Ser Sal e Luz do Mundo
Mons. José Maria Pereira
No Evangelho (Mt 5, 13-16) o Senhor
fala-nos da nossa responsabilidade perante o mundo: Vós sois o sal da terra...
Vós sois a luz do mundo. E diz isso a cada um de nós; àqueles que queremos ser
seus discípulos.
Jesus proclama-se luz do mundo (Jo 9, 5).
Hoje Ele nos diz: “Vós sois a luz do mundo.” Só poderemos iluminar se tivermos
sido iluminados por Cristo. Jesus acrescenta que não se acende uma lâmpada para
colocá-la debaixo de um alqueire, mas no candelabro para que brilhe para todos
os que estão na casa. Jesus diz mais: “A vossa luz brilhe diante dos homens,
para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos
céus.” Portanto, a maneira concreta de sermos luz do mundo é pelas boas obras.
O sal dá sabor aos alimentos, torna-os
agradáveis, preserva da corrupção e era, no passado, um símbolo da sabedoria
divina. No Antigo Testamento, prescrevia-se que tudo que se oferecesse a Deus
devia estar condimentado com sal (cf. Lv 2, 13), para significar o desejo de
que a oferenda fosse agradável. A luz é a primeira obra da criação (Gn 1, 15),
e é o símbolo do Senhor, do Céu e da Vida. As trevas, pelo contrário,
significam a morte, o inferno, a desordem e o mal. Os discípulos de Cristo são
o sal da terra: dão um sentido mais alto a todos os valores humanos, evitam a
corrupção, trazem com as suas palavras a sabedoria aos homens. São também luz
do mundo, que orienta e indica o caminho no meio da escuridão. Quando os
cristãos vivem segundo a sua fé e têm um comportamento irrepreensível e
simples, brilham como astros no mundo (Fil 2, 15), no meio do trabalho e dos
seus afazeres, na sua vida normal.
Cristo deixou-nos a sua doutrina e a
sua vida para que os homens encontrassem o sentido da sua existência e achassem
a felicidade e a salvação. “Assim brilhe a vossa luz diante dos homens...” E
para isso é necessário, em primeiro lugar, o exemplo de uma vida reta, a pureza
de conduta, o exercício das virtudes humanas e cristãs na vida simples de todos
os dias. A luz, o bom exemplo, deve abrir caminho.
Perante a onda de materialismo e de
sensualidade que sufoca os homens, o Senhor “quer que das nossas almas saia
outra onda – branca e poderosa, como a mão do Senhor –, que afogue com a sua
pureza a podridão de todo o materialismo e neutralize a corrupção que inundou o
mundo: é para isso que vêm – e para mais – os filhos de Deus”: para levar
Cristo a tantos que convivem conosco, para que Deus não seja um estranho na
sociedade.
Transformaremos verdadeiramente o
mundo – a começar por esse pequeno mundo em que se desenvolve a nossa atividade
– na medida em que o ensinamento começar com o testemunho da nossa própria
vida.
O exemplo prepara a terra em que a
palavra frutificará. Sem cairmos em atitudes grotescas, impróprias de um
cristão corrente, podemos mostrar ao mundo o que significa seguir
verdadeiramente o Senhor na tarefa cotidiana, tal como fizeram os primeiros
cristãos. São Paulo dizia aos cristãos de Éfeso: “Eu vos exorto a que leveis
uma vida digna da vocação à qual fostes chamados...” (Ef 4, 1).
Devemos ser conhecidos como homens e
mulheres leais, simples, verazes, alegres, trabalhadores, otimistas; devemos
comportar-nos como pessoas que cumprem retamente os seus deveres e que sabem
atuar a todo o momento como filhos de Deus, que não se deixam arrastar por
qualquer vento. A vida do cristão constituirá então um sinal claro da presença
do espírito de Cristo na sociedade.
Por isso devemos refletir e
perguntar-nos com freqüência se os nossos colegas de trabalho, os nossos
familiares e amigos se vêem levados a glorificar a Deus quando presenciam as
nossas ações, porque vêem nelas a luz de Cristo. Seria um bom sinal de que em
nós há luz e não escuridão, amor a Deus e não tibieza.
Disse o Papa João Paulo II: “Ele tem
necessidade de vós. De alguma forma vós lhe emprestais os vossos rostos, o
vosso coração, toda a vossa pessoa, na medida em que vos entregais ao bem dos
outros e vos tornais servidores fiéis do Evangelho. Então é o próprio Jesus a
ficar bem; mas se fordes fracos e vis, obscureceis a sua autêntica identidade e
não o honrareis”. Não percamos nunca de vista esta realidade: os outros devem
ver Cristo no nosso comportamento diário, simples e sereno.
As nossas boas obras! Não vamos fazer
o bem para nos orgulhar, mas para a glória de Deus.
As boas ações, este colocar-se a
serviço do próximo, passa pelo mistério da Cruz (1Cor 2, 1-5).
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