As Aparências Enganam
Mons. José Maria Pereira
O Evangelho (Mt
21,28-32) começa com uma pergunta dirigida por Jesus aos seus amigos
“ Que vos
parece?”; para obter deles uma
resposta que os ilumine no seu próprio comportamento . A pergunta é
muito simples: dois filhos são enviados pelo pai a trabalhar na vinha ; o primeiro responde
“ não”,mas depois arrepende –se e vai ; o segundo
diz “sim” mas não vai.
“Qual dos dois fez a vontade do pai? Os sumos sacerdotes e anciãos do povo
responderam: “O primeiro” (Mt 21,29-31). É a sua condenação que Jesus proclama a
seguir bem claramente: “os cobradores de
impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus”. Mas, por que razão ? porque os que
se opõem ao Senhor – membros do povo escolhido e , além disso , sumos
sacerdotes e anciãos do povo – foram os
primeiros a ser chamados à salvação,
mas deram uma resposta mais aparente do que
real , pois foi deles que Jesus afirmou : “dizem , mas não fazem”
(Mt 23,3). Ouviram a pregação de João Batista , mas não lhes deram crédito
porque julgavam-se excessivamente seguros da sua ciência e da não necessidade
de aprender ; excessivamente seguros da sua justiça e da não necessidade de
conversão : “não vos arrependestes para crer nele” (Mt. 21,32 ) não aceitaram a
palavra de João Batista nem a de Jesus. Veem-se , pois , colocados para depois , nada mais e nada menos que as pessoas
de mau viver , cobradores de impostos e prostitutas ; pois estes arrependeram-se
, “afastaram-se do mal que praticaram , acreditaram e praticaram “a justiça”
(Ez.18,27), e , por isso foram recebidos
no Reino de Deus . Espontaneamente somos levados a pensar em Levi,
Zaqueu, na adúltera ou na pecadora que, em casa de Simão, se prostra a Seus pés,
cheia de dor e de amor.
Se os
adversários de Jesus não acreditaram na Sua palavra e não se converteram, foi,
principalmente, por orgulho, o bicho roedor de todo o bem e máximo obstáculo à
salvação. Por isso, surge muito a propósito, a exortação de São Paulo à Virtude
da humildade: “Tende entre vós o mesmo
sentimento que existe em Cristo Jesus.
Ele que era de condição divina...esvaziou-se a Si mesmo, assumindo a
condição de escravo, tornando –se igual aos homens” (Fl.2,5-7). Se o
Filho de Deus Se humilhou ao ponto de carregar sobre Si os pecados dos homens ,será pedir muito que estes sejam
humildes no reconhecimento do seu orgulho e dos seus pecados?
Peçamos ao
Senhor a graça de progredirmos na virtude da humildade, fundamento de todas as
outras; pois a humildade, ensina o Cura D’Ars, “é a porta pela qual passam as
graças que Deus nos outorga; é ela que amadurece todos os nossos atos , dando
–lhes valor e fazendo com que sejam agradáveis a Deus .Finalmente , constitui-nos
donos do coração de Deus ,até fazer Dele ,por assim dizer nosso servidor , pois
Deus nunca pode resistir a um coração humilde”. É uma virtude que não consiste essencialmente
em reprimir os impulsos da soberba , da ambição , do egoísmo , da vaidade ...
Trata-se de uma virtude que consiste fundamentalmente em inclinar-se diante de
Deus e diante de tudo o que há de
Deus nas criaturas , em reconhecer a
nossa pequenez e indigência em face da
grandeza do Senhor .As almas santas sentem uma alegria muito grande em
aniquilar-se diante de Deus , em reconhecer que só Ele é grande e que , em comparação
com a d'Ele, todas as grandezas humanas estão vazias de verdade e não são mais do que mentira. Este aniquilamento não
reduz, não encurta as verdadeiras aspirações da criatura, mas enobrece-as e
concede-lhes novas asas, abre-lhes horizontes mais amplos.
A humildade nos
fará descobrir que todas as coisas boas que existem em nós vêm de Deus, tanto
no âmbito da natureza como no da graça: “Diante de Ti,Senhor , a minha vida é
como um nada”(Sl. 39(38),6). Somente a fraqueza e o erro é que são
especificamente nossos.
A humildade
nada tem a ver com a timidez ou a mediocridade.Os santos foram homens
magnânimos, capazes de grandes empreendimentos para a glória de Deus .O humilde é audaz porque conta com a graça do Senhor , que tudo pode, porque recorre
com frequência à oração , convencido da
absoluta necessidade da ajuda divina.E
por ser simples e nada arrogante ou autossuficiente , atrai as
amizades , que são veículo para uma ação apostólica eficaz e de longo alcance .
A soberba e a
tristeza andam frequentemente de mãos dadas, enquanto a alegria é patrimônio da
alma humilde.
Hoje o Senhor
nos envia a trabalhar na sua vinha. Somos o filho que diz Sim ou o que diz Não?
Somos o primeiro ou o segundo? Seria melhor que fôssemos como o terceiro filho,
do qual a parábola não fala: aquele que diz sim e vai mesmo!
O que importa
mesmo não é parecer, mas ser realmente, realizar na vida o plano de Deus. Para
tal, que tenhamos “o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus” (Fl. 2,5).
Sejamos humildes, sinceros. As aparências enganam!