Testemunhas da Alegria
Mons. José Maria Pereira
Aproximando-se o dia de Natal, a Liturgia do Terceiro Domingo do
Advento inicia com as palavras de S. Paulo: “Alegrai-vos sempre no
Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto” (Fl
4,4ss). Não se trata de uma alegria “subjetiva”, toda íntima e
sentimental, que muitas vezes não passa de uma excitação, mas de uma
alegria “objetiva” que se fundamenta sobre realidades em si mesmas
alegres, algo que já existe e só espera vir a nós. Nem se trata de uma
alegria ‘individual” ou privada, mas de uma alegria “comunitária”; é
como comunidade cristã que nós somos hoje convidados à alegria:
Alegrai-vos!
O Profeta Sofonias recorda ao povo eleito sua
missão e procura despertar nele a esperança e a coragem: “Canta de
alegria, cidade de Sião; rejubila, povo de Israel! Alegra-te e exulta de
todo o coração, cidade de Jerusalém!” ( Sofonias 3, 14-18)
Depois
da vinda de Jesus, esse povo, que é sinal de alegria entre as nações, é
a comunidade cristã que acolheu o Evangelho, isto é, a alegre notícia
de Jesus. Por isso o Apóstolo Paulo (Fl 4, 4-7) transmite à comunidade
cristã o grande mandamento da alegria que antes os profetas tinham
dirigido à filha de Sião: Irmãos alegrai-vos!
A alegria do
cristão é feita de uma esperança viva, com base na Ressurreição de
Cristo e que tem por objeto uma herança conservada nos céus.
Porém,
além da esperança, é preciso também outra virtude teologal: a caridade,
isto é, mais existencialmente, ser amados e amar.
Escreveu Santo
Agostinho: “Todo ser tende, como força própria, para o “seu lugar”,
isto é, para aquele ponto onde sabe que vai encontrar o próprio
descanso, a própria paz”. A alegria consiste em tender para aquele
lugar”. E qual é, para nós, criaturas racionais, “o nosso lugar”? É
Deus! Qual é o impulso que nos impele para Ele? O Amor! Cada um de nós é
impelido pelo próprio desejo de amor. Somente quem é amado e quem ama
sabe, realmente, o que é a alegria. Eis porque a Escritura diz que a
alegria é fruto do Espírito Santo (Rm 14, 17), e que os primeiros
discípulos estavam cheios de alegria no Espírito Santo (At 13, 52).
Porque o Espírito Santo é o Amor!
Devemos, portanto, ser afáveis,
amáveis e bons; a este aspecto humano da caridade se refere S. Paulo
quando escreve que a caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem
inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa.
Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor.
Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a Verdade (1Cor 13,
4-6). São essas delicadezas da caridade que mais vezes faltam nas
pessoas boas.
Hoje a Palavra de Deus nos motiva a fazer diversos
propósitos. Não se pode ser feliz sozinho; “alegrai-vos” significa
também: irradiai alegria. O inimigo da alegria não é o sofrimento; é o
egoísmo, o voltar-se sobre si mesmo, a ambição. O homem voltado sobre si
mesmo é um porco-espinho que mostra somente espinhos, uma casa fechada.
Poderemos estar alegres se o Senhor estiver verdadeiramente
presente na nossa vida, se não o tivermos perdido, se não tivermos os
olhos turvados pela tibieza ou pela falta de generosidade. Quando, para
encontrar a felicidade, se experimentam outros caminhos fora daquele que
leva a Deus, no fim só se acha infelicidade e tristeza. Fora de Deus
não há alegria verdadeira. Não pode havê-la. Encontrar Cristo, ou tornar
a encontrá-Lo, é fonte de uma alegria profunda e sempre nova.
O
cristão deve ser um homem essencialmente alegre. Mas a sua alegria não é
uma alegria qualquer, é a alegria de Cristo, que traz a justiça e a
paz, e que só Ele pode dar e conservar, porque o mundo não possui o seu
segredo.
A alegria do mundo procede de coisas exteriores: nasce
precisamente quando o homem consegue escapar de si próprio, quando olha
para fora, quando consegue desviar o olhar do seu mundo interior, que
produz solidão porque é olhar para o vazio. O cristão leva a alegria
dentro de si, porque encontra a Deus na sua alma em Graça. Esta é a
fonte da sua alegria! Não nos é difícil imaginar a Virgem Maria, nestes
dias do Advento, radiante de alegria com o Filho de Deus no seu seio. A
alegria do mundo é pobre e passageira. A alegria do cristão é profunda e
capaz de subsistir no meio das dificuldades. É compatível com a dor,
com a doença, com o fracasso e as contradições. “Eu vos darei uma
alegria que ninguém vos poderá tirar” (Jo 16,22), prometeu o Senhor.
Nada nem ninguém nos arrebatará essa paz gozosa, se não nos separarmos
da sua fonte.
A nossa alegria deve ter um fundamento sólido. Não
se pode apoiar exclusivamente em coisas passageiras: notícias
agradáveis, saúde, tranqüilidade, situação econômica desafogada, etc.,
coisas que em si são boas se não estiverem desligadas de Deus,mas que
por si mesmas são insuficientes para nos proporcionarem a verdadeira
alegria.
O Senhor pede que estejamos sempre alegres! Só Ele é
capaz de sustentar tudo na nossa vida. Não há tristeza que Ele não possa
curar: “Não temas, mas apenas crê” (Lc 8,50), diz-nos o Senhor.
Fujamos
da tristeza! Uma alma triste está à mercê de muitas tentações. Quantos
pecados se têm cometido à sombra da tristeza!Por outro lado, quando a
alma está alegre, abre-se e é estímulo para os outros; quando está
triste obscurece o ambiente e faz mal aos que tem à sua volta.
A
tristeza nasce do egoísmo, de pensarmos em nós mesmos esquecendo os
outros. Quem anda excessivamente preocupado consigo próprio dificilmente
encontrará a alegria da abertura para Deus e para os outros. Em
contrapartida, com o cumprimento alegre dos nossos deveres, podemos
fazer muito bem à nossa volta, pois essa alegria leva a Deus.
“Dentro
de pouco, de muito pouco, Aquele que vem chegará e não tardará” (Hb
10,37), e com Ele chegarão a paz e a alegria; em Jesus encontraremos o
sentido da nossa vida.
Que a nossa alegria seja um testemunho muito forte de que Cristo já está no meio de nós.
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