Vida Espiritual e Oração
Mons. José Maria Pereira
O Evangelho ( Mc 6, 30-34) mostra a preocupação de Jesus pelos seus
discípulos, cansados depois de uma missão apostólica pelas cidades e aldeias
vizinhas. “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco’’,
diz-lhes. E explica o Evangelista Marcos que eram tantos os que iam e vinham
que não tinham tempo para comer. Então foram, numa barca, retiraram-se à parte,
a um lugar deserto.
Vinde... e descansai um pouco,
diz-nos o Mestre. No descanso, longe de centrarmos a atenção no nosso eu,
também devemos procurar Cristo, porque o Amor não conhece férias. “ Em qualquer
lugar para onde o homem se dirija, se não se apoia em Deus, sempre achará dor,
adverte-nos Santo Agostinho: ao menos a dor de termos deixado o Senhor de lado.
Não devemos empregar os momentos
de lazer em não fazer nada. “ Descanso significa represar: acumular forças,
ideais, planos...Em poucas palavras: mudar de ocupação, para voltar depois- com
novos brios- aos afazeres habituais” ( Sulco, n°514). Esse deve produzir um
enriquecimento interior, consequência de se ter amado a Deus, de se ter cuidado
com esmero da vida de piedade ( oração, leitura bíblica, vida sacramental).
Às vezes muitos cristãos deixam
sua vida espiritual de lado ao escolherem, imprudentemente, lugares de férias
onde o ambiente moral se degradou de tal modo que um bom cristão não pode
frequentá-los, se deseja ser coerente.
O Senhor poderia dizer a muitos:
“Por que continuas a caminhar por estradas difíceis e penosas? O descanso não
está onde tu procuras. Fazes bem em procurar o que procuras; mas deve saber que
não está onde procuras. Procuras a vida feliz na região da morte. Não está ali!
Como é possível que haja vida feliz onde nem sequer há vida?” (Santo
Agostinho).
Cada domingo somos enviados à
missão; e também nós, como os discípulos, voltamos sempre de novo para junto de
Jesus, a fim de contar a Ele o que fizemos e ensinamos. E com Jesus
transformaremos a ação missionária em ação de graças. Faremos ressoar hoje a
voz de Jesus: Eu vos dou graças, ó Pai, Senhor do Céu e da terra, por tudo que
realizastes na semana que passou.
O Evangelho nos mostra a
necessidade de o evangelizador, o apóstolo, ficar a sós com Jesus, de retirar-se
para um lugar solitário. Não é possível comunicar o que não se tem. Daí a
necessidade dos momentos de oração, de um retiro espiritual. Jesus, após as
atividades apostólicas, retirava-se para as montanhas, onde permanecia em
oração durante a noite.
É impossível ter-se um apostolado
fecundo sem estas pausas reparadoras aos pés do Mestre, destinadas a cobrar
novas forças, não apenas físicas, mas sobretudo, espirituais. Pausa de oração e
de atenção interior para aprofundar a palavra do Senhor e encarna-la, cada vez
melhor, na própria vida.
Já ensinava São Josemaría Escrivá:
“... a tua vida de apóstolo vale o que valer a tua oração” ( Caminho, 83).
O Beato João Paulo II ao
apresentar as metas pastorais para o século XXI, disse: “ Em primeiro lugar,
não hesito em dizer que o horizonte para o qual deve tender todo caminho
pastoral é a santidade.Na verdade, colocar a programação pastoral sob o signo
da santidade é uma opção carregada de consequências. Significa exprimir a
convicção de que, se o Batismo é um verdadeiro ingresso na santidade de Deus
mediante a inserção em Cristo e a Habituação de seu Espírito, seria um
contrassenso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética
minimalista e uma religiosidade superficial. Para esta pedagogia da Santidade,
necessita-se um cristianismo que se destaque principalmente pela arte da
oração. Empenhar-se com maior confiança numa pastoral que dê todo espaço à
oração pessoal e comunitária significa respeitar um princípio essencial da
visão cristã da vida: O primado da graça” (Novo Millenio Ineunte,
números 30 e 32).
A exemplo do Mestre, saibamos nos
retirar para estarmos a sós com o Pai, em oração. “Quem não avança, recua”, diz
Santo Agostinho. A medida de como está nossa vida interior está no modo como
fazemos nossos momentos de oração. A vida que levamos é uma tradução da oração
que fazemos. Unidos ao Senhor pela oração sejamos os bons pastores que, cheios
de zelo, cuidam para que as ovelhas não se percam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário