Basta-te a Minha Graça!
Mons.
José Maria Pereira
O Evangelho
(Mc 6,1-6) mostra o ministério de Jesus junto às multidões. Em vez da adesão,
obtém a rejeição em sua terra natal. Nazaré era a sua casa, a sua pátria, onde
viviam os seus parentes e Ele era bem conhecido. E foi rejeitado! Cheios de
incredulidade dizem os nazarenos: “Não é Ele o carpinteiro, filho de Maria...?
E ficaram escandalizados por causa dele” (Mc 6, 3). Um orgulho secreto, baixo,
mesquinho, impede-os de admitir que um como eles, criado à vista de todos e de
profissão humilde, possa ser um profeta, e nada mais nada menos que o Messias,
o Filho de Deus.
E Jesus não
fez ali milagres: não porque Lhe faltasse poder, mas como castigo da incredulidade
dos seus concidadãos. Deus quer que o homem use da graça oferecida, de sorte
que, ao cooperar com ela, se disponha a receber novas graças. É o que expressa
Santo Agostinho: “Deus que te criou sem ti, não te salvará sem ti.”
O que
aconteceu em Nazaré pode acontecer também hoje na Igreja e com cada um de nós.
É a falta de fé, incapaz de lançar uma luz superior sobre as pessoas e os
acontecimentos. Foi com esses olhos da fé que S. Paulo encarava o seu
ministério apostólico (2 Cor 12, 7-10). Sentia em si a fraqueza, o pecado.
Recebeu, porém, de Deus uma resposta: “Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza
que a força se manifesta”. Ao contar com a ajuda de Deus, tornava-se mais forte
e isso fez que Paulo exclamasse: “Eis porque eu me comprazo nas fraquezas, nas
injúrias, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias sofridas por amor
a Cristo. Pois, quando eu me sinto fraco, é então que sou forte” (2 Cor 12,
10). Na nossa fraqueza, experimentamos constantemente a necessidade de recorrer
a Deus e à fortaleza que nos vem dele. Quantas vezes o Senhor nos terá dito na
intimidade do nosso coração: Basta-te a minha graça, tens a minha ajuda para
venceres nas provas e dificuldades!
Por outro
lado, as próprias dificuldades e fraquezas podem converte-se num bem maior. São
Tomás de Aquino explica que Deus pode permitir algumas vezes certos males de
ordem moral ou física para obter bens maiores ou mais necessários. O Senhor
nunca nos abandonará no meio das provocações. A nossa própria debilidade
ajuda-nos a confiar mais, a procurar com maior presteza o refugio divino, a
pedir mais forças, a ser mais humildes: “Senhor, não te fies de mim! Eu, sim, é
que me fio de Ti. E ao vislumbrarmos na nossa alma o amor, a compaixão, a
ternura com que Cristo Jesus nos olha – porque Ele não nos abandona -,
compreenderemos em toda a sua profundidade as palavras de Apóstolo: “... a
força se manifesta na fraqueza! (2 Cor 12, 9); com fé no Senhor, apesar das
nossas misérias, seremos fiéis ao nosso Pai – Deus, e o poder divino brilhará,
sustentando-nos no meio da nossa fraqueza” (São Josemaria Escriva, Amigos de
Deus, nº 194).
Basta-te a
minha graça. São palavras que o Senhor dirige hoje a cada um de nós para que
nos enchamos de fortaleza ante as provas que tenhamos pela frente.
Quando a
tentação, os contratempos ou o cansaço se tornarem maiores, o demônio tratará
de insinuar-nos a desconfiança, o desânimo, o descaminho. Por isso, devemos
hoje aprender a lição que São Paulo nos dá: nessas situações, Cristo está
especialmente presente com a sua ajuda; basta que recorramos a Ele.
Mas, ao mesmo tempo, o
Senhor pede que estejamos prevenidos contra a tentação e que lancemos mão dos
meios ao nosso alcance para vencê-la: a oração e a mortificação voluntária; a
fuga das ocasiões de pecado, pois “aquele que ama o perigo nele perecerá! (Eclo
3, 27); exercer com dedicação o trabalho, pelo cumprimento exemplar dos deveres
profissionais; horror a todo o pecado, por pequeno que possa parecer; e,
sobretudo, o esforço por crescer no amor a Cristo e a Nossa Senhora.
Podemos tirar
muito proveito das provas, tribulações e tentações, pois nelas demonstramos ao
Senhor que precisamos dEle e o amamos.
Quanto maior
for a resistência do ambiente ou das nossas próprias fraquezas, mais ajudas e
graças Deus nos dará. Pois, assim a tentação nos conduzirá à oração, à união
com Deus e com Cristo: não será uma perda, mais um lucro; “sabemos que todas as
coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8, 28).
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