A Oração da Viúva
Mons. José Maria Pereira
O Evangelho (Lc 18,
1-8) realça três aspectos quanto à oração: a oração como expressão da fé em
Deus; a presença da oração em toda a vida da pessoa e a perseverança nela.
Jesus narra a parábola do juiz injusto e da viúva.
Trata-se de um juiz que “não temia a Deus nem respeitava os homens” e que não
quer saber nada de uma pobre viúva que a ele recorre exigindo justiça; por fim,
cede às suas incessantes súplicas para que ela não o continue a incomodar.
Deste exemplo Jesus tira uma lição: fazer compreender que Deus, muito melhor
que o juiz injusto, escutará as súplicas de quem a Ele recorre confiadamente.
Santo Agostinho, ao comentar esta passagem do
Evangelho, ressalta a relação que existe entre a fé e a oração confiante: “Se a
fé fraqueja, a oração perece; pois a fé é a fonte da oração e o rio não pode
fluir se o manancial fica seco”. A nossa oração tem de ser contínua e confiada,
como a de Jesus, nosso Modelo: “Pai, eu sei que sempre me ouves” (Jo 11, 42).
Ele nos escuta sempre.
Examinemos hoje se a nossa oração é perseverante,
confiada, insistente. “Persevera na oração, como aconselha o Mestre. Esse ponto
de partida será a origem da tua paz, da tua alegria, da tua serenidade e,
portanto, da tua eficácia sobrenatural e humana” (São Josemaria Escrivá, Forja,
nº 536). Não há nada que uma oração perseverante não alcance!
Na parábola, ao juiz o Senhor contrapõe uma viúva,
símbolo da pessoa indefesa e desamparada. E à sua insistência perseverante em
pedir justiça, a resistência do juiz em atendê-la. O final inesperado acontece
depois de um contínuo ir e vir da viúva e das reiteradas negativas do juiz.
Este acaba por ceder, e a parte mais fraca obtém o que desejava. Mas a razão
desta vitória não está em que o coração do administrador da justiça mudou: a
única arma que conseguiu a vitória foi a oração incessante, a insistência da
mulher! E o Senhor conclui com uma reviravolta: “E Deus, não fará justiça aos
seus escolhidos, que dia e noite gritam por Ele? Será que vai fazê-los
esperar?” (Lc 18, 7). Jesus faz ver que o centro da parábola não é o juiz
injusto, mas Deus, cheio de misericórdia, paciente e imensamente zeloso pelos
seus.
“É preciso reconhecer humilde e realmente que somos
frágeis e débeis, com necessidade contínua de força interior e de consolação. A
oração dá força para os grandes ideais, para manter a fé, a caridade, a pureza,
a generosidade; a oração dá ânimo para sair da indiferença e da culpa, se por
desgraça se cedeu à tentação e à debilidade; a oração dá luz para ver e julgar
os acontecimentos da própria vida e da própria história na perspectiva
salvífica de Deus e da eternidade. Por isso, não deixeis de orar! Não passe um
dia sem que tenhais orado um pouco! A oração é um dever, mas também é uma
grande alegria, porque é um diálogo com Deus por meio de Jesus Cristo! Cada
domingo a Santa Missa e, se vos é possível, alguma vez também durante a semana;
cada dia as orações da manhã e da noite e nos momentos mais oportunos!” (São
João Paulo II, Aos Jovens, 14/03/1979).
Ao terminar a parábola, Jesus acrescenta: “Mas o
Filho do Homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?”
(Lc 18, 8). Por ventura encontrará uma fé semelhante à da viúva? Trata-se de
uma fé concreta: a fé dos filhos de Deus na bondade e no poder do seu Pai do
Céu. O homem pode fechar-se a Deus, não sentir necessidade dEle, procurar por
outros caminhos a solução para as suas deficiências, e então jamais encontrará
os bens de que necessita.
Uma conseqüência direta da fé é a oração, mas, ao
mesmo tempo, “a oração dá maior firmeza à própria fé. Ambas estão perfeitamente
unidas. Por isso, quando pedimos, acabamos por ser melhores; se não fosse
assim, não nos tornaríamos mais piedosos, mas mais avaros e ambiciosos”, diz
Santo Agostinho.
Neste mês de outubro, não deixemos de servir-nos do
Santo Rosário como oração sempre eficaz para conseguir através de Nossa
Senhora, tudo aquilo de que precisamos, nós e as pessoas que de alguma maneira
dependem de nós. Não separemos a oração da vida, da ação! Tudo pode ser
impregnado da presença de Deus. E isto é oração!
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