A Conversão de
Zaqueu
Mons.
José Maria Pereira
O Evangelho (Lc. 19, 1-10) fala-nos do encontro
misericordioso de Jesus com Zaqueu. O Senhor passa por Jericó, a caminho de
Jerusalém! Uma multidão apinhava-se nas ruas por onde o Mestre passava e lá no
meio da multidão encontrava-se um homem chefe dos publicanos e rico, bem
conhecido em Jericó pelo seu cargo.
Os publicanos eram cobradores de impostos. O imposto
era fixado pela autoridade romana e os publicanos cobravam uma sobretaxa, da
qual viviam. Isto prestava-se a arbitrariedades, razão pela qual eram
facilmente hostilizados pela população.
São Lucas diz que Zaqueu procurava ver Jesus para
conhecê-Lo, mas não podia por causa da multidão, pois era muito baixo. Mas o
seu desejo é eficaz! Para conseguir realizar o seu propósito, começa por
misturar-se com a multidão e depois, sem pensar no ridículo da sua atitude,
correndo adiante subiu a um sicômaro para ver Jesus, que devia passar por ali.
Não se importa com o que as pessoas possam pensar ao verem um homem da sua
posição começar a correr e depois subir numa árvore. É uma formidável lição
para nós que, acima de tudo, queremos ver Jesus e permanecer com Ele.
Que o Senhor aumente em nós o desejo sincero de vê-Lo!
Eu quero realmente ver Jesus? – perguntava o Papa João Paulo II ao comentar
esta mensagem do Evangelho –, faço tudo o que posso para poder vê-Lo? Este
problema, depois de dois mil anos, é tão atual como naquela altura, quando
Jesus atravessava as cidades e povoados da sua terra. E é atual para cada um de
nós pessoalmente: quero verdadeiramente contemplá-Lo, ou não será que venho
evitando encontrar-me com Ele? Prefiro não vê-Lo ou que Ele não me veja? E se
já o vislumbro de algum modo, não será que prefiro vê-Lo de longe, sem me
aproximar muito, sem me situar claramente diante dos seus olhos..., para não
ter que aceitar toda a verdade que há nEle, que provém dEle?
Qualquer esforço que façamos por aproximar-nos de
Cristo é amplamente recompensado. Disse Jesus: “Zaqueu desce depressa! Hoje Eu
devo ficar na tua casa” (Lc 19, 5). Que alegria imensa! Zaqueu, que já se dava
por satisfeito de vê-Lo do alto de uma árvore, ouve Jesus chamá-lo pelo nome,
como a um velho amigo, e, e com a mesma confiança, fazer-se convidar para sua
casa. Comenta Santo Agostinho: “Aquele que tinha por coisa grande e inefável
vê-Lo passar, mereceu imediatamente tê-Lo em casa.” O Mestre, que tinha lido no
coração do publicano a sinceridade dos seus desejos, não quis deixar passar a
ocasião. Zaqueu descobre que é amado pessoalmente por Aquele que se apresenta
como o Messias esperado, sente-se tocado no íntimo do seu espírito e abre o seu
coração.
Zaqueu está agora com o Mestre, e com Ele tem tudo.
Mostra com atos a sinceridade da sua nova vida; converte-se em mais um
discípulo do Mestre.
O encontro com Cristo leva-nos a ser generosos com os
outros, a compartilhar imediatamente com quem está mais necessitado o muito ou
o pouco que temos.
“Hoje entrou a salvação nesta casa” (Lc 19, 9). É um
convite à esperança: se alguma vez o Senhor permite que passemos por
dificuldades, se nos sentimos às escuras e perdidos, temos de saber que Jesus,
o Bom Pastor, sairá imediatamente em nossa busca. Diz Santo Ambrósio: “O Senhor
escolhe um chefe de publicanos: quem poderá desesperar se ele alcançou a
graça?” O Senhor nunca se esquece dos seus.
A figura de Zaqueu deve ajudar-nos a nunca dar ninguém
por perdido ou irrecuperável.
Não duvidemos nunca do Senhor, da sua bondade e do seu
amor pelos homens, por muito extremas ou difíceis que sejam as situações em que
nos encontremos ou em que se encontrem as pessoas que queremos levar até Jesus.
A sua misericórdia é sempre maior do que os nossos pobres raciocínios.
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