O Emanuel e a Virgem
Mons. José Maria Pereira
No domingo que precede o Natal, o IV
Domingo do Advento, o Profeta Isaías nos diz: “O próprio Senhor vos dará um
sinal: Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de
Emanuel” (Is 7,14).
E no Evangelho (Mt 1,18-24) é
descrito que a profecia se cumpriu em Maria, que em sua virgindade deu à luz
Jesus Cristo. Tudo isto, comenta o Evangelista, aconteceu para se cumprir o que
o Senhor havia dito pelo profeta (Mt 1,22).
Os textos bíblicos nos introduzem no
coração do Natal. O mistério do Natal é este: Deus, em Jesus Cristo, se fez
Emanuel, o Deus conosco. De “Deus altíssimo” se tornou um Deus próximo, um Deus
para os homens. E esse é o novo nome com que será conhecido: Emanuel. O que significa
tudo isso? Deus estava com o homem desde a criação. Mas era um diálogo a
distância, feito por meio dos profetas. Havia entre Deus e o homem uma aliança,
mas difícil e precária. Em Cristo, Deus entrou pessoalmente na humanidade, em
carne e osso; fez-se um de nós, para nos falar e nos salvar por meio de nossa
situação de pecado. A aliança se tornou nova e eterna: eterna, porque as duas
partes – Deus e o homem – já são uma só pessoa, um ser não mais divisível:
Jesus Cristo.
Dentro de poucos dias veremos Jesus reclinado numa
manjedoura, o que é uma prova de misericórdia e do amor de Deus. Poderemos
dizer: “Nesta noite de Natal, tudo pára dentro de mim. Estar diante d’Ele; não
há nada mais do que Ele na branca imensidão. Não diz nada, mas está aí... Ele é
o Deus amando-me. E se Deus se faz homem e me ama, como não procurá-Lo? Como
perder a esperança de encontrá-Lo, se é Ele que me procura? Afastemos todo o
possível desalento; as dificuldades exteriores e a nossa miséria pessoal não
podem nada diante da alegria do Natal que se aproxima.
Faltam poucos dias para que vejamos no presépio Aquele que os
profetas predisseram, que a Virgem esperou com amor de mãe, que João anunciou
estar próximo e depois mostrou presente entre os homens.
Desde o presépio de Belém até o momento da sua Ascensão aos
céus, Jesus Cristo proclama uma mensagem de esperança. Ele é a garantia plena
de que alcançaremos os bens prometidos. Olhamos para a gruta de Belém, em
vigilante espera, e compreendemos que somente com Ele poderemos aproximar-nos
confiadamente de Deus Pai.
Nas festas que celebramos por ocasião do Natal, lutemos com
todas as nossas forças, agora e sempre, contra o desânimo na vida espiritual, o
consumismo exagerado, e a preocupação quase exclusiva pelos bens materiais. Na
medida em que o mundo se cansar da sua esperança cristã, a alternativa que lhe
há de restar será o materialismo, do tipo que já conhecemos; isso e nada mais.
Por isso, nenhuma nova palavra terá atrativo para nós se não nos devolver à
gruta de Belém, para que ali possamos humilhar o nosso orgulho, aumentar a
nossa caridade e dilatar o nosso sentimento de reverência com a visão de uma
pureza deslumbrante.
O Espírito do Advento consiste em boa parte em vivermos
unidos à Virgem Maria neste tempo em que Ela traz Jesus em seu seio.
A devoção a Nossa Senhora é a maior garantia de que não nos
faltarão os meios necessários para alcançarmos a felicidade eterna a que fomos
destinados. Maria é verdadeiramente “porto dos que naufragam, consolo do mundo,
resgate dos cativos, alegria dos enfermos” (Santo Afonso M. de Ligório). Nestes
dias que precedem o Natal e sempre, peçamos-Lhe a graça de saber permanecer,
cheios de fé, à espera do seu Filho Jesus Cristo, o Messias anunciado pelos
Profetas.
A Virgem Maria nos convida a admirar o que o Senhor operou
nela e a acreditar na vitória da vida onde nós só enxergamos sinais de morte.
No Natal, Deus vem ao encontro dos homens para oferecer a
Salvação. Esse encontro só será possível se tivermos o coração disponível para
O acolher e para abraçar a sua proposta.
Se como Maria e José abrirmos o coração para acolhermos a
mensagem de Deus, toda a nossa vida será um NATAL PERENE, um contínuo
DEUS-CONOSCO.
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