A Virgem e o Emanuel
Mons. José Maria
Pereira
No Quarto Domingo do Advento entra em cena Maria. Seu
Filho é o Deus conosco e já se faz presente, ainda de modo velado, mas real, no
seio da Virgem, que concebeu por obra do Espírito Santo (cf. Lc.1,26-38)
A
liturgia da palavra apresenta-nos hoje uma das mais importantes profecias
messiânicas e a sua realização. O rei Davi desejava construir uma casa, um
templo para o Senhor; mas o Senhor manda-lhe dizer, pelo profeta Natã, que a
Sua vontade é diferente: o próprio Senhor se preocupará da casa de Davi, isto
é, prolongando a sua descendência, porque dela nascerá o Salvador. A tua casa e
a tua realeza permanecerão diante de Mim para sempre. O teu trono será
consolidado eternamente (2 Sam 7,16). Muitas vezes, através das vicissitudes da
história, pareceu que a linhagem davídica esteve prestes a extinguir-se, mas
Deus salvou-a sempre até que dela nasceu José, esposo de Maria, da qual nasceu
Jesus, que se chama Cristo (Mt 1,16). O Senhor Deus dar-Lhe-á o trono do Seu
Pai Davi, reinará eternamente... e o Seu reino não terá fim (Lc 1, 32-33). Tudo
o que Deus tinha prometido se cumpriu apesar dos acontecimentos adversos da
historia, dos pecados dos homens e das culpas e impiedade dos próprios
sucessores de Davi. Deus é sempre fiel: Fiz uma aliança com o meu eleito, jurei
a Davi, Meu servo... Eternamente lhe assegurarei o Meu favor e a Minha aliança
com ele será fiel (Sl 89, 4.29).
Paralela
à fidelidade de Deus, a liturgia apresenta-nos a fidelidade de Maria, em quem
se cumpriram as Escrituras. Tudo estava previsto nos planos eternos de Deus e
tudo estava já preparado para a encarnação do Verbo no seio de uma virgem
descendente da casa de Davi; mas, no momento em que este projeto devia fazer-se
historia, o Pai das misericórdias quis que a aceitação, por parte da que Ele
predestinara para mãe, precedesse a encarnação (LG. 56). S. Lucas refere o
diálogo sublime entre o anjo e Maria e que termina com a humildade e
incondicional aceitação da Virgem: Eis a serva do Senhor, faça-se em mim
segundo a tua palavra” (Lc 1,38). O faça-se de Deus criou do nada todas as
coisas; o faça-se de Maria deu origem à redenção de todas as criaturas. Maria é
o templo da Nova Aliança, imensamente mais precioso do que aquele que Davi
desejava construir ao Senhor, templo vivo que encerra em si, não a arca santa,
mas o Filho de Deus. Maria é a fidelíssima, totalmente disponível à vontade do
Altíssimo; e, precisamente pela sua fidelidade, atualiza-se o mistério da
salvação universal em Cristo Jesus.
Nossa Senhora fomenta na
alma a alegria, porque, quando procuramos a sua intimidade, leva-nos a Cristo.
Ela é Mestra de esperança. Maria proclama que a chamarão bem-aventurada todas
as gerações (Lc. 1, 18).
Dentro de poucos dias
veremos Jesus reclinado numa manjedoura, o que é uma prova de misericórdia e do
amor de Deus. Poderemos dizer: “Nesta noite de Natal, tudo pára dentro de mim.
Estar diante dEle; não há nada mais do que Ele na branca imensidão. Não diz
nada, mas está aí... Ele é o Deus amando-me. E se Deus se faz homem e me ama,
como não procurá-Lo? Como perder a esperança de encontrá-Lo, se é Ele que me
procura? Afastemos todo o possível desalento; as dificuldades exteriores e a
nossa miséria pessoal não podem nada diante da alegria do Natal que se aproxima.
Faltam poucos dias para que
vejamos no presépio Aquele que os profetas predisseram, que a Virgem esperou
com amor de mãe, que João anunciou estar próximo e depois mostrou presente
entre os homens.
Desde o presépio de Belém
até o momento da sua Ascensão aos céus, Jesus Cristo proclama uma mensagem de
esperança. Ele é a garantia plena de que alcançaremos os bens prometidos.
Olhamos para a gruta de Belém, em vigilante espera, e compreendemos que somente
com Ele poderemos aproximar-nos confiadamente de Deus Pai.
Nas festas que celebramos
por ocasião do Natal, lutemos com todas as nossas forças, agora e sempre,
contra o desânimo na vida espiritual, o consumismo exagerado, e a preocupação
quase exclusiva pelos bens materiais. Na medida em que o mundo se cansar da sua
esperança cristã, a alternativa que lhe há de restar será o materialismo, do
tipo que já conhecemos; isso e nada mais. Por isso, nenhuma nova palavra terá
atrativo para nós se não nos devolver à gruta de Belém, para que ali possamos
humilhar o nosso orgulho, aumentar a nossa caridade e dilatar o nosso
sentimento de reverência com a visão de uma pureza deslumbrante.
O Espírito do Advento
consiste em boa parte em vivermos unidos à Virgem Maria neste tempo em que Ela
traz Jesus em seu seio.
A devoção a Nossa Senhora é
a maior garantia de que não nos faltarão os meios necessários para alcançarmos
a felicidade eterna a que fomos destinados. Maria é verdadeiramente “porto dos
que naufragam, consolo do mundo, resgate dos cativos, alegria dos enfermos” (Santo
Afonso M. de Ligório). Nestes dias que precedem o Natal e sempre, peçamos-lhes a
graça de saber permanecer, cheios de fé, à espera do seu Filho Jesus Cristo, o
Messias anunciado pelos Profetas.
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