sexta-feira, 10 de julho de 2015

Homilía Dominical dia 12/07/2015 - Mc 6,7-13



 Prioridade Pastoral
Mons. José Maria Pereira






O plano de salvação, apresentado hoje na segunda leitura (Ef. 1,3-14), pode servir, como ponto de partida, para a meditação sobre a liturgia da palavra. S. “Paulo remonta-se ao chamamento eterno dos crentes à salvação, abençoados em Cristo, eleitos “antes da criação do mundo”, predestinados por Deus a que nos tornássemos seus filhos”. Este grandioso desígnio de misericórdia realiza-se por meio de Cristo Jesus; o Seu sangue redime os homens do pecado e confere-lhes “a riqueza da Sua graça. Mas, exige também a colaboração de cada um: a fé e o empenho pessoal para ser, na caridade, santos e irrepreensíveis diante d’Ele.
            Ninguém pode pensar que tal chamada à salvação e à santidade se esgote, atendendo apenas ao próprio bem pessoal; não seria, pois, santidade cristã, que se realiza na caridade de Cristo, que deu a vida para a redenção da humanidade inteira, e na caridade do Pai celestial que abraça todos os homens.
            S. Paulo vai especificando cada uma das bênçãos ou benefícios que estão contidos no projeto (plano) eterno de Deus. A primeira destas bênçãos é a escolha, antes da criação do mundo, daqueles que iam fazer parte da Igreja.
            A escolha tem como fim “sermos santos e imaculados na Sua presença”.
            Com frequência S. Paulo chama aos cristãos “santos” (cf. Rm 1,7; 1 Cor 1,2; Fil. 1,1; Ef.5,26; etc.). São títulos que o cristão se transformou pelo Batismo.
            Todos os batizados são chamados a viver a santidade, como consequência do que realmente são: santos e fiéis. A santidade, portanto, é um presente de Deus que exige, ao mesmo tempo, o empenho do homem para o conseguir e desenvolver. Assim o ensina o Concílio Vaticano II: “É, pois, claro a todos, que os cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Na própria sociedade terrena, esta santidade promove um modo de vida mais humano. Para alcançar esta perfeição, empreguem os fiéis as forças recebidas segundo a medida em que as dá Cristo, a fim de que, seguindo as Suas pisadas e conformados à Sua imagem, obedecendo em tudo à vontade de Deus, se consagrem com toda a alma à glória do Senhor e ao serviço do próximo. Assim crescerá em frutos abundantes a santidade do povo de Deus, como patentemente se manifesta na história da Igreja, com a vida de tantos santos” (Lúmen Gentium, 40).
            A santidade que recebemos é um dom gratuito de Deus, sem mérito algum de nossa parte, já que ainda não existíamos quando Deus nos escolheu. Comenta São Josemaria Escrivá: “Escolheu-nos antes da constituição do mundo, a fim de sermos santos. Eu sei que isto não te enche de orgulho, nem contribuiu para que te consideres superior aos outros homens. Essa escolha, raiz do teu chamamento, deve ser a base da tua humildade. Costuma levantar-se porventura algum monumento aos pincéis dum grande pintor? Serviram para fazer obras primas, mas o mérito é do artista. Nós – os cristãos – somos apenas instrumentos do Criador do mundo, do Redentor de todos os homens” (Cristo que passa,1).
            Ao terminar o Jubileu do Ano 2000, São João Paulo II disse que: “espera-nos uma entusiasmante obra de retomada pastoral; uma obra que toca a todos”. E apontando para o Século XXI, afirma: “Como estímulo e orientação comum, desejo apontar algumas prioridades pastorais que a experiência do Grande Jubileu me fez ver com particular intensidade”. Em primeiro lugar, não hesito em dizer que o horizonte para o qual deve tender todo caminho pastoral é a santidade. Terminado o Jubileu, retoma-se o caminho comum; no entanto, apontar a santidade permanece mais que nunca uma urgência da pastoral.
            Por sua vez, o dom se traduz num dever que deve dirigir toda a existência cristã: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1 Ts 4,3).
            Na verdade, colocar a programação pastoral sob o signo da santidade é uma opção carregada de consequências. Significa exprimir a convicção de que, se o batismo é um verdadeiro ingresso na santidade de Deus mediante a inserção em Cristo e a habitação de seu Espírito, seria um contrassenso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial. Perguntar a um catecúmeno: “Queres receber o Batismo?” significa ao mesmo tempo pedir-lhe: “Queres fazer-te santo?” Significa colocar em sua estrada o radicalismo do Sermão da Montanha: “Sede perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48).
            Os caminhos da santidade são variados e apropriados à vocação de cada um. É hora de repropor a todos, com convicção, esta medida alta de vida cristã habitual: toda a vida da comunidade eclesial e das famílias cristãs deve apontar nesta direção. (Cf. Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte, nº 29-32).
            Ainda S. Paulo nos diz: “Deus chamou-nos com uma vocação santa, não por causa das nossas obras, mas em virtude do seu desígnio” (2 TM 1,9).
            “Assim concluímos com a oração desse domingo: Ó Deus, que mostrais a luz da verdade aos que erram para retomarem o bom caminho, dai a todos os que professam a fé rejeitar o que não convém ao cristão e abraçar tudo o que é digno desse nome”.




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