Tentações e conversão!
Mons. José
Maria Pereira
O 1º Domingo
da Quaresma nos apresenta todos os anos o mistério do jejum de Jesus no deserto,
quando foi tentado pelo diabo (Lc4, 1-13).
Quaresma é
para nós um tempo forte de conversão e renovação, em preparação à Páscoa. É
tempo de rasgar o coração e voltar ao Senhor. Tempo de retomar o caminho e de
se abrir à graça do Senhor, que nos ama e nos socorre. É um tempo sagrado para
aprofundar o Plano de Deus e rever a nossa vida cristã. E nós somos convidados
pelo Espírito ao DESERTO da Quaresma para nos fortalecer nas TENTAÇÕES, que
freqüentemente tentam nos afastar dos planos de Deus.
A Quaresma
comemora os quarenta dias que Jesus passou no deserto, como preparação para
esses anos de pregação que culminam na CRUZ e na glória da Páscoa. Quarenta
dias de oração e de penitência que, ao findarem, desembocam na cena que São
Lucas narra no cap. 4, 1-13. É uma cena cheia de mistério, que o homem em vão
pretende entender – Deus que se submete à tentação, que deixa agir o Maligno –,
mas que pode ser meditada se pedirmos ao Senhor que nos faça compreender a
lição que encerra.
É a primeira
vez que o demônio intervém na vida de Jesus, e faz isto abertamente. Põe à
prova Nosso Senhor; talvez queira averiguar se chegou a hora do Messias. Jesus
deixa-o agir para nos dar exemplo de humildade e para nos ensinar – diz São
João Crisóstomo –, quis também ser conduzido ao deserto e ali travar combate
com o demônio a fim de que os batizados, se depois do batismo sofrem maiores
tentações, não se assustem com isso, como se fosse algo de inesperado. Se não
contássemos com as tentações que temos de sofrer, abriríamos a porta a um
grande inimigo: o desalento e a tristeza.
A narrativa
das tentações que Jesus sofreu mostra que Jesus “foi experimentado em tudo” (Hb
4, 15), comprovando também a veracidade da Encarnação do Verbo de Deus.
Diz Santo
Agostinho que, na sua passagem por este mundo nossa vida não pode escapar à
prova da tentação, dado que nosso progresso se realiza pela prova. De fato,
ninguém se conhece a si mesmo sem ser experimentado, e não pode ser coroado sem
ter vencido, e não pode vencer, se não tiver combatido e não pode lutar se não
encontrou o inimigo e as tentações.
Por isso, a
existência do ser humano nesta terra é uma batalha contínua contra o mal. É
esta luta contra o pecado, a exemplo de Cristo, que devemos intensificar nesta
Quaresma; luta que constitui uma tarefa para a vida toda.
O demônio
promete sempre mais do que pode dar. A felicidade está muito longe das suas
mãos. Toda a tentação é sempre um engano miserável! Mas, para nos experimentar,
o demônio conta com as nossas ambições. E a pior delas é desejar a todoo custo
a glória pessoal; a ânsia de nos procurarmos sistematicamente a nós mesmos nas
coisas que fazemos e projetamos. Muitas vezes, o pior dos ídolos é o nosso
próprio eu. Temos que vigiar, em luta constante, porque dentro de nós permanece
a tendência de desejar a glória humana, apesar de termos dito ao Senhor que não
queremos outra glória que não a dEle. Jesus também se dirige a nós quando diz:
“Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás”. E é isto o que nós desejamos
e pedimos: servir a Deus, alicerçados na vocação a que Ele nos chamou.
O Senhor está
sempre ao nosso lado, em cada tentação, e nos diz afetuosamente: “Confiai: Eu
venci o mundo” (Jo16, 33). E com o salmista podemos dizer: “O Senhor é a minha
luz e a minha salvação; a quem temerei?” (Sl 26, 1).
“Procuremos fugir das ocasiões de pecado, por pequenas que
sejam, pois aquele que ama o perigo nele perecerá” (Eclo 3, 27). Como Jesus nos
ensinou na oração do Pai Nosso: “Não nos deixeis cair em tentação”; é
necessário repetir muitas vezes e com confiança essa oração!
Contamos
sempre com a graça de Deus para vencer qualquer tentação. Usemos as armas para
vencermos na batalha espiritual, que são: a oração contínua, a sinceridade com
o diretor espiritual, a Eucaristia, o sacramento da Confissão (Penitência), um
generoso espírito de mortificação cristã, a humildade de coração e uma devoção
terna e filial a Nossa Senhora.
Vale a pena
fazer nossa, a oração da coleta do 1° Domingo da Quaresma: “Concedei-nos, ó
Deus onipotente, que, ao longo desta Quaresma, possamos progredir no
conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a seu amor por uma vida santa.”
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