O Melhor Presente
Mons. José Maria Pereira
O início da vida pública de Jesus, o começo de sua missão, é marcado
pelo chamamento (VOCAÇÃO) dos primeiros discípulos. O evangelho (Jo 1, 35-42)
nos fala da vocação de João e André. O chamado nasce do testemunho de João
Batista que aponta Jesus presente entre o povo: “Eis o cordeiro de Deus”. E
segue aquela cena comovente. Jesus volta-se para eles e pergunta: “Que estais
procurando?” Disseram: “Rabi, onde moras?” Disse-lhes: “Vinde e Vede”. Eles
foram e viram onde morava e permaneceram com Ele aquele dia. O encontro causou
tal impressão que o evangelista nunca mais esqueceu a hora.
A experiência do encontro com Cristo faz de André, um dos dois que O
haviam seguido, um apóstolo: Encontrou seu irmão Simão e lhe disse:
“Encontramos o Messias”. Ele o conduziu a Jesus!
Coisa maravilhosa! André conduz Pedro a Jesus. A experiência do convívio
com Jesus transforma as pessoas em apóstolos! Todo o Cristão de acordo com o
seu estado de vida, é um chamado a seguir Jesus, à santidade, ao apostolado.
Será que nossa experiência de encontro com Cristo, o Messias, é tão
forte que sejamos capazes de conduzir outras pessoas a Jesus? Cada Domingo
deveria repetir-se esta experiência do nosso encontro com Jesus Cristo, na
Eucaristia, na escuta da Palavra, no encontro com os irmãos...
A Liturgia, além da vocação dos primeiros discípulos, apresenta-nos a
vocação de Samuel (1Sm 3, 3-10. 19). No silêncio da noite Samuel se encontra
com Deus que o chama.
A vocação é sempre uma iniciativa misteriosa e gratuita de Deus.
Seguir o Senhor, tanto naquela época como hoje, significa entregar-lhe o
coração, o mais íntimo, o mais profundo do nosso ser, a nossa própria vida.
Entende-se, pois, que para corresponder ao chamamento de Jesus, seja necessário
guardar a castidade e purificar o coração. É São Paulo que nos ensina: “Fugi da
fornicação... Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que
habita em vós, que o recebestes de Deus e que, portanto, não vos pertenceis?
Fostes comprados por um grande preço. Glorificai a Deus no vosso corpo” (1Cor
6, 13-15; 17-20). Jamais ninguém como a Igreja ensinou a dignidade do corpo. “A
pureza é glória do corpo humano perante Deus. É a glória de Deus no corpo
humano” (São João Paulo II).
A castidade, fora ou dentro da vida matrimonial, segundo o estado e a
peculiar vocação recebida por cada um, é absolutamente necessária para se poder
seguir a Cristo e exige, juntamente com a graça divina, uma grande luta e
esforço pessoais. As feridas do pecado original (na inteligência, na vontade,
nas paixões e nos afetos), que não desaparecem com o Batismo, introduziram um
princípio de desordem na nossa natureza: a alma, de maneiras muito diversas,
tende a rebelar-se contra Deus, e o corpo resiste a submeter-se à alma; os
pecados pessoais revolvem o fundo ruim que o pecado original deixou em nós e
aumentam as feridas que causou na alma.
Os atos de renúncia, ainda que sejam imprescindíveis, não são tudo na
guarda da castidade; a essência desta virtude é o amor: delicadeza e ternura
com Deus, respeito pelas pessoas, que devem ser encaradas como filhos de Deus.
A castidade “mantém a juventude do amor, em qualquer estado de vida” (São
Josemaria Escrivá, É Cristo que passa, nº 25).
Para seguirmos o Senhor com um coração limpo, é necessário que
pratiquemos um conjunto de virtudes humanas e sobrenaturais, apoiados sempre na
graça, que nunca nos há de faltar se a pedimos com humildade e se desenvolvemos
todos os esforços ao nosso alcance.
Entre as virtudes humanas, merece destaque a laboriosidade, o trabalho
constante e intenso; muitas vezes, os problemas de pureza são uma questão de
ociosidade ou de preguiça: “Cabeça vazia é oficina do diabo”. Também são
necessárias a valentia e a fortaleza, para fugirmos da tentação...; a
sinceridade na confissão e na direção espiritual.
Nenhum meio humano seria suficiente se não recorrêssemos ao trato íntimo
com o Senhor na Oração e na Eucaristia. Nelas encontramos sempre a ajuda
necessária, as forças que vêm em socorro da nossa fraqueza pessoal, no amor que
nos cumula o coração, criado para o que é eterno, e portanto sempre
insatisfeito com tudo o que há neste mundo. E o Sacramento da Penitência
(Confissão) purifica-nos a consciência, concede-nos as graças específicas do
sacramento para vencermos naquilo em que fomos vencidos, seja em matéria grave
ou leve.
Possamos corresponder ao chamado que o Senhor nos fez, com um coração
puro, e assim tenhamos o mesmo ardor missionário dos primeiros discípulos, que
partiram com entusiasmo para anunciar aos amigos o tesouro que encontraram! É o
que nos diz o Doc. de Aparecida, nº 29: “A alegria do discípulo não é um
sentimento de bem-estar egoísta, mas uma certeza que brota da fé, que serena o
coração e capacita para anunciar a boa nova do amor de Deus. Conhecer a Jesus é
o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-Lo encontrado foi o
melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-Lo conhecido com nossa palavra e
obras é nossa alegria”.
Cristo conta conosco!...
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