O Cristão: Lei Nova e Antiga
Mons. José Maria Pereira
(Mt
5,20-22a.27-28.33-34a.37)
O Senhor diz
no Evangelho (Mt 5, 17-37) que Ele não veio destruir a antiga Lei, mas dar-lhe
a sua plenitude; restaura, aperfeiçoa, e eleva a uma ordem superior os
preceitos do Antigo Testamento. Somos convidados a refletir sobre qual deve ser
a atitude do cristão diante da Lei de Deus e as implicações que a mesma tem nas
nossas opções de vida.
Só em Deus
poderemos conseguir a luz e a força, para alcançarmos o procedimento ideal que
nos conduzirá à verdadeira liberdade e à plena felicidade.
Jesus não veio
abolir a lei, mas levá-la à perfeição. Depois de ter anunciado os grandes
princípios da nova lei, nas bem-aventuranças, Jesus as desenvolve, aprofundando
o espírito dos mandamentos dados ao povo de Deus por Moisés. Trata-se de
cumprir não apenas materialmente os mandamentos, mas de dar-lhes o verdadeiro
espírito de justiça e de amor. Daí as palavras de Jesus: “Ouvistes o que foi
dito aos antigos; Eu, porém, vos digo” (Mt 5, 17-37). Isso em relação à vida, à
felicidade ao amor conjugal e à verdade. Não basta, por exemplo, não matar; é
preciso também evitar palavras de desamor, de ressentimento ou de desprezo para
com o próximo. Não basta privar-se dos atos materiais contra a lei; é preciso
eliminar também os maus pensamentos e os maus desejos, porque quem os consente,
já pecou no “seu coração” (Mt 5, 28): já assassinou o seu irmão ou cometeu adultério.
É preciso
superar a lei antiga, aperfeiçoá-la, isto é, tendo uma delicada atenção à
pureza interior...
“Se vossa
justiça não superar a dos escribas e fariseus...” (Mt 5, 20). Não se trata da
virtude da justiça que leva a “dar a cada um aquilo que lhe pertence”. Aqui
podia traduzir-se por santidade; a dos escribas é meramente externa e
ritualista. Entre eles, o cumprimento exato, minucioso, mas externo, dos
preceitos tinha-se convertido numa garantia de salvação do homem diante de
Deus: “se eu cumpri isto, sou justo, sou santo e Deus tem que me salvar”. Com
esse modo de conceber a justificação, já não é Deus fundamentalmente quem
salva, mas vem a ser o homem quem se salva pelas suas obras externas. A
justificação ou santificação é uma graça de Deus, com a qual o homem só pode
colaborar secundariamente pela sua fidelidade a essa graça.
Quanto à
verdade, diz Jesus: “Seja o vosso sim sim, e o vosso não não” (Mt 5, 37). O
cristão é chamado a ser transparente, simples. O contrário seria cheio de
dobras, complicado. Não é só não jurar em falso, mas viver de tal modo a
verdade, que não se precise jurar de modo algum. Fazer tudo em nome do Senhor,
no Senhor.
Jesus quer
inculcar a sinceridade sempre: “sim, sim; não, não!” Se partirmos do princípio
da sinceridade, há confiança mútua nas relações humanas e jurar torna-se coisa
supérflua; jurar a torto e a direito é um sintoma de falta de sinceridade entre
as pessoas.
A necessidade
de juramento é sinal de que a mentira e a desconfiança pervertem as relações
humanas. Deus Pai apenas exige um relacionamento em que as pessoas sejam
verdadeiras e responsáveis.
E nós, como
observamos os Mandamentos? Com o espírito do Antigo Testamento? (fazer isto ou
aquilo porque é lei, porque é “obrigado”?)
Porque vou à
Missa? Porque é um preceito?
“Se a vossa
justiça não for maior que a justiça dos mestres da lei e dos fariseus, vós não
entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5, 20).
“Quem me ama,
guarda os meus mandamentos”, disse Jesus.
Seja a nossa
observância uma expressão sincera e profunda do nosso amor para com Deus.
Peçamos a Deus a Graça de vivermos os seus mandamentos. “Se quiseres observar
os mandamentos, eles te guardarão; se confias em Deus, tu também viverás” (Eclo
15, 16). “A vida e a morte, o bem e o mal, estão diante do homem; o que ele
escolher, isso será dado” (Eclo 15, 16-18). É como quem diz: o que seguir a lei
divina, terá como recompensa a vida e o que não a seguir, espera-o a morte.
Tanto a vida como a morte eterna são a conseqüência da sua opção. O homem é
livre e, por isso, responsável das suas ações...
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