XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B
(08/07/2018)
Basta-te a Minha Graça!
O Evangelho (Mc 6,1-6) mostra o ministério de Jesus junto às
multidões. Em vez da adesão, obtém a rejeição em sua terra natal. Nazaré era a
sua casa, a sua pátria, onde viviam os seus parentes e Ele era bem conhecido. E
foi rejeitado! Cheios de incredulidade dizem os nazarenos: “Não é Ele o
carpinteiro, filho de Mar?" E ficaram escandalizados por causa dele” (Mc 6,
3). Um orgulho secreto, baixo, mesquinho, impede-os de admitir que um como
eles, criado à vista de todos e de profissão humilde, possa ser um profeta, e
nada mais nada menos que o Messias, o Filho de Deus.
Este fato é compreensível, porque a familiaridade a nível
humano torna difícil ir além e abrir – se à dimensão divina. Eles têm dificuldade de acreditar que este Filho de um
carpinteiro seja Filho de Deus. O próprio Jesus dá como exemplo a experiência
dos profetas de Israel, que precisamente na sua pátria tinham sido objeto de
desprezo, e identifica – se com eles.
Devido a este fechamento espiritual,
Jesus não pôde realizar em Nazaré “milagre algum. Apenas curou alguns enfermos,
impondo – lhes as mãos” ( Mc 6, 5 ). Com efeito, os milagres de Cristo não são
uma exibição de poder, mas sinais de amor de Deus, que se realiza onde encontra
a fé do homem na reciprocidade. Escreve Orígines: “Do mesmo modo que para os
corpos existe uma atração natural da parte de uns para com os outros, como o
ferro atrai o ímã... também tal fé exerce uma atração sobre o poder divino” (
Comentário ao Evangelho de Mateus 10, 19 ).
E Jesus não fez ali milagres: não porque Lhe faltasse poder,
mas como castigo da incredulidade dos seus concidadãos. Deus quer que o homem
use da graça oferecida, de sorte que, ao cooperar com ela, se disponha a
receber novas graças. É o que expressa Santo Agostinho: “Deus que te criou sem
ti, não te salvará sem ti.”
O que aconteceu em Nazaré pode acontecer também hoje na
Igreja e com cada um de nós. É a falta de fé, incapaz de lançar uma luz superior
sobre as pessoas e os acontecimentos. Foi com esses olhos da fé que S. Paulo
encarava o seu ministério apostólico (2 Cor 12, 7-10). Sentia em si a fraqueza,
o pecado. Recebeu, porém, de Deus uma resposta: “Basta-te a minha graça, pois é
na fraqueza que a força se manifesta”. Ao contar com a ajuda de Deus,
tornava-se mais forte e isso fez que Paulo exclamasse: “Eis porque eu me
comprazo nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições e nas
angústias sofridas por amor a Cristo. Pois, quando eu me sinto fraco, é então
que sou forte” (2 Cor 12, 10). Na nossa fraqueza, experimentamos constantemente
a necessidade de recorrer a Deus e à fortaleza que nos vem dele. Quantas vezes
o Senhor nos terá dito na intimidade do nosso coração: Basta-te a minha graça,
tens a minha ajuda para venceres nas provas e dificuldades!
Por outro lado, as próprias dificuldades e fraquezas podem
converte-se num bem maior. São Tomás de Aquino explica que Deus pode permitir
algumas vezes certos males de ordem moral ou física para obter bens maiores ou
mais necessários. O Senhor nunca nos abandonará no meio das provocações. A
nossa própria debilidade ajuda-nos a confiar mais, a procurar com maior
presteza o refúgio divino, a pedir mais forças, a ser mais humildes: “Senhor, não
te fies de mim! Eu, sim, é que me fio de Ti. E ao vislumbrarmos na nossa alma o
amor, a compaixão, a ternura com que Cristo Jesus nos olha – porque Ele não nos
abandona -, compreenderemos em toda a sua profundidade as palavras de Apóstolo:
“… a força se manifesta na fraqueza! (2 Cor 12, 9); com fé no Senhor, apesar
das nossas misérias, seremos fiéis ao nosso Pai – Deus, e o poder divino
brilhará, sustentando-nos no meio da nossa fraqueza” (São Josemaria Escriva,
Amigos de Deus, nº 194).
Basta-te a minha graça. São palavras que o Senhor dirige
hoje a cada um de nós para que nos enchamos de fortaleza ante as provas que
tenhamos pela frente.
Quando a tentação, os contratempos ou o cansaço se tornarem
maiores, o demônio tratará de insinuar-nos a desconfiança, o desânimo, o
descaminho. Por isso, devemos hoje aprender a lição que São Paulo nos dá:
nessas situações, Cristo está especialmente presente com a sua ajuda; basta que
recorramos a Ele.
Mas, ao mesmo tempo, o Senhor pede que estejamos prevenidos contra a tentação e
que lancemos mão dos meios ao nosso alcance para vencê-la: a oração e a
mortificação voluntária; a fuga das ocasiões de pecado, pois “aquele que ama o
perigo nele perecerá!" (Eclo 3, 27); exercer com dedicação o trabalho, pelo
cumprimento exemplar dos deveres profissionais; horror a todo o pecado, por
pequeno que possa parecer; e, sobretudo, o esforço por crescer no amor a Cristo
e a Nossa Senhora.
Podemos tirar muito proveito das provas, tribulações e
tentações, pois nelas demonstramos ao Senhor que precisamos dEle e o amamos.
Quanto maior for a resistência do ambiente ou das nossas
próprias fraquezas, mais ajudas e graças Deus nos dará. Pois, assim a tentação
nos conduzirá à oração, à união com Deus e com Cristo: não será uma perda, mais
um lucro; “sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a
Deus” (Rm 8, 28).
Quanto maior for a resistência do ambiente ou das nossas
próprias fraquezas, mais ajudas e graças Deus nos dará. E a nossa Mãe do Céu
estará sempre muito perto de nós nesses momentos de maior necessidade: não
deixemos de recorrer à sua proteção maternal.
Aprendamos de Maria, nossa Mãe na fé, a reconhecer na
humanidade de Cristo a perfeita Revelação de Deus.
MONSENHOR JOSÉ MARIA PEREIRA
SCE REGIÃO RIO II
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