A
Vinha: Frutos e Missão.
Mons.
José Maria Pereira
O Profeta Isaías (Is 5,
1-7) mostra como Deus manifestou o seu amor, os seus cuidados pela vinha, por
Israel, o povo eleito e a falta de correspondência a esse amor.Descreve Israel
como uma plantação de Deus, tratada com todos os cuidados possíveis: “Vou
cantar para o meu amado o cântico da vinha de um amigo meu: um amigo meu
possuía uma vinha em fértil encosta. Cercou-a, limpou-a de pedras, plantou
videiras escolhidas, edificou uma torre no meio e construiu um lagar: esperava
que ela produzisse uvas boas, mas produziu uvas azedas. O que poderia eu ter
feito a mais por minha vinha e não fiz?” (Is 5, 1-4)
A Palestina era um lugar rico em vinhedos, e os Profetas
recorreram com freqüência a essa imagem, tão conhecida por todos, para falar do
Povo eleito. Israel era a vinha de Deus, a obra do Senhor, a alegria do seu
coração. O próprio Senhor, como se lê em Mt 21, 33-43, referindo-se ao Profeta Isaías,
revela-nos a paciência de Deus, que manda os seus mensageiros, um após outro,
em busca de frutos. Por fim, envia o seu Filho amado, o próprio Jesus, que os
vinhateiros acabarão por matar: “E, lançando-lhe as mãos, puseram-no fora da
vinha e mataram-no.” É uma referência clara à crucifixão, que teve lugar fora
dos muros de Jerusalém.
A Vinha é certamente Israel, que não correspondeu aos
cuidados divinos; mas é também a Igreja, bem como cada um de nós: “Cristo é a
verdadeira videira, que dá vida e fecundidade aos ramos, quer dizer, a nós que
pela Igreja permanecemos nEle e sem Ele nada podemos fazer” (Jo 15, 1-5).
Meditemos hoje se o Senhor pode encontrar frutos
abundantes na nossa vida; abundantes porque é muito o que nos foi dado. Frutos
de caridade, de trabalho bem feito, de apostolado com os amigos e familiares;
jaculatórias, atos de amor de Deus e de desagravo ao longo do dia, ações de
graças, contrariedades acolhidas com paz, pequenos sacrifícios praticados
discretamente e com toda a naturalidade. Examinemos também se, ao mesmo tempo,
não produzimos essas uvas amargas que são os pecados, a tibieza, a mediocridade
espiritual, a desordem, as faltas de que não pedimos perdão ao Senhor...
A Vinha foi cercada, fez nela um lagar... A cerca, o
lagar e a torre significam que Deus não economizou nada para cultivar e
embelezar a sua vinha.
Esperava uvas boas e produziu uvas azedas. O pecado é o
fruto amargo das nossas vidas. A experiência das fraquezas pessoais ressalta
com demasiada evidência na história da humanidade e na de cada homem. “Ninguém
se vê inteiramente livre da sua fraqueza, solidão ou servidão. Antes pelo
contrário, todos precisam de Cristo modelo, mestre, libertador, salvador e
vivificador” (Ad Gentes, 8). Os nossos pecados estão inteiramente relacionados
com essa morte do Filho amado, de Jesus.
Para produzirmos
os frutos de vida que Deus espera diariamente de cada um de nós, temos em
primeiro lugar de pedir ao Senhor e fomentar uma santa aversão por todas as
faltas – mesmo veniais- que ofendem a Deus. Os descuidos na caridade, os juízos
negativos sobre esta ou aquela pessoa, as impaciências, os agravos não
esquecidos, a dispersão dos sentidos internos e externos, o trabalho mal
feito..., “ fazem muito mal à alma. Por isso, diz o Senhor no Cântico dos
Cânticos: caçai as pequenas raposas que destroem a vinha” (Caminho, 329). É
necessário que nos empenhemos continuamente em afastar tudo aquilo que não é
grato ao Senhor. A alma que detesta o pecado venial deliberado, pouco a pouco
vai crescendo em delicadeza e em finura no trato com o Mestre.
São Paulo (Fl 4, 6-9)
lembra que na nossa fraqueza é preciso que nos apoiemos na oração. Devemos
pedir a graça da fidelidade para que possamos dar muitos frutos, guardando
nossos corações e pensamentos, em Cristo Jesus.
Somos todos nós,
membros do Povo de Deus, a Igreja, que tem a missão de produzir seus frutos,
para não frustrar as esperanças do Senhor na hora da colheita.
Que frutos estamos produzindo para a realidade do Reino
de Deus? Nesse Mês Missionário, somos convidados a renovar com Deus a Aliança.
Se hoje não somos missionários, não é esse um sinal de que estamos sendo maus
vinhateiros?
“Ao chamar os seus para que O sigam, Jesus lhes dá uma
missão precisa: anunciar o Evangelho do Reino a todas as nações (cf. Mt 28, 19
; Lc 24, 46-48). Por isso, todo discípulo é missionário, pois Jesus o faz
partícipe de sua missão, ao mesmo tempo que o vincula como amigo e irmão.
Cumprir essa missão não é tarefa opcional, mas parte integrante da identidade
cristã, porque é a extensão testemunhal da Vocação mesma” (Aparecida, 144).
Nesta perspectiva consideremos e meditemos nas palavras
de S. Paulo: “Irmãos ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável,
justo, puro, amável, honroso,tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça
louvor; é o que deveis ter no pensamento” (Fl. 4,8).
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