Exaltação da Santa
Cruz
Mons. José Maria
Pereira
A devoção e o
culto à Santa Cruz, na qual Cristo deu a sua vida por nós, remonta aos começos
do cristianismo. A Igreja canta com entusiasmo a Santa Cruz, pois foi o
instrumento da nossa Salvação; se a árvore a cuja sombra os nossos primeiros
pais pecaram foi a causa de perdição, a árvore da Cruz é origem da nossa
salvação eterna.
A Palavra de
Deus (Num 21,4-9) narra-nos como o Senhor castigou o Povo eleito por ter
murmurado contra Moisés e contra Deus ao experimentar as dificuldades do
deserto; enviou-lhe serpentes que causavam estragos entre os israelitas. Quando
se arrependeram, o Senhor disse a Moisés: “Faze uma serpente de bronze e
coloca-a como sinal sobre uma haste; aquele que for mordido e olhar para ela
viverá. Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e colocou-a como sinal sobre
uma haste. Quando alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente
de bronze, ficava curado” (Num 21, 8-9).
A serpente de
bronze era figura de Cristo na Cruz; quem o olha obtém a salvação. Assim o diz
Jesus no diálogo mantido com Nicodemos: “Como Moisés levantou a serpente no
deserto, assim é necessário que seja levantado o Filho do Homem, a fim de que
todo aquele que crer tenha nele vida eterna” ( Jo 3, 14-15).
Desde então, o
caminho da santidade passa pela Cruz, e ganham sentido todas essas realidades
que tanto precisam dele, como são a doença, a dor, as aflições econômicas, o
fracasso..., a mortificação voluntária. Mais ainda: Deus abençoa com a Cruz
quando quer conceder grandes bens a um dos seus filhos, a quem trata então com
particular predileção.
Não são poucos
os que fogem em debandada da Cruz de Cristo, e se afastam da verdadeira
alegria, da eficácia sobrenatural, da própria santidade; fogem de Cristo.
Levemos a Cruz sem rebeldia, sem queixas, com amor.
É possível que
tenