A Verdadeira Alegria
Mons. José Maria Pereira
Aproximando-se
o dia de Natal a Liturgia faz um convite à alegria! “Alegrai-vos sempre no
Senhor; eu repito,alegrai-vos” (Fl 4, 4-7), exorta S. Paulo.
O
mundo vive carente da verdadeira alegria!
Os
textos bíblicos do III Domingo do Advento são um convite muito forte a ALEGRIA,
porque o Senhor, que esperamos, já está conosco e com Ele preparamos o Advento
do seu Reino.
O
profeta Isaías (Is 35, 1-6.10) nos faz reviver a espera que precedeu a primeira
vinda de Cristo e as esperanças que a animaram. Isaías deseja despertar e
fortalecer a esperança dos exilados. O povo atravessava um dos piores períodos
de sua história: Jerusalém e o Templo destruídos, o povo deportado na
Babilônia.
Mesmo
assim, o Profeta prevê a ALEGRIA dos tempos messiânicos: fala do deserto que
vai florir, da tristeza que vai dar lugar à alegria, Ele libertará os cegos, os
coxos, os mudos de suas doenças...
No
Evangelho (MT 11, 2-11) encontramos Jesus realizando o que Isaías profetizou.
João
Batista está preso, por Herodes, por reprovar o seu comportamento. No cárcere
ouve falar das obras de Cristo... Perplexo, envia a Jesus dois discípulos com
uma pergunta bem concreta: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar por
outro?” (Mt 11, 3).
Jesus
responde-lhes apontando os sinais concretos de libertação, já anunciados por
Isaías há muito tempo: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os
cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os
surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados” (Mt 11,
4-5).
Na
Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho”, o Papa Francisco nos lembra que
“a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se
encontram com Jesus. Os que se deixam salvar por Ele são libertados do pecado,
da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem
cessar a alegria.”
A
alegria do Advento e a de cada dia é porque Jesus está muito perto de nós.A
alegria cristã não é uma atitude passageira de festas humanas, mas um estado
permanente, de quem confia que a vida cristã é uma caminhada ao encontro do
Senhor que vem. A alegria é um dos sinais da presença de Deus no coração de uma
pessoa.
Jesus, após a
Ressurreição, aparecerá aos seus discípulos em diversas ocasiões. E o
evangelista irá sublinhando repetidas vezes que os Apóstolos “se alegraram
vendo o Senhor” (Jo 20,20). Eles não esquecerão nunca esses encontros em que as
suas almas experimentaram uma alegria indescritível.
Poderemos
estar alegres se o Senhor estiver verdadeiramente presente na nossa vida, se
não o tivermos perdido, se não tivermos os olhos turvados pela tibieza ou pela
falta de generosidade. Quando, para encontrar a felicidade, se experimentam
outros caminhos fora daquele que leva a Deus, no fim só se acha infelicidade e
tristeza. Fora de Deus não há alegria verdadeira. Não pode havê-la. Encontrar
Cristo, ou tornar a encontrá-Lo, é fonte de uma alegria profunda e sempre nova.
O cristão deve
ser um homem essencialmente alegre. Mas a sua alegria não é uma alegria
qualquer, é a alegria de Cristo, que traz a justiça e a paz, e que só Ele pode
dar e conservar, porque o mundo não possui o seu segredo.
A alegria do
mundo procede de coisas exteriores: nasce precisamente quando o homem consegue
escapar de si próprio, quando olha para fora, quando consegue desviar o olhar
do seu mundo interior, que produz solidão porque é olhar para o vazio. O
cristão leva a alegria dentro de si, porque encontra a Deus na sua alma em
Graça. Esta é a fonte da sua alegria! Não nos é difícil imaginar a Virgem
Maria, nestes dias do Advento, radiante de alegria com o Filho de Deus no seu
seio. A alegria do mundo é pobre e passageira. A alegria do cristão é profunda
e capaz de subsistir no meio das dificuldades. É compatível com a dor, com a
doença, com o fracasso e as contradições. “Eu vos darei uma alegria que ninguém
vos poderá tirar” (Jo 16,22), prometeu o Senhor. Nada nem ninguém nos
arrebatará essa paz gozosa, se não nos separarmos da sua fonte.
A nossa
alegria deve ter um fundamento sólido. Não se pode apoiar exclusivamente em
coisas passageiras: notícias agradáveis, saúde, tranqüilidade, situação
econômica desafogada, etc., coisas que em si são boas se não estiverem
desligadas de Deus,mas que por si mesmas são insuficientes para nos
proporcionarem a verdadeira alegria.
O Senhor pede
que estejamos sempre alegres! Só Ele é capaz de sustentar tudo na nossa vida.
Não há tristeza que Ele não possa curar: “Não temas, mas apenas crê” (Lc 8,50),
diz-nos o Senhor.
Fujamos da
tristeza! Uma alma triste está à mercê de muitas tentações. Quantos pecados se
têm cometido à sombra da tristeza!Por outro lado, quando a alma está alegre,
abre-se e é estímulo para os outros; quando está triste obscurece o ambiente e
faz mal aos que tem à sua volta.
A tristeza
nasce do egoísmo, de pensarmos em nós mesmos esquecendo os outros. Quem anda
excessivamente preocupado consigo próprio dificilmente encontrará a alegria da
abertura para Deus e para os outros. Em contrapartida, com o cumprimento alegre
dos nossos deveres, podemos fazer muito bem à nossa volta, pois essa alegria
leva a Deus.
“Dentro de
pouco, de muito pouco, Aquele que vem chegará e não tardará” (Hb 10,37), e com
Ele chegarão a paz e a alegria; em Jesus encontraremos o sentido da nossa vida.
Que a nossa
alegria seja um testemunho muito forte de que Cristo já está no meio de nós.
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