Homilia do Mons. José Maria
– II Domingo do Tempo Comum – Ano C
O Primeiro Milagre
Após as festas natalinas, inicia o Tempo Comum, em que revivemos os principais Mistérios da Salvação.
O Evangelho (Jo2, 1-11) fala das Bodas
de Caná. O motivo da escolha deste texto, para este domingo – o segundo depois
da Epifania – é explicado na frase conclusiva: Jesus, em Caná da Galiléia, deu
inicio aos sinais e manifestou sua glória e seus discípulos creram nele (Cf. Jo
2, 11).
Em Caná aconteceu uma nova epifania de
Jesus: ele se manifestou como havia se manifestado no início aos magos e a João
Batista no Batismo do Jordão.
Segundo o costume da época a festa, o
banquete, durava oito dias. Depois de alguns dias começou a faltar o vinho; a
alegria daqueles esposos e de sua família estava ameaçada…
Maria percebe a situação, e disse a
Jesus, em tom aflito: “Eles não têm mais vinho”. Jesus opôs um pouco de
resistência, mas depois fez o milagre: Da água soube tirar um novo vinho para
continuar a festa. A presença de Jesus salvou a alegria dos esposos e permitiu
que a festa continuasse.
Acontece em todo casamento aquilo que
aconteceu nas Bodas de Caná; começa no entusiasmo e na alegria; o vinho é o
símbolo, precisamente, desta alegria e do amor recíproco que lhe é a causa. Mas
este amor e esta alegria – como o vinho de Caná – com o passar dos dias e dos
anos, consome-se e começa a faltar; todo sentimento humano, exatamente porque
humano, é recessivo, tende a consumir-se e a se exaurir; então desaba sobre a
família uma nuvem de tristeza e desgosto; aos convidados para as bodas que são
os filhos, não se tem mais nada a oferecer, a não ser o próprio cansaço, a
própria frieza recíproca e muitas vezes a própria amarga desilusão. Falhas
cheias de água. O fogo para o qual tinham vindo para se aquecer vai se apagando
e todos procuram outros fogos fora dos muros da casa para aquecer o coração com
um pouco de afeto.
Há remédio para esta triste perspectiva
? Sim, o mesmo remédio que houve em Caná da Galiléia: Convidar Jesus para as
bodas! Se ele for de casa, a ele se poderá recorrer quando enfraquecerem o
entusiasmo, a atração física, a novidade, enfim, o amor com que se tinha
começado como namorados, porque da água da “rotina”, ele saberá fazer brotar,
pouco a pouco, um novo vinho melhor do que o primeiro, isto é, um novo tipo de
amor conjugal, menos efervescente do que o da juventude, mas mais profundo,
mais duradouro, feito de compreensão, de conhecimento mútuo, de solidariedade,
feito também de muita capacidade de se perdoar.
Convidar Jesus para o próprio
matrimônio! Sim, isto significa reconhecer desde o tempo de namoro que o
matrimônio não é uma questão privada entre um homem e uma mulher, em que a
religião e o padre devem entrar somente para pingar sobre nós um pouco de agra
benta ou para lhe dar um pouco de prestígio exterior com órgão, flores e
tapete, mas é uma vocação, um chamado para realizar, de certa forma, a própria
vida e o próprio destino; vocação que vem de Deus cuja norma e cuja força devem
orientar a vida do casal.
Merecem ser destacadas as palavras de
Maria: “Eles não tem mais vinho”; “Fazei o que ele vos disser” (Jo 2, 3.5).
“Em Caná, ninguém pede à Santíssima
Virgem que interceda junto de seu Filho pelos consternados esposos. Mas o
coração de Maria, que não pode deixar de ser compadecer dos infelizes, impele-a
a assumir, por iniciativa própria, o ofício de intercessora e a pedir ao Filho
o milagre. Se a Senhora procedeu assim sem que lhe tivessem dito nada, que
Teria feito se lhe tivessem pedido que interviesse?” (Sto. Afonso Maria de
Ligório). Que não fará quando – tantas vezes ao longo do dia! – lhe dizem
“rogai por nós” ? Que não iremos conseguir se recorremos a Ela ?
“Maria põe-se de permeio entre o seu
Filho e os homens na realidade das suas privações e dos seus sofrimentos. Maria
faz-se de Medianeira, não como uma estranha, mas na posição de Mãe, consciente
de que como tal pode – ou antes, tem o direito de – tornar presentes ao Filho
as necessidades dos homens” (São João Paulo II).
Jesus não nos nega nada; e concede-nos
de modo particular tudo o que lhe pedimos através de sua Mãe.
Maria continua dizendo a nós, seus
filhos: “Fazei o que Ele vos disser”.
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