Ao ouvir um trecho do Evangelho,
devemos nos preparar, repetindo no refrão do Salmo 18b (19), este ato de fé:
“As vossas palavras, Senhor, são Espírito e vida.” Na aclamação ao Evangelho, a
Liturgia separou algumas palavras, propondo-as como tema de reflexão para a
homilia: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me
para anunciar a Boa-Nova aos pobres. Trata-se de um oráculo do Profeta Isaías
que Jesus aplica a si mesmo.
Jesus pronunciou estas palavras na
Sinagoga de Nazaré, no início de seu ministério público; elas constituem por
assim dizer um título colocado no início de todo o evangelho: Esta é a minha
missão – parece dizer Jesus – e estes são seus destinatários! A importância de
tais palavras para compreender o espírito do evangelho e a obra de Jesus é,
portanto, imensa; dela depende diretamente a compreensão da bem-aventurança:
Felizes os pobres de coração: deles é o Reino dos céus.
Naquele dia, na Sinagoga, Jesus
disse: “Hoje se cumpriu esta Escritura” (Lc. 4,21). Nós também fechemos o livro
do Evangelho do qual ouvimos estes ensinamentos (Lc 4,20): mas nem tudo pode
acabar aqui; aliás, num certo sentido, tudo começa neste momento: “Se
compreenderdes essas coisas, sereis felizes, sob condição de as praticardes (Jo
13,17). A Palavra de Deus cumpre-se de novo cada vez que há alguém que a escuta
e a coloca em prática; o “hoje” por Ele pronunciado naquele dia prolonga-se na
Igreja e dura ainda.
Também nós, em outras palavras, somos
enviados a anunciar a Boa Nova do Evangelho.
Na Primeira Leitura (Ne 8, 2-10),
encontramos o Povo reunido, em assembleia, lendo e estudando a Palavra de Deus.
Já em solo judaico, um dos
sacerdotes, Esdras, explica ao povo o conteúdo da Lei que tinham esquecido
naqueles anos transcorridos em “terras estranhas”. Leu o livro sagrado desde o
amanhecer até o meio dia, e todos, de pé, seguiam a leitura com atenção, e o
povo inteiro chorava. É um pranto em que se misturam naqueles homens a alegria
de reconhecerem novamente a Lei de Deus e a tristeza de perceberem que o seu
antigo esquecimento da Lei fora a causa de que tivessem sido desterrados.
A Palavra interpela e provoca no povo
uma atitude de conversão.
Diz Santo Agostinho: “ Devemos ouvir
o Evangelho como se o Senhor estivesse presente e nos falasse. Não devemos
dizer: “Felizes aqueles que puderam vê-Lo”. Porque muitos dos que O viram
crucificaram-no; e muitos dos que não O viram creram nele. As mesmas palavras
que saíam da boca do Senhor foram escritas, guardadas e conservadas para nós”.
Em todas as épocas da história,
sobretudo em épocas de crise, os homens voltaram a alimentar-se da Bíblia,
procurando nela um sentido para a sua vida e o encontraram.
S. Paulo afirma: “Toda Escritura
inspirada por Deus é útil para instruir e refutar, para corrigir e formar na
justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para toda a
espécie de boas obras”. (2Tm 15,4).
Só se ama o que se conhece! Por isso,
muitos cristãos reservam, todos os dias, alguns minutos para lerem e meditarem
o Evangelho, e assim chegam espontaneamente a um conhecimento profundo e à
contemplação de Jesus Cristo.
Seria muito difícil amar a Cristo,
conhecê-Lo de verdade, se não se escutasse frequentemente a Palavra de Deus; se
não se lesse o Evangelho com atenção, todos os dias. Essa leitura – bastam
cinco minutos diários – alimenta a nossa piedade.
É urgente que tenhamos, cada vez
mais, mais contato com a Palavra de Deus!
O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica
afirma: “A Sagrada Escritura dá suporte e vigor à vida da Igreja. É para seus
filhos firmeza da fé, alimento e fonte de vida espiritual. É a alma da teologia
e da pregação pastoral…
A Igreja exorta, por isso, à
frequente leitura da Sagrada Escritura, porque a ignorância das escrituras é
ignorância de Cristo” (nº 24).
Dizia São João Crisóstomo:
“Frequentemente, a ignorância é filha da preguiça.”
A boa formação exige tempo e
constância!
Nunca devemos considerar-nos
suficientemente formados, nunca devemos conformar-nos com o conhecimento de
Jesus Cristo e dos seus ensinamentos que já possuímos. O amor pede que se
conheçam mais coisas da pessoa amada. Na vida profissional, um médico, um
arquiteto, um advogado, se querem ser bons profissionais, nunca dão por
concluídos os seus estudos ao saírem da Faculdade; estão sempre em contínua
formação. Com o cristão acontece o mesmo. Pode-se aplicar-lhe também aquela
frase de S. Agostinho: “Disseste basta? Pereceste.”
Para podermos dar a doutrina de Jesus
Cristo, é preciso que a tenhamos no entendimento e no coração: que a meditemos
e a amemos.
A vida de fé leva a um fluxo contínuo
de aquisição e transmissão das verdades reveladas: “Transmito-vos aquilo que
recebi” (1 Cor 11,23). A fé da Igreja é fé viva, porque é continuamente
recebida e entregue. De Cristo aos Apóstolos, destes aos seus sucessores.
Com o salmistas repitamos: “Tua
Palavra, Senhor, é lâmpada para meus pés, e luz para meu caminho” (Sl 119,
105).
Ide e ensinai… , diz o próprio Cristo
a todos nós!
Que bons alto-falantes teria o Senhor
se todos os cristãos se decidissem – cada um no seu lugar – a proclamar a
doutrina salvadora de Cristo, a ser elos dessa corrente que se prolongará até o
fim dos tempos!
Façamos nossa a oração da Missa de
hoje: “Deus eterno e todo poderoso, dirigi a nossa vida segundo o vosso amor,
para que possamos, em nome do vosso Filho, frutificar em boas obras.”
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