O Futuro da Humanidade!
Mons. José Maria Pereira
As leituras bíblicas deste domingo levam à reflexão sobre o tema da família.
No Antigo Testamento, em Gn 2,18-24, lê-se que Deus faz desfilar
perante o homem “todos os animais dos campos e todas as aves do céu”,
para que desse o nome a cada um deles e visse se entre eles encontrava
“uma auxiliar semelhante a ele.”
Adão põe o nome a cada um dos animais, mas nenhum deles satisfaz a sua necessidade de companhia e amor.
Então diz o Senhor Deus: “Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe
uma auxiliar semelhante a ele.” E Deus cria a mulher e quando esta é
apresentada ao homem, este prorrompe numa exclamação de alegria,
reconhecendo nela a companheira ideal: “Desta vez, sim, é osso dos meus
ossos e carne da minha carne!” O texto termina por afirmar: “Por isso, o
homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão
uma só carne.” A indissolubilidade do matrimônio encontra nestas
palavras o seu fundamento, a sua razão de ser profunda e sagrada.
O Evangelho (Mc 10, 2-16) apresenta os fariseus que se aproximam de
Jesus para tentá-Lo, para fazê-Lo entrar em conflito com a Lei de
Moisés. Perguntam a Jesus se era lícito ao marido repudiar a sua mulher.
Jesus retoma o texto de Gn 2 (citado acima) e declara que o casamento é
indissolúvel; isto desde a origem, conforme fora instituído por Deus,
no princípio da criação.
Diz Jesus: Quem repudia sua mulher e se
casa com outra comete adultério contra a primeira (Mc 10,11). Não há por
que duvidar: Jesus com essas palavras exclui precisamente aquilo que
nós chamamos de divórcio.
O divórcio! Não falar disso, neste
caso, somente porque o assunto se tornou melindroso, seria fugir do
Evangelho. Terríveis são os males do divórcio jurídico: mulheres
condenadas à solidão, filhos destruídos psicologicamente pela escolha
penosa que devem fazer entre a própria mãe e o próprio pai. Conheço
crianças nesta situação; depois que vi seus olhos, não preciso ouvir
mais conferências sobre os males do divórcio: os vi todos estampados
naqueles olhos de passarinho ferido.
“O homem não separe”
significa sim: a lei humana não separe; mas significa também, e antes de
tudo: o marido não separe a mulher de si; a mulher não separe de si o
marido.
Jesus lembra a unidade: “... e os dois formarão uma só
carne.” (Mc. 10,8), isto é, quase uma só pessoa, com a concórdia nos
mesmos projetos e sentimentos; implicitamente inculca a construir sobre a
unidade e renová-la cada dia. Como? Procurando resolver logo que surgem
os problemas, as incompreensões, as friezas. Depois a confiança
recíproca; esta é como um lubrificante; falar, comunicar as próprias
dificuldades e também tentações. Enquanto há confiança recíproca, o divórcio fica longe.
Devemos
nos convencer de que tudo isto não basta e que são necessários os meios
espirituais: sacrifício e oração. Se o matrimônio encontra tanta
dificuldade de se manter unido, é porque enfraqueceu o espírito de
sacrifício e se quer só receber do outro antes de dar ao outro.
A
dignidade do matrimônio e a sua estabilidade é um dos temas que mais
importa defender e fazer com que muitos compreendam. Pois, a saúde moral
dos povos está ligada ao bom estado do matrimônio. Quando este se
corrompe, podemos afirmar que a sociedade está doente, gravemente
doente.
Por isso, todos temos que rezar e velar pelas famílias com tanta urgência!
Os que se casam iniciam juntos uma vida nova que devem percorrer na
companhia de Deus. É o próprio Senhor que os chama para que cheguem a
Ele por esse caminho, pois o matrimônio é uma autêntica vocação
sobrenatural. Sacramento grande em Cristo e na Igreja (Ef. 5,32), diz
São Paulo; sinal sagrado que santifica, ação de Jesus que se apossa da
alma dos que se casam e os convida a segui-Lo, transformando toda a vida
matrimonial num caminhar divino sobre a terra.
Não esqueçamos
que a primeira coisa que o Messias quis santificar foi um lar. O
primeiro milagre que Jesus fez foi no Casamento, em Caná da Galiléia(Jo
2, 1-11). E que é precisamente nas famílias alegres, generosas,
cristãmente sóbrias, que nascem as vocações para a entrega plena a Deus
na virgindade ou no celibato. Todas elas representam um dom que Deus
concede muitas vezes aos pais que rezam pelos filhos de todo o coração e
com constância.
A família, tal como Deus a quis, é o lugar
idôneo para tornar-se, com o amor e o bom exemplo dos pais, dos irmãos e
dos outros membros do círculo familiar, uma verdadeira escola de
virtudes em que os filhos se formem para serem bons cidadãos e bons
filhos de Deus. É no meio da família firmemente voltada para Deus que
cada um pode encontrar a sua própria vocação, aquela a que Deus o chama.
Numa época, em que muitos procuram destruir ou desfigurar a
família, é urgente proclamar o Plano de Deus sobre o Matrimônio e a
Família. Não é uma norma da Igreja, é Plano de Deus, reafirmado por
Cristo.
A Missão dos pais é repetir o gesto das mães israelitas:
levar seus filhos a Jesus, para que, abençoados por Ele e crescendo na
sua escola, conservem a inocência e sejam um dia recebidos no reino dos
Céus, preparado para eles.
O Documento de Aparecida diz: “Cremos
que a família é imagem de Deus que em seu mistério mais íntimo não é
uma solidão, mas uma família. Na comunhão de amor das Três Pessoas
Divinas, nossas famílias têm sua origem, seu modelo perfeito, sua
motivação mais bela e seu último destino” (434).
A família é insubstituível para a serenidade pessoal e para a educação dos filhos.
A família é um dos tesouros mais importantes dos povos, é patrimônio da
humanidade inteira. “O futuro da humanidade passa pela família” (São
João Paulo II).
A oração! Rezemos pelo sínodo da família que acontece, em Roma, no mês de outubro.
A
oração, a melhor é aquela feita juntos, marido e mulher. Rezemos pelos
casais e para aqueles que estão se encaminhando ao matrimônio; que o
Senhor afaste deles o divórcio do coração e o divórcio jurídico.
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