios, mas seu coração estava longe
dele. De nada adianta o culto que prestavam, pois as doutrinas que
ensinavam eram preceitos humanos. E concluiu, dizendo que eles tinham
abandonado o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens.
E, disse Jesus, que o que torna impuro o homem não é o que entra nele,
vindo de fora, mas o que sai de seu interior. Pois é de dentro do
coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos,
assassínios, adultérios, etc...
Deus olha o interior das pessoas e não as práticas exteriores e formais.
É hipocrisia lavar escrupulosamente as mãos ou dar importância a
qualquer outra exterioridade, se o coração estiver cheio de vícios.
As ações do homem procedem do coração. E se este está manchado, o homem inteiro fica manchado.
Jesus rejeita a mentalidade que se ocultava por trás daquelas
prescrições desprovidas de conteúdo interior, e ensina-nos a amar a
pureza de coração, que nos permitirá ver a Deus no meio das nossas
tarefas.
“Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8).
A pureza de alma – castidade e retidão interior nos afetos e
sentimentos- tem que ser plenamente amada e procurada com alegria e com
empenho, apoiando-nos sempre na graça de Deus. Só pode ser alcançada
mediante uma luta positiva e constante, prolongada ao longo de uma vida
que se mantém vigilante pelo exame de consciência diário; também fruto
de um grande amor à Confissão frequente bem feita, mediante a qual o
Senhor nos purifica e nos “lava” o coração, cumulando-nos da sua graça.
Com a ajuda da graça, é tarefa de todos os cristãos mostrar, com uma
vida limpa e com a palavra, que a castidade é uma virtude essencial a
todos – homens e mulheres, jovens e adultos-, e que cada um deve vivê-la
de acordo com as exigências do estado a que o Senhor o chamou; “é
exigência de amor. É a dimensão da sua verdade interior no coração do
homem, e sem ela não seria possível amar nem a Deus nem aos outros” (São
João Paulo II).
Essa pureza cristã, a castidade, sempre
constituiu uma das glórias da Igreja e uma das manifestações mais claras
da sua santidade. Hoje, como nos tempos dos
primeiros cristãos,
muitos homens e mulheres procuram viver a virgindade e o celibato no
meio do mundo – sem serem mundanos -, por amor do Reino dos Céus (Mt
19,12). E uma grande multidão de esposos cristãos vivem santamente a
castidade segundo o seu estado matrimonial. Como ensina a Igreja: “tanto
o matrimônio como a virgindade e o celibato são dois modos de expressar
e de viver o único mistério da Aliança de Deus com o seu povo”
(Familiaris Consortio, 16).
Façamos como oração, como
jaculatória, a prece que a liturgia dirige ao Espírito Santo, na festa
de Pentecostes: “Limpa na minha alma o que está sujo, rega o que se
tornou árido, sem fruto, cura o que está doente,dobra o que é rígido,
aquece o que está frio, dirige o que se extraviou.”
Sozinhos nós
não somos capazes de purificar nosso coração das intenções más e de
nos abrirmos de modo justo à novidade do Espírito: devemos confiar-nos,
para tanto, à força redentora de Cristo que se torna operante em nós, na
Eucaristia... Graças à Eucaristia, podemos dizer com ainda maior razão
aquilo que dizia Moisés: “Qual é a grande nação cujos deuses lhe são tão
próximos, como o Senhor nosso Deus?” (Dt 4,7).
Intensifiquemos
a leitura, a meditação da Palavra de Deus!
Possamos acolhê-La e colocá-La em prática! Ensina São Tiago: “Sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1,22).
Possamos acolhê-La e colocá-La em prática! Ensina São Tiago: “Sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1,22).
Como
ensinava S. Francisco de Assis: “O homem vale o que é diante de Deus e
nada mais.” Jesus desloca todo o sentido da lei do exterior para o
interior, da boca para o coração, de “fora” do homem para “dentro” do
homem, como diz retomando uma expressão de Isaías: “Este povo me honra
com os lábios, mas seu coração está longe de mim...” (Mc 7,6).
A
quem dirige Jesus todas essas observações? Somente aos fariseus de seu
tempo? Não! Diz-nos Jesus: “Escutai, TODOS, e compreendei...” (Mc 7,14).
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