O Espírito do Batista!
Mons. José Maria Pereira
Advento! Tempo de se preparar para acolher o Senhor que vem!
Por mais escuro que esteja o horizonte à nossa frente, precisamos acreditar que
dias melhores virão, pois Deus é fiel e não abandona seu povo.
No segundo
domingo do Advento, João Batista aparece como uma voz no deserto, fazendo um
apelo à conversão, para preparar o caminho do Senhor!
Na linha da
pregação de João Batista (cf. Mc 1, 1-8), acodem-me à mente as palavras do
Profeta Isaías: “Uma voz exclama: abri no deserto um caminho para o Senhor [...]. Que todo vale seja aterrado, que toda
montanha e colina sejam abaixadas... Subi a uma alta montanha, para anunciar a
boa nova a Sião. Elevai com força a voz..., dizei às cidades de Judá: “Eis o
vosso Deus!” (Is 40, 1-5.9-11).
Marcos e
Isaías falam da mesma pessoa, porque “o nosso Deus” é um só e porque em Jesus
Cristo é Deus mesmo que “visitou o seu povo” (Lc 7,16).
Está na hora de retomar a boa notícia
sobre Jesus Cristo, Filho de Deus, para gritá-la com força (é o sentido do
Kerigma!) em Jerusalém e nas cidades de Judéia, isto é, na Igreja e fora da
Igreja.
João
Batista nos oferece um esplêndido exemplo de proclamação do Evangelho. O que o
Batista compreendeu a respeito de Jesus é que se trata de alguém de que ele não
é sequer digno de aproximar-se para desatar-lhe as sandálias; que é “o mais
forte”, aquele que batizará no Espírito Santo e que desafiará, por assim dizer,
o mundo a ferro e fogo!
João Batista
teve a capacidade de fazer sentir Cristo “perto”, às portas (Jo 1,26), como
alguém que está “no meio” dos homens e não como uma abstração mental; como
alguém que já tem na mão a pá (Mt 3,12) e se apresenta para atuar o juízo, por
isso não há mais tempo a perder. A força de seu anúncio estava em sua humildade
(Jo 3,30): Importa que ele cresça e eu diminua, em sua austeridade e em sua
coerência.
Hoje
precisamos de anúncios inspirados e corajosos, como os de Isaías e de João
Batista; diante deles o mundo não poderia ficar insensível, como acontece
quando se fala de Jesus Cristo só com sabedoria de palavras, com livros que não
acabam mais, mas sem a força e sem a coerência de vida.
Toda a essência da vida de João,
desde o seio materno, esteve subordinada a essa missão! João se entrega
totalmente nessa missão, dedicando-se a ela, não por gosto pessoal, mas por ter
sido concebido para isso. E vai realizar a sua missão até o fim, até dar a vida,
no cumprimento da sua vocação.
Foram
muitos os que conheceram Jesus graças ao trabalho apostólico do Batista. Os
primeiros discípulos seguiram Jesus por indicação expressa dele e muitos outros
se prepararam interiormente para segui-Lo,, graças à sua pregação.
É bela a
Vocação de João Batista! A vocação abarca a vida inteira e leva a fazer girar
tudo em torno da missão divina. Cada homem, no seu lugar e dentro das suas
próprias circunstâncias, tem uma vocação dada por Deus; de que ela se cumpra
dependem outras coisas queridas pela vontade divina!
“Eu sou a
voz que clama no deserto!” João Batista não é mais do que a voz, a voz que
anuncia Jesus. Essa é a sua missão, a sua vida, a sua personalidade. Todo o seu
ser está definido em função de Jesus, como teria que acontecer na nossa vida,
na vida de qualquer cristão. O importante da nossa vida é Jesus!
À medida
que Cristo se vai manifestando, João procura ficar em segundo plano, ir
desaparecendo. Dizia São Gregório: “João Batista perseverou na santidade porque
se conservou humilde no seu coração.”
Como
precursor, indica-nos o caminho que devemos seguir! Na ação apostólica pessoal-
enquanto preparamos os nossos amigos para que encontrem o Senhor-, devemos
procurar não ser o centro. O importante é que Cristo seja anunciado, conhecido
e amado.
Sem
humildade, não poderíamos aproximar os nossos amigos de Deus. E então a nossa
vida ficaria vazia.
Não somos
apenas precursores! Somos também
testemunhas de Cristo. Recebemos, com a graça batismal e a Crisma, o honroso
dever de confessar a fé em Cristo, com as nossas ações e com a nossa
palavra. Que tipo de testemunhas nós
somos? Como é o nosso testemunho cristão entre os nossos colegas, na família?
Temos que
dar testemunho e , ao mesmo tempo, apontar aos outros o caminho. “Também
conduzir-nos de tal maneira que, ao ver-nos, os outros possam dizer: este é
cristão porque não odeia, porque sabe compreender, porque não é fanático,
porque está acima dos instintos, porque é sacrificado, porque manifesta
sentimento de paz, porque ama” (É Cristo que passa, nº 122).
Nesse tempo
do Advento, encontramos muitas pessoas olhando em outra direção, de onde não
virá ninguém; ou onde outros estão debruçados sobre os bens materiais, como se
fossem o seu último fim; mas eles jamais satisfarão o seu coração! Cabe a nós apontar-lhes o Caminho. A todos!
Diz-nos Santo Agostinho: “Sabeis o que cada um de nós tem que fazer em casa,
com o amigo, com o vizinho, com os dependentes, com o superior com o inferior.
Não queirais, pois, viver tranquilos até conquistá-los para Cristo, porque vós
fostes conquistados por Cristo.”
A nossa
família, os amigos, os colegas de trabalho, as pessoas que vemos com
frequência, devem ser os primeiros a beneficiar-se do nosso amor por Deus. Com o exemplo e com a
oração, devemos chegar até mesmo àqueles com quem não temos ocasião de falar
habitualmente, porém, não devemos nos esquecer que é a graça de Deus, não as
nossas forças humanas, que consegue levar as almas ao Senhor!
Que o
Senhor nos ilumine para descobrirmos, em nossa vida, quais as estradas
tortuosas temos que endireitar para chegar até Ele. E quais os vales a preencher na vida
profissional, na vida espiritual, na vida familiar, na vida de comunidade?
Possamos
perceber que temos que abaixar nosso orgulho, nossa auto-suficiência!
Deus quer
servir-se de nós para preparar os homens de hoje para a vinda de Cristo no
Natal desse ano.
Temos o
mesmo espírito de João Batista?
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