O Pão da Salvação
Mons. José Maria Pereira
A Palavra de
Deus, em Jo 6, 01 – 15, mostra-nos Jesus num lugar afastado, junto ao lago de
Genesaré, no meio de uma multidão de povos provenientes das cidades vizinhas. E
enquanto o Senhor falava, ninguém pensou no cansaço, nem nas horas que tinham
passado sem comer, nem na falta de provisões e na impossibilidade de obtê-las.
As palavras de Jesus tinham cativado a todos e ninguém se lembrou da fome nem
da hora de regressar. Mas Jesus compreende nossas necessidades materiais, e por
isso compadeceu-se também dos corpos exaustos daqueles que o tinham seguido. E
realiza o esplêndido milagre da multiplicação dos pães e dos peixes.
Eram cinco mil
homens, sem contar as mulheres e as crianças.
Depois de
mandar que se sentassem na relva, Jesus, tomando os cinco pães e os dois
peixes, levantando os olhos ao Céu, pronunciou a bênção e, partindo os pães os
deu aos discípulos e os discípulos às multidões. Todos comeram até ficarem
saciados. O Senhor cuida dos seus, dos que O seguem!
O relato do
Milagre começa com as mesmas palavras e descreve os mesmos gestos com que os
Evangelhos e São Paulo nos transmitem a instituição da Eucaristia (Mt 26, 26;
Mc 14, 22; Lc 22, 19; 1Cor 11, 25). Esse milagre, além de ser uma manifestação
da misericórdia divina de Jesus para com os necessitados, era figura da Sagrada
Eucaristia, da qual o Senhor falaria pouco depois, na sinagoga de Cafarnaum (Jo
6, 26 – 59). Assim o interpretaram muitos padres da Igreja.
O milagre
daquela tarde junto do lago manifestou o poder e o amor de Jesus pelos homens.
Poder e amor que hão de possibilitar também, ao longo da história, que o Corpo
de Cristo seja encontrado, sob as espécies sacramentais, pelas multidões dos
fiéis que O procurarão famintas e necessitadas de consolo. Como diz São Tomás
de Aquino: “... tomam-no um, tomam-no mil, tomam-no este ou aquele, mas não se
esgota quando O tomam...”.
São João
indica-nos que o milagre causou um grande entusiasmo naquela multidão que se
tinha saciado (Jo 6, 14). Refletia São Josemaria Escrivá: “Senhor, se aqueles
homens, por um pedaço de pão – embora o milagre da multiplicação tenha sido
muito grande –, se entusiasmam e te aclamam, que não devemos nós fazer pelos
muitos dons que nos concedeste, e especialmente porque te entregas a nós, sem
reservas, na Eucaristia ?(Forja, 304). O Concílio Vaticano II afirmou que o
sacrifício eucarístico é “fonte e centro de toda a vida cristã. Na Eucaristia
está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a
nossa Páscoa e o pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne
vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo” (L.G. 11 e PO. 5).
Na comunhão,
recebemos Jesus, Filho de Maria, que naquela tarde realizou o grandioso
milagre. Na Hóstia, possuímos o Cristo de todos os mistérios da Redenção: o
Cristo de Maria Madalena, do filho pródigo e da Samaritana, o Cristo
ressuscitado dos mortos, sentado à direita do Pai. Esta maravilhosa presença de
Cristo no meio de nós deveria revolucionar a nossa vida! Ele está aqui,
conosco: em cada cidade, em cada povoado...
Jesus,
realmente presente na Sagrada Eucaristia, dá a este sacramento uma eficácia
sobrenatural infinita. A Santíssima Eucaristia é a doação máxima que Jesus
Cristo fez de si mesmo, revelando-nos o amor infinito de Deus por cada homem.
Na Eucaristia, Jesus não dá “alguma coisa”, mas dá-se a si mesmo; entrega o seu
corpo e derrama o seu sangue. Graças à Eucaristia, a Igreja renasce sempre de
novo! Quanto mais viva for a fé eucarística no povo de Deus, tanto mais
profunda será a sua participação na vida eclesial por meio de uma adesão
convicta à missão que Cristo confiou aos seus discípulos.
Vimos no
relato do milagre que aquelas pessoas até se esqueceram da comida para não
perderem o contato com Jesus. Peçamos a graça de sempre procurarmos o Mestre,
desejar recebê-Lo na Eucaristia. Nós O encontramos na Sagrada Comunhão. Ele nos
espera a cada um! Não fica na expectativa de que lhe peçamos alguma coisa:
antecipa-se e cura-nos das nossas fraquezas, protege-nos contra os perigos,
contra as vacilações que pretendem separar-nos dEle, e dá vida ao nosso
caminhar. Cada Comunhão é uma fonte de graças, uma nova luz e um novo impulso
que, às vezes sem o notarmos, nos dá fortaleza para enfrentarmos com garbo
humano e sobrenatural a vida diária, a fim de que os nossos afazeres nos levem
até Ele.
“A piedade eucarística,
disse São João Paulo II, aproximar-vos-á cada vez mais do Senhor; e pedir-vos-á
o oportuno recurso à Confissão sacramental, que leva à Eucaristia, como a
Eucaristia leva a Confissão”. Recebendo a Eucaristia, podemos compreender o que
diz São Paulo: “Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rm 8, 35 – 39). Em
Cristo encontramos sempre a nossa fortaleza!
Podemos
concluir com a oração do dia “Ó Deus, sois o amparo dos que em vós esperam e,
sem vosso auxilio, ninguém é forte, ninguém é santo; redobrai de amor para
conosco, para que, conduzidos por vós, usemos de tal modo os bens que passam,
que possamos abraçar os que não passam (...).”
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