Assunção de Maria ao Céu
Mons. José Maria Pereira
No dia 15 de
agosto a Igreja celebra a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, ou Nossa
Senhora da Glória. Neste ano, no Brasil, celebraremos no domingo mais próximo,
dia 16.
Diz o Prefácio
da Solenidade que proclama maravilhosamente o mistério celebrado: “Hoje, a
Virgem Maria, Mãe de Deus, foi elevada à glória do céu. Aurora e esplendor da
Igreja triunfante, ela é consolo e esperança do vosso povo ainda em caminho,
pois preservastes da corrupção da morte aquela que gerou de modo inefável o
vosso próprio Filho feito homem, autor de toda a vida”.
Todos
irão ressuscitar. Cada qual, porém, em sua ordem: como primícias, Cristo; em
seguida, os que forem de Cristo, na ocasião de sua vinda (1Cor 15,23).
Entre aqueles que são do Cristo há uma
pessoa que é “de Cristo” de modo único e inigualável: sua Mãe, aquela que o
gerou como homem, que viveu com ele, partilhando a oração, as alegrias, os
trabalhos e, sobretudo, ficando a seu lado ao pé da cruz. Para essa criatura
Jesus não esperou o fim dos tempos para uni-la a si na glória; imediatamente
depois de sua morte ela foi ao céu em corpo e alma. É esta uma convicção da
Igreja, celebrada com uma festa muito antiga, mas a partir de 1º de novembro de
1950 a festa se tornou mais solene com a proclamação do Dogma da Assunção pelo
papa Pio XII.
O que diz para nós o mistério da
Assunção? Maria é, também ela, de um modo diferente de Cristo, o primeiro
fruto: as primícias da ressureição e da Igreja. Nela Deus traçou como que um
esboço daquilo que, ao final, acontecerá para toda a Igreja. Porque toda a
Igreja, no fim, tornada como ela imaculada e santa, será elevada ao céu!
Em Maria, Deus quis mostrar quão
grande e profunda foi a redenção operada por Cristo e a que tamanha glória pode
conduzir a criatura que se deixa envolver inteiramente. Maria, por sua vez, nos
ensina como chegar à glória que hoje contemplamos e nos abre o caminho. É um
caminho traçado, em todo seu percurso, por duas linhas retas: “a fé e a
humildade”.
Bem-aventurada és tu que creste.
Maria foi uma pessoa de fé, sempre; acreditou na encarnação e disse: Fiat- seja
feita a vossa vontade; acreditou apesar do longo silêncio de Nazaré; acreditou
no Calvário. Acreditou também quando tudo parecia estar sendo desmentindo pelos
fatos, também quando não compreendia; deixou-se conduzir docilmente por Deus,
como uma ovelha que segue o Cordeiro conduzido à imolação, como é definida num
hino da liturgia bizantina (Romano, o Mélode).
A humildade é a explicação do
mistério de Maria e da sua eleição. Ela foi “cheia de graça” porque era vazia
de si.
Para que Deus possa realizar
“grandes coisas” também em nós, para que possa conduzir-nos àquela glória final
alcançada por Maria, é necessário, portanto, que nós também apresentemos estes
dois requisitos: a fé e a humildade.
Quem poderá ter uma fé pura e forte
como a da Mãe de Jesus? Quem poderá alcançar a profundidade e a sinceridade da
sua humildade? Ninguém! Podemos, porém, aproximar-nos dela, imitar-lhe a
docilidade e a abertura a Deus. Podemos, sobretudo, rezar a ela: Aumentai nossa
fé; ensinai-nos a permanecer na humildade “sob a poderosa – e paterna- mão de
Deus”. É a oração que, levantando o olhar, lhe dirigimos neste dia, em que a
liturgia no-la apresenta como Rainha sentada à direita do Rei.
As
leituras contemplam esta realidade. A 1ª Leitura (Ap 11, 19; 12, 1-10)
apresenta uma mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés, e do Filho que
ela deu à luz, um varão, que irá reger todas as nações. Nesta imagem a Mulher e
o Filho representam Jesus Cristo e a Igreja, mais a mulher confunde-se também
com Maria, pois nela realizou-se plenamente a Igreja.
