XV DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B
(15/07/2018)
PRIORIDADE PASTORAL
O plano de salvação, apresentado hoje na segunda leitura
(Ef. 1,3-14), pode servir, como ponto de partida, para a meditação sobre a
liturgia da palavra. S. “Paulo remonta-se ao chamamento eterno dos crentes à
salvação, abençoados em Cristo, eleitos “antes da criação do mundo”,
predestinados por Deus a que nos tornássemos seus filhos”. Este grandioso
desígnio de misericórdia realiza-se por meio de Cristo Jesus; o Seu sangue
redime os homens do pecado e confere-lhes “a riqueza da Sua graça. Mas, exige
também a colaboração de cada um: a fé e o empenho pessoal para ser, na
caridade, santos e irrepreensíveis diante d’Ele.
Ninguém pode pensar que tal chamada à salvação e à santidade
se esgote, atendendo apenas ao próprio bem pessoal; não seria, pois, santidade
cristã, que se realiza na caridade de Cristo, que deu a vida para a redenção da
humanidade inteira, e na caridade do Pai celestial que abraça todos os homens.
S. Paulo vai especificando cada uma das bênçãos ou
benefícios que estão contidos no projeto (plano) eterno de Deus. A primeira
destas bênçãos é a escolha, antes da criação do mundo, daqueles que iam fazer
parte da Igreja.
A escolha tem como fim “sermos santos e imaculados na Sua
presença”.
Com frequência S. Paulo chama aos cristãos “santos” (cf. Rm
1,7; 1 Cor 1,2; Fil. 1,1; Ef.5,26; etc.). São títulos que o cristão se
transformou pelo Batismo.
Todos os batizados são chamados a viver a santidade, como
consequência do que realmente são: santos e fiéis. A santidade, portanto, é um
presente de Deus que exige, ao mesmo tempo, o empenho do homem para o conseguir
e desenvolver. Assim ensina o Concílio
Vaticano II: “É, pois, claro a todos, que os cristãos, de qualquer estado ou
ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Na
própria sociedade terrena, esta santidade promove um modo de vida mais humano.
Para alcançar esta perfeição, empreguem os fiéis as forças recebidas segundo a
medida em que as dá Cristo, a fim de que, seguindo as Suas pisadas e
conformados à Sua imagem, obedecendo em tudo à vontade de Deus, se consagrem
com toda a alma à glória do Senhor e ao serviço do próximo. Assim crescerá em
frutos abundantes a santidade do povo de Deus, como patentemente se manifesta
na história da Igreja, com a vida de tantos santos” (Lúmen Gentium, 40).
“A nossa missão de cristãos é proclamar a Realeza de Cristo;
anunciá – la com a nossa palavra e com as nossas obras. O Senhor quer os Seus
em todas as encruzilhadas da Terra. A alguns, chama-os ao deserto,
desentendendo-se das inquietações da sociedade humana, para recordarem aos
outros homens, com o seu testemunho, que existe Deus. Encomenda a outros o
ministério sacerdotal. A grande maioria, o Senhor a quer no mundo, no meio das
ocupações terrenas. Estes cristãos, portanto, devem levar Cristo a todos os
ambientes em que se desenvolvem as tarefas humanas: à fábrica, ao laboratório,
ao trabalho do campo, à oficina do artesão, às ruas das grandes cidades e às
veredas da montanha” ( SãoJosemariaEscrivá, Cristo que passa, 105 ).
A santidade que recebemos é um dom gratuito de Deus, sem
mérito algum de nossa parte, já que ainda não existíamos quando Deus nos
escolheu. Comenta São JosemariaEscrivá: “Escolheu-nos antes da constituição do
mundo, a fim de sermos santos. Eu sei que isto não te enche de orgulho, nem
contribuiu para que te consideres superior aos outros homens. Essa escolha,
raiz do teu chamamento, deve ser a base da tua humildade. Costuma levantar-se porventura
algum monumento aos pincéis dum grande pintor? Serviram para fazer obras
primas, mas o mérito é do artista. Nós – os cristãos – somos apenas
instrumentos do Criador do mundo, do Redentor de todos os homens” (Cristo que
passa,1).
Ao terminar o Jubileu do Ano 2000, São João Paulo II disse
que: “espera-nos uma entusiasmante obra de retomada pastoral; uma obra que toca
a todos”. E apontando para o Século XXI, afirma: “Como estímulo e orientação
comum, desejo apontar algumas prioridades pastorais que a experiência do Grande
Jubileu me fez ver com particular intensidade”. Em primeiro lugar, não hesito
em dizer que o horizonte para o qual deve tender todo caminho pastoral é a
santidade. Terminado o Jubileu, retoma-se o caminho comum; no entanto, apontar a
santidade permanece mais que nunca uma urgência da pastoral.
Por sua vez, o dom se traduz num dever que deve dirigir toda
a existência cristã: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1 Ts
4,3).
Na verdade, colocar a programação pastoral sob o signo da
santidade é uma opção carregada de consequências. Significa exprimir a
convicção de que, se o batismo é um verdadeiro ingresso na santidade de Deus
mediante a inserção em Cristo e a habitação de seu Espírito, seria um
contrassenso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética
minimalista e uma religiosidade superficial. Perguntar a um catecúmeno: “Queres
receber o Batismo?” Significa ao mesmo tempo pedir-lhe: “Queres fazer-te
santo?” Significa colocar em sua estrada o radicalismo do Sermão da Montanha:
“Sede perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48).
Os caminhos da santidade são variados e apropriados à
vocação de cada um. É hora de repropor a todos, com convicção, esta medida alta
de vida cristã habitual: toda a vida da comunidade eclesial e das famílias
cristãs deve apontar nesta direção. (Cf. Carta Apostólica Novo
MillennioIneunte, nº 29-32).
Ensina Papa Francisco, na Exortação Apostólica Gaudete et
Exsultate: “Precisamos de um espírito de santidade que impregne tanto a solidão
como o serviço, tanto a intimidade como a tarefa evangelizadora, para que cada
instante seja expressão de amor doado sob o olhar do Senhor. Dessa forma, todos
os momentos serão degraus no nosso caminho de santificação” ( 31).
Continua o Papa Francisco: “ Não tenhas medo da santidade.
Cada cristão, quanto mais se santifica, tanto mais fecundo se torna para o
mundo. Não tenhas medo de apontar para mais alto, de te deixares amar e
libertar por Deus. Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A
santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com
a força da Graça. No fundo, como dizia León Bloy, na vida “existe apenas uma
tristeza: a de não ser santo” ( cf. números 32, 33 e 34 da referida Exortação
Apostólica ).
Ainda S. Paulo nos diz: “Deus chamou-nos com uma vocação
santa, não por causa das nossas obras, mas em virtude do seu desígnio” (2 TM
1,9).
Assim concluímos com a oração desse domingo: "Ó Deus, que
mostrais a luz da verdade aos que erram para retomarem o bom caminho, dai a
todos os que professam a fé rejeitar o que não convém ao cristão, e abraçar
tudo o que é digno desse nome”.
MONSENHOR JOSÉ MARIA PEREIRA
SCE DA REGIÃO RIO II
Nenhum comentário:
Postar um comentário