sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Homilía Dominical dia 16/08/2015 - Lc 1,39-56



Assunção de Maria ao Céu
Mons. José Maria Pereira





No dia 15 de agosto a Igreja celebra a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, ou Nossa Senhora da Glória. Neste ano, no Brasil, celebraremos no domingo mais próximo, dia 16.
Diz o Prefácio da Solenidade que proclama maravilhosamente o mistério celebrado: “Hoje, a Virgem Maria, Mãe de Deus, foi elevada à glória do céu. Aurora e esplendor da Igreja triunfante, ela é consolo e esperança do vosso povo ainda em caminho, pois preservastes da corrupção da morte aquela que gerou de modo inefável o vosso próprio Filho feito homem, autor de toda a vida”.
            Todos irão ressuscitar. Cada qual, porém, em sua ordem: como primícias, Cristo; em seguida, os que forem de Cristo, na ocasião de sua vinda (1Cor 15,23).
            Entre aqueles que são do Cristo há uma pessoa que é “de Cristo” de modo único e inigualável: sua Mãe, aquela que o gerou como homem, que viveu com ele, partilhando a oração, as alegrias, os trabalhos e, sobretudo, ficando a seu lado ao pé da cruz. Para essa criatura Jesus não esperou o fim dos tempos para uni-la a si na glória; imediatamente depois de sua morte ela foi ao céu em corpo e alma. É esta uma convicção da Igreja, celebrada com uma festa muito antiga, mas a partir de 1º de novembro de 1950 a festa se tornou mais solene com a proclamação do Dogma da Assunção pelo papa Pio XII.
             O que diz para nós o mistério da Assunção? Maria é, também ela, de um modo diferente de Cristo, o primeiro fruto: as primícias da ressureição e da Igreja. Nela Deus traçou como que um esboço daquilo que, ao final, acontecerá para toda a Igreja. Porque toda a Igreja, no fim, tornada como ela imaculada e santa, será elevada ao céu!
            Em Maria, Deus quis mostrar quão grande e profunda foi a redenção operada por Cristo e a que tamanha glória pode conduzir a criatura que se deixa envolver inteiramente. Maria, por sua vez, nos ensina como chegar à glória que hoje contemplamos e nos abre o caminho. É um caminho traçado, em todo seu percurso, por duas linhas retas: “a fé e a humildade”.
            Bem-aventurada és tu que creste. Maria foi uma pessoa de fé, sempre; acreditou na encarnação e disse: Fiat- seja feita a vossa vontade; acreditou apesar do longo silêncio de Nazaré; acreditou no Calvário. Acreditou também quando tudo parecia estar sendo desmentindo pelos fatos, também quando não compreendia; deixou-se conduzir docilmente por Deus, como uma ovelha que segue o Cordeiro conduzido à imolação, como é definida num hino da liturgia bizantina (Romano, o Mélode).
            A humildade é a explicação do mistério de Maria e da sua eleição. Ela foi “cheia de graça” porque era vazia de si.
             Para que Deus possa realizar “grandes coisas” também em nós, para que possa conduzir-nos àquela glória final alcançada por Maria, é necessário, portanto, que nós também apresentemos estes dois requisitos: a fé e a humildade.
            Quem poderá ter uma fé pura e forte como a da Mãe de Jesus? Quem poderá alcançar a profundidade e a sinceridade da sua humildade? Ninguém! Podemos, porém, aproximar-nos dela, imitar-lhe a docilidade e a abertura a Deus. Podemos, sobretudo, rezar a ela: Aumentai nossa fé; ensinai-nos a permanecer na humildade “sob a poderosa – e paterna- mão de Deus”. É a oração que, levantando o olhar, lhe dirigimos neste dia, em que a liturgia no-la apresenta como Rainha sentada à direita do Rei.
            As leituras contemplam esta realidade. A 1ª Leitura (Ap 11, 19; 12, 1-10) apresenta uma mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés, e do Filho que ela deu à luz, um varão, que irá reger todas as nações. Nesta imagem a Mulher e o Filho representam Jesus Cristo e a Igreja, mais a mulher confunde-se também com Maria, pois nela realizou-se plenamente a Igreja.
            A 2ª Leitura (1 Cor 15, 20-27) completa a idéia da 1ª. Paulo, falando de Cristo, primícia dos ressuscitados, termina dizendo que, um dia, todos os que crêem terão parte na Sua glorificação, mas em proporção diversa: “Primeiro, Cristo, como os primeiros frutos da seara; e a seguir, os que pertencem a Cristo” (1 Cor 15, 23). Entre os cristãos, o primeiro lugar pertence, sem dúvida, a Nossa Senhora, que foi sempre de Deus, porque jamais conheceu o pecado. É a única criatura em quem o esplendor da imagem de Deus nunca se viu ofuscado; é a Imaculada Conceição, a obra prima e intacta da Santíssima Trindade em quem o Pai, o Filho e o Espírito Santo sentiram as suas complacências, encontrando nela uma resposta total ao Seu amor.
            A resposta de Maria ao amor de Deus ressoa no Evangelho (Lc 1, 35-56), tanto nas palavras de Isabel que exaltam a grande fé que levou Maria a aderir, sem vacilação alguma à vontade de Deus, como nas palavras da própria Virgem, que entoa um hino de louvor ao Altíssimo pelas maravilhas que realizou nela.
            Ela é a nossa grande intercessora junto do Altíssimo. Maria nunca deixa de ajudar os que recorrem ao seu amparo: “Nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tivesse recorrido à vossa proteção fosse por Vós desamparado”, rezava São Bernardo. Procuremos confiar mais na sua intercessão, persuadidos de que Ela é a Rainha dos céus e da terra, o refúgio dos pecadores, e peçamos-lhe com simplicidade: Mostrai-nos Jesus!
            A Assunção de Maria é uma preciosa antecipação da nossa ressurreição e baseia-se na ressurreição de Cristo, que transformará o nosso corpo corruptível, fazendo-o semelhante ao seu corpo glorioso. Por isso São Paulo recorda-nos (1 Cor 15, 20-26): “Se a morte veio por um homem (pelo pecado de Adão), também por um homem, Cristo, veio a ressurreição. Por Ele, todos retornarão à vida, mas cada um a seu tempo: como primícias, Cristo; em seguida, quando Ele voltar, todos os que são de Cristo; depois , os últimos, quando Cristo devolver a Deus Pai o seu reino...Essa vinda de Cristo, de que fala o Apóstolo, disse o Papa João Paulo II, “não devia por acaso cumprir-se, neste único caso (o da Virgem), de modo excepcional, por dizê-lo assim, imediatamente, quer dizer, no momento da conclusão da sua vida terrena? Esse final da vida que para todos os homens é a morte, a Tradição, no caso de Maria, chama-o com mais propriedade dormição.  Para nós, a Solenidade de hoje é como uma continuação da Páscoa, da Ressurreição e da Ascensão do Senhor.  E é, ao mesmo tempo, o sinal e a fonte da esperança da vida eterna e da futura ressurreição”.
            A Solenidade de hoje enche-nos de confiança nas nossas súplicas. Pois, diz São Bernardo, “subiu aos céus a nossa Advogada para, como Mãe do Juiz e Mãe de Misericórdia, tratar dos negócios da nossa esperança.” Ela alenta continuamente a nossa esperança. Ensina São Josemaria Escrivá: “Somos ainda peregrinos, mas a nossa Mãe precedeu-nos e indica-nos já o termo do caminho: repete-nos que é possível lá chegarmos, e que lá chegaremos, se formos fiéis. Porque a Santíssima Virgem não é apenas nosso exemplo: é auxílio dos cristãos. E ante a nossa súplica – mostra que és Mãe – , não sabe nem quer negar-se a cuidar dos seus filhos com solicitude maternal.
            Fixemos o nosso olhar em Maria, já assunta aos céus. Ela é a certeza e a prova de que os seus filhos estarão um dia com o corpo glorificado junto de Cristo glorioso. A nossa aspiração à vida eterna ganha asas ao meditarmos que a nossa Mãe celeste está lá em cima, que nos vê e nos contempla com o seu olhar cheio de ternura, com tanto mais amor quanto mais necessitados nos vê.
            No dia dedicado às Vocações Religiosas, Maria é apresentada como Modelo de pessoa consagrada e um “sinal” de Deus no mundo de hoje.




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