A
2ª Leitura (1 Cor 15, 20-27) completa a idéia da 1ª. Paulo, falando de Cristo,
primícia dos ressuscitados, termina dizendo que, um dia, todos os que crêem
terão parte na Sua glorificação, mas em proporção diversa: “Primeiro, Cristo,
como os primeiros frutos da seara; e a seguir, os que pertencem a Cristo” (1
Cor 15, 23). Entre os cristãos, o primeiro lugar pertence, sem dúvida, a Nossa
Senhora, que foi sempre de Deus, porque jamais conheceu o pecado. É a única
criatura em quem o esplendor da imagem de Deus nunca se viu ofuscado; é a
Imaculada Conceição, a obra prima e intacta da Santíssima Trindade em quem o
Pai, o Filho e o Espírito Santo sentiram as suas complacências, encontrando
nela uma resposta total ao Seu amor.
A
resposta de Maria ao amor de Deus ressoa no Evangelho (Lc 1, 35-56), tanto nas palavras
de Isabel que exaltam a grande fé que levou Maria a aderir, sem vacilação
alguma à vontade de Deus, como nas palavras da própria Virgem, que entoa um
hino de louvor ao Altíssimo pelas maravilhas que realizou nela.
Ela
é a nossa grande intercessora junto do Altíssimo. Maria nunca deixa de ajudar
os que recorrem ao seu amparo: “Nunca se ouviu dizer que algum daqueles que
tivesse recorrido à vossa proteção fosse por Vós desamparado”, rezava São
Bernardo. Procuremos confiar mais na sua intercessão, persuadidos de que Ela é
a Rainha dos céus e da terra, o refúgio dos pecadores, e peçamos-lhe com
simplicidade: Mostrai-nos Jesus!
A
Assunção de Maria é uma preciosa antecipação da nossa ressurreição e baseia-se
na ressurreição de Cristo, que transformará o nosso corpo corruptível,
fazendo-o semelhante ao seu corpo glorioso. Por isso São Paulo recorda-nos (1
Cor 15, 20-26): “Se a morte veio por um homem (pelo pecado de Adão), também por
um homem, Cristo, veio a ressurreição. Por Ele, todos retornarão à vida, mas
cada um a seu tempo: como primícias, Cristo; em seguida, quando Ele voltar,
todos os que são de Cristo; depois , os últimos, quando Cristo devolver a Deus
Pai o seu reino...Essa vinda de Cristo, de que fala o Apóstolo, disse o Papa
João Paulo II, “não devia por acaso cumprir-se, neste único caso (o da Virgem),
de modo excepcional, por dizê-lo assim, imediatamente, quer dizer, no momento
da conclusão da sua vida terrena? Esse final da vida que para todos os homens é
a morte, a Tradição, no caso de Maria, chama-o com mais propriedade dormição. Para nós, a Solenidade de hoje é como uma
continuação da Páscoa, da Ressurreição e da Ascensão do Senhor. E é, ao mesmo tempo, o sinal e a fonte da
esperança da vida eterna e da futura ressurreição”.
A
Solenidade de hoje enche-nos de confiança nas nossas súplicas. Pois, diz São
Bernardo, “subiu aos céus a nossa Advogada para, como Mãe do Juiz e Mãe de
Misericórdia, tratar dos negócios da nossa esperança.” Ela alenta continuamente
a nossa esperança. Ensina São Josemaria Escrivá: “Somos ainda peregrinos, mas a
nossa Mãe precedeu-nos e indica-nos já o termo do caminho: repete-nos que é
possível lá chegarmos, e que lá chegaremos, se formos fiéis. Porque a
Santíssima Virgem não é apenas nosso exemplo: é auxílio dos cristãos. E ante a
nossa súplica – mostra que és Mãe – , não sabe nem quer negar-se a cuidar dos
seus filhos com solicitude maternal.
Fixemos
o nosso olhar em Maria, já assunta aos céus. Ela é a certeza e a prova de que
os seus filhos estarão um dia com o corpo glorificado junto de Cristo glorioso.
A nossa aspiração à vida eterna ganha asas ao meditarmos que a nossa Mãe
celeste está lá em cima, que nos vê e nos contempla com o seu olhar cheio de
ternura, com tanto mais amor quanto mais necessitados nos vê.
No
dia dedicado às Vocações Religiosas, Maria é apresentada como Modelo de pessoa
consagrada e um “sinal” de Deus no mundo de hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário