O
Menino no Templo
Mons. José Maria
Pereira
A
Igreja celebra, 40 dias, após o Natal, a festa da Apresentação do Senhor.
Trata-se do dia em que Jesus foi apresentado ao Templo, por Maria e José, como
mandava a lei judaica. Só Simeão e Ana, movidos pelo Espírito Santo, reconhecem
o Messias naquele Menino.
O
encontro de Jesus com Simeão e Ana no templo de Jerusalém, aparece como o
símbolo de uma realidade muito maior e universal: a humanidade encontra seu
Deus na Igreja. Ouvimos do Profeta Malaquias ( Ml 3, 1-4) que prenunciava esse
encontro:” Eis que envio meu anjo, e ele há de preparar o caminho para mim;
logo chegará ao seu Templo o Senhor que buscais, o anjo da aliança que
desejais.” No Templo, Simeão reconheceu como Messias esperado a Jesus e o
proclamou Salvador e luz do mundo. Compreendeu que, doravante, o destino de
cada homem se decidia de acordo com a atitude assumida em relação a ele; Jesus
será causa ou de ruína ou de ressurreição.
Nossa
Senhora preparou o seu coração, como só Ela o podia fazer, para apresentar o
seu Filho a Deus Pai e oferecer-se Ela mesma com Ele. Ao fazê-lo, renovava o
seu faça-se (SIM) e punha uma vez mais a sua vida nas mãos de Deus. Jesus foi
apresentado ao Pai pelas mãos de Maria. Nunca se fez nem se tornaria a fazer
uma oblação semelhante naquele Templo.
A
festa de hoje convida-nos a entregar ao Senhor, uma vez mais, a nossa vida,
pensamentos, obras..., todo o nosso ser. E podemos fazê-lo de muitas maneiras.
A
liturgia desta festa quer manifestar, com efeito, que a vida do cristão é como
uma oferenda ao Senhor, traduzida na procissão dos círios acesos que se
consomem pouco a pouco, enquanto
iluminam. Cristo é profetizado como a Luz que tira da escuridão o mundo sumido
em trevas.
Seus
pais maravilharam-se do que se dizia d’ele. Maria, que guardava no seu coração
a mensagem do Anjo e dos pastores, escuta novamente admirada a profecia de
Simeão sobre a missão universal do
seu Filho: a criança que sustenta nos
seus braços é a Luz enviada por Deus Pai para iluminar todas as nações: é a
glória do seu povo.
É
um mistério ligado à oferenda feita no Templo e que nos recorda que a nossa
participação na missão de Cristo, que nos foi conferida no batismo, está
estritamente ligada à nossa entrega pessoal. A festa da Apresentação do Senhor
é um convite a darmo-nos sem medida, a “arder diante de Deus, como essa luz que
se coloca sobre o candelabro para iluminar os homens que andam em trevas; como
essas lamparinas que se queimam junto do altar, e se consomem iluminando até se
gastarem”. (São Josemaría Escrivá, Forja, 44). Meu Deus, dizemos hoje ao Senhor,
a minha vida é para Ti; não a quero se não for para gastá-la junto de Ti. Para
que outra coisa haveria de querê-la?
São
Bernardo recorda-nos que “está proibido apresentar-se ao senhor de mãos
vazias.” Simeão abençoou os pais do Menino e disse a Maria, a mãe de Jesus :
Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em
Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos
de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma” ( Lc 2,
34-35).
Jesus
traz a salvação a todos os homens; no entanto, para alguns será sinal de
contradição, porque se obstinam em rejeitá-Lo.
O
Evangelista São Lucas narra também que Simeão, depois de se referir ao Menino,
se dirigiu inesperadamente a Maria, vinculando de certo modo a profecia
relativa ao Filho com outra que se relacionava com a mãe: “ uma espada
atravessará a tua alma”. Com estas palavras do ancião, o nosso olhar desloca-se
do Filho para a Mãe, de Jesus para Maria. É admirável o mistério deste vínculo
pelo qual Ela se uniu a Cristo, àquele Cristo que é sinal de contradição.
Estas
palavras dirigidas à Virgem anunciavam que Ela estaria intimamente unida à obra
redentora do seu Filho. A espada a que Simeão se refere expressa a participação
de Maria nos sofrimentos do Filho; é uma dor indescritível, que atravessa a sua
alma. O Senhor sofreu na Cruz pelos nossos pecados; e esses mesmos pecados de
cada um de nós forjaram a espada de dor da nossa Mãe.
Podemos servir-nos das palavras de Santo
Afonso Maria de Ligório, invocando Maria como intercessora: “Minha Rainha,
seguindo o vosso exemplo, também eu queria oferecer hoje a Deus o meu pobre
coração...Oferecei-me como coisa vossa ao Pai Eterno, em união com Jesus, e
pedi-lhe que, pelos méritos do seu Filho, e em vossa graça, me aceite e me tome
por seu”.
Por
meio de Maria, o Senhor acolherá uma vez mais a entrega que lhe fizermos de tudo
o que somos e temos.
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