Tentações e conversão!
Mons.
José Maria Pereira
O 1º Domingo
da Quaresma nos apresenta todos os anos o mistério do jejum de Jesus no deserto,
seguido das tentações (Mc 1, 12-15).
Quaresma é
para nós um tempo forte de conversão e renovação em preparação à Páscoa. É
tempo de rasgar o coração e voltar ao Senhor. Tempo de retomar o caminho e de
se abrir à graça do Senhor, que nos ama e nos socorre. É um tempo sagrado para
aprofundar o Plano de Deus e rever a nossa vida cristã. E nós somos convidados
pelo Espírito ao DESERTO da Quaresma para nos fortalecer nas TENTAÇÕES, que
freqüentemente tentam nos afastar dos planos de Deus.
A Quaresma
comemora os quarenta dias que Jesus passou no deserto, como preparação para
esses anos de pregação que culminam na CRUZ e na glória da Páscoa. Quarenta
dias de oração e de penitência que, ao findarem, desembocam na cena que Marcos
narra no cap. 1, 12-15. É uma cena cheia de mistério, que o homem em vão pretende
entender – Deus que se submete à tentação, que deixa agir o Maligno –, mas que
pode ser meditada se pedirmos ao Senhor que nos faça compreender a lição que
encerra.
É a primeira
vez que o demônio intervém na vida de Jesus, e faz isto abertamente. Põe à
prova Nosso Senhor; talvez queira averiguar se chegou a hora do Messias. Jesus
deixa-o agir para nos dar exemplo de humildade e para nos ensinar – diz São
João Crisóstomo –, quis também ser conduzido ao deserto e ali travar combate
com o demônio a fim de que os batizados, se depois do batismo sofrem maiores
tentações, não se assustem com isso, como se fosse algo de inesperado. Se não
contássemos com as tentações que temos de sofrer, abriríamos a porta a um
grande inimigo: o desalento e a tristeza.
A narrativa
das tentações que Jesus sofreu mostra que Jesus “foi experimentado em tudo” (Hb
4, 15), comprovando também a veracidade da Encarnação do Verbo de Deus.
Diz Santo
Agostinho que, na sua passagem por este mundo nossa vida não pode escapar à
prova da tentação, dado que nosso progresso se realiza pela prova. De fato,
ninguém se conhece a si mesmo sem ser experimentado, e não pode ser coroado sem
ter vencido, e não pode vencer, se não tiver combatido e não pode lutar se não
encontrou o inimigo e as tentações.
Por isso, a
existência do ser humano nesta terra é uma batalha contínua contra o mal. É
esta luta contra o pecado, a exemplo de Cristo, que devemos intensificar nesta
Quaresma; luta que constitui uma tarefa para a vida toda.
O demônio
promete sempre mais do que pode dar. A felicidade está muito longe das suas
mãos. Toda a tentação é sempre um engano miserável! Mas, para nos experimentar,
o demônio conta com as nossas ambições. E a pior delas é desejar a todo o custo
a glória pessoal; a ânsia de nos procurarmos sistematicamente a nós mesmos nas
coisas que fazemos e projetamos. Muitas vezes, o pior dos ídolos é o nosso
próprio eu. Temos que vigiar, em luta constante, porque dentro de nós permanece
a tendência de desejar a glória humana, apesar de termos dito ao Senhor que não
queremos outra glória que não a dEle. Jesus também se dirige a nós quando diz:
“Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás”. E é isto o que nós desejamos
e pedimos: servir a Deus, alicerçados na vocação a que Ele nos chamou.
O Senhor está
sempre ao nosso lado, em cada tentação, e nos diz afetuosamente: “Confiai: Eu
venci o mundo” (Jo16, 33). E com o salmista podemos dizer: “O Senhor é a minha
luz e a minha salvação; a quem temerei?” (Sl 26, 1).
“Procuremos
fugir das ocasiões de pecado, por pequenas que sejam, pois aquele que ama o
perigo nele perecerá” (Eclo 3, 27). Como Jesus nos ensinou na oração do Pai
Nosso: “Não nos deixeis cair em tentação”; é necessário repetir muitas vezes e
com confiança essa oração!
Contamos sempre
com a graça de Deus para vencer qualquer tentação. Usemos as armas para
vencermos na batalha espiritual, que são: a oração contínua, a sinceridade com
o diretor espiritual, a Eucaristia, o sacramento da Confissão (Penitência), um
generoso espírito de mortificação cristã, a humildade de coração e uma devoção
terna e filial a Nossa Senhora.
No caminho de
conversão quaresmal, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos
apresenta a Campanha da Fraternidade com o tema “Fraternidade: Igreja e
sociedade” e lema “Eu vim para servir” (Mc 10,45)
A campanha da
Fraternidade 2015 buscará recordar a Vocação e missão de todo o cristão e das
comunidades de fé, a partir do diálogo e colaboração entre a Igreja e
sociedade, propostos pelo Concilio Ecumênico Vaticano II.
Trecho da
mensagem do Papa Francisco:
Queridos
irmãos e irmãs do Brasil!
Aproxima-se a
Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa; tempo de penitência, oração e
caridade, tempo de renovarnossas vidas, identificando-nos com Jesus através da
sua entrega generosa aos irmãos, sobretudo aos mais necessitados. Neste ano, a
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, inspirando-se nas palavras d’Ele“O
filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em
resgate por muitos” (Mc 10,45), propõe como tema de sua habitual campanha
“Fraternidade: Igreja e Sociedade”.
De fato a
Igreja, enquanto “Comunidade congregada por aqueles que, crendo, voltam o seu
olhar a Jesus, autor da salvação e principio da unidade” (Const. Dogmática Lumen gentium, 3), não pode ser
indiferente às necessidades daqueles que estão ao seu redor, pois, “as alegrias
e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos
pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as
tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (Const. Pastoral Gaudium et spes, 1). Mas, o que fazer?
Durante os quarenta dias em que Deus chama o seu povo à conversão, a Campanha
da Fraternidade quer ajudar a aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a
colaboração entre a Igreja e a Sociedade – propostos pelo Concilio Ecumênico Vaticano
II – como serviço de edificação do Reino de Deus, no coração e na vida do povo
brasileiro.
Queridos
irmãos e irmãs, quando Jesus nos diz “Eu vim para servir” (Cf. Mc 10, 45), nos
ensina aquilo que resume a identidade do cristão; amar servindo. Por isso, faço
votos que o caminho quaresmal deste ano, à luz das propostas da Campanha da
Fraternidade, predisponha os coraçõespara a vida nova que Cristo nos oferece, e
que a força transformadora que brota da sua Ressureição alcance a todos em sua
dimensão pessoal, familiar, social e cultural e fortaleça em cada coração
sentimentos de fraternidade e de viva cooperação. A todos e a cada um, pela
intercessão de Nossa Senhora Aparecida, envio de todo coração a Benção
Apostólica, Pedindo que nunca deixem de rezar por mim. (Papa Francisco)
Vale a pena
fazer nossa, a oração da coleta do 1° Domingo da Quaresma: “Concedei-nos, ó
Deus onipotente, que, ao longo desta Quaresma, possamos progredir no
conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a seu amor por uma vida santa.”
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