Em Tudo Dai Graças!
Mons. José Maria Pereira
Vivemos
num mundo em que a vida humana transformou-se num grande comércio onde tudo se
compra e tudo se paga... É a época do descartável! Diante dessa realidade,
muitos perderam o valor da gratuidade e da gratidão.
“Obrigado”
é uma palavra tão simples, mas tão esquecida por muitos!
No
Evangelho (Lc. 17, 11-19) Jesus cura dez leprosos, mas apenas um volta para agradecer.
Na
sua última viagem a Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galiléia;
saíram-Lhe ao encontro dez leprosos que se detiveram a certa distância do lugar
em que se encontravam o Mestre e o grupo que o acompanhava, pois a lei proibia
que esses doentes se aproximassem das pessoas. Entre os leprosos contava-se um
samaritano, apesar de não haver trato entre os judeus e os samaritanos, dada a
inimizade secular que separava os dois povos; mas a desgraça unira-os, como
acontece tantas vezes na vida.
Eles
gritam de longe: “Jesus, mestre, tem compaixão de nós...”
Jesus
se compadece e os manda se apresentarem aos sacerdotes, que eram os
responsáveis para comprovar a cura e liberar a reintegração na Comunidade.
Os
dez obedecem e no caminho se vêem curados; mas só um volta para agradecer... e
era um samaritano, considerado estrangeiro e desprezado pelos judeus...
Cristo
questiona: “Não foram dez os curados? Onde estão os outros nove? E acrescenta:
Levanta-te e vai. TUA FÉ te salvou.”
Estes
leprosos ensinam-nos a pedir: recorrem à misericórdia divina, que é fonte de
todas as graças. E mostra-nos o caminho da cura, seja qual for a lepra que
tenhamos na alma: ter fé e sermos dóceis àqueles que, em nome do Mestre, nos
indicam o que devemos fazer.
Imaginemos
o samaritano correndo, glorificando a Deus em voz alta; e foi prostrar-se aos
pés do Mestre, dando-lhe graças.
Foi
uma ação profundamente humana e cheia de beleza. Dizia Santo Agostinho: “Que
coisa melhor podemos trazer no coração, pronunciar com a boca, escrever com a
pena, do que estas palavras: “graças a Deus”? Não há nada que se possa dizer
com maior brevidade, nem ouvir com maior alegria, nem sentir com maior
elevação, nem realizar com maior utilidade.” A gratidão é uma das virtudes que
enobrecem a pessoa humana. Desde criança, fomos educados a agradecer os favores
recebidos. A gratidão é uma atitude que brota do coração de quem se sente amado
pelo amor de Deus...
“Não
foram dez os curados? E os outros nove, onde estão?” Quantas vezes Jesus não
terá perguntado por nós, depois de tantas graças!
Com
freqüência, temos melhor memória para as nossas necessidades e carências do que
para os nossos bens. Vivemos pendentes daquilo que nos falta, e reparamos pouco
naquilo que temos, e talvez seja por isso que ficamos aquém no nosso
agradecimento. Pensamos que temos pleno direito ao que possuímos e
esquecemo-nos do que diz Santo Agostinho: “Nada é nosso, a não ser o pecado que
possuímos. Pois que tens tu que não tenhas recebido? (1Cor 4, 7).”
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