sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Homilía Dominical dia 30/11/2014 - Mc 13,33-37



Preparar o Natal
Mons. José Maria Pereira





Nesse domingo, inicia mais um Ano Litúrgico, no qual relembramos e revivemos os Mistérios da História da Salvação. A Igreja nos põe de sobreaviso com quatro semanas de antecedência a fim de que nos preparemos para celebrar de novo o Natal e, ao mesmo tempo, para que, com a lembrança da primeira vinda de Deus feito homem ao mundo, estejamos atentos a essas outras vindas do Senhor: no fim da vida de cada um e no fim dos tempos. Por isso o Advento é o tempo de preparação e de esperança.
A palavra ADVENTO significa “Vinda”, chegada: nos faz relembrar e reviver as primeiras etapas da História da Salvação, quando os homens se preparam para a vinda do Salvador, a fim de que também nós possamos preparar hoje em nossa vida a vinda de Cristo por ocasião do Natal.
Isaías fala com ênfase da era messiânica, quando todos os povos se hão de reunir em Jerusalém para adorarem o único Deus. Jerusalém é figura da Igreja, constituída por Deus “sacramento universal de salvação” (LG 48), que abre os seus braços a todos os homens para os conduzir a Cristo e para que, seguindo os seus ensinamentos, vivam como irmãos na concórdia e na paz. Cada cristão deve ser uma voz a chamar os homens, com a veemência de Isaías, à fé verdadeira e ao amor fraterno. Convida Isaías: “Vinde, e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor” (Is 2, 5).
No texto do Evangelho (Mc 13,33-37) ressoa o tema da espera, que suscita a solene palavra-chave: Vigiai! É uma palavra que faz de nós discípulos, sentinelas ou, como disse Jesus, porteiros. Será como um homem que, partindo em viagem, deixa a sua casa e delega sua autoridade aos seus servos (Mc 13, 34).
Esta parábola do porteiro, constituída de breves palavras, parece ser o núcleo originário da atual perícope evangélica. É uma das parábolas mais modernas do Evangelho; mais atual, talvez, hoje que no tempo de Jesus (raros palácios tinham então o porteiro e suas tarefas eram bem mais fáceis do que hoje!). A vida do porteiro num prédio moderno de cidade é realmente fechar as portas, vigiar quem sai e quem entra, cuidar para que não haja invasão de ladrões; enfim, vigiar sempre. Sua vida é uma vida de espera, ou melhor, de “atenção”. Originária do vocábulo latino ad-tendere, isto é, tender a, ou para alguma coisa, “atenção” é a palavra que reúne o sentido de todas as metáforas usadas por Jesus no contexto destes discursos escatológicos: Ficai de sobreaviso, vigiai! É viver concentrando a atenção não só da mente, mas também do coração e de toda a vida; viver tendendo para alguma coisa, prontos a captar todos os sinais que anunciam sua presença.
É muito oportuno que no início do Advento a Igreja dê um grande destaque àquelas palavras de São Paulo: Já é hora de despertardes do sono (Rm 13, 11).
O quadro visa reavivar a Esperança pelo novo dia que surgirá e motivar a Vigilância para reconhecer e acolher o Senhor que vem. O cristão, portanto, não vive só na espera de Cristo, mas também em comunhão com Cristo, isto é, na posse daquilo que espera. Isto nos recorda o tempo do Advento.
 É preciso “estar atento” a essa salvação que nos é oferecida e aceitá-la.
É preciso ter a vontade e a liberdade de acolher o dom de Jesus, deixar que Ele nos transforme o coração e se faça vida em nossos gestos e palavras.
Preparemos o caminho para o Senhor que chegará em breve; e se notarmos que a nossa visão está embaçada e não distinguimos com clareza essa luz que procede de Belém, é o momento de afastar os obstáculos. É tempo de fazer com especial delicadeza o exame de consciência e de melhorar a nossa pureza interior para receber a Deus. É o momento de discernir as coisas que nos separam do Senhor e de lançá-las para longe de nós. Um bom exame de consciência deve ir até as raízes dos nossos atos, até os motivos que inspiram as nossas ações. E logo buscar o remédio no Sacramento da Penitência (Confissão)!
“Vigiai, não sabeis em que dia o Senhor virá”. Não se trata apenas da “parusia”, mas também da vinda do Senhor para cada homem no fim da sua vida, quando se encontrar face a face com o seu Salvador; e será esse o dia mais belo, o princípio da vida eterna! Toda a existência do homem é uma constante preparação para ver o Senhor, que cada vez está mais perto; mas no Advento a Igreja ajuda-nos a pedir de um modo especial: “Senhor, mostrai-me os vossos caminhos e ensinai-me as vossas veredas. Dirigi-me na vossa verdade, porque sois o meu Salvador” (Sl 24).
Para manter este estado de vigília, é necessário lutar, porque a tendência de todo homem é viver de olhos cravados nas coisas da terra.
Fiquemos alertas! Assim será se cuidarmos com atenção da oração pessoal, que evita a tibieza e, com ela, a morte dos desejos de santidade; estaremos vigilantes se não abandonarmos os pequenos sacrifícios, que nos mantêm despertos para as coisas de Deus. Diz-nos São Bernardo: “Irmãos, a vós, como às crianças, Deus revela o que ocultou aos sábios e entendidos: os autênticos caminhos da salvação. Aprofundai no sentido deste Advento. E, sobretudo, observai quem é Aquele que vem, de onde vem e para onde vem; para quê, quando e por onde vem. É uma curiosidade boa. A Igreja não celebraria com tanta devoção este Advento se não contivesse algum grande mistério”
Procuremos afastar os motivos que impedem a acolhida do Senhor:
– os prazeres da vida: a pessoa mergulhada nos prazeres fica alienada... No domingo, dorme... passeia... pratica esportes... mas não sobra tempo para a Missa.
– trabalho excessivo: a pessoa obcecada pelo trabalho esquece o resto: Deus, a família, os amigos, a própria saúde...
Como desejo me preparar para o Natal desse ano?
Apenas programando festas, presentes, enfeites, músicas?
Preparemos numa atitude de humildade e vigilância a chegada de Cristo que vem.
Procuremos remover de nossa vida toda bagagem inútil que possa impedir os nossos passos para Cristo.
Escutemos São Paulo: “Fazei progressos ainda maiores! “ (1Ts 4, 1).


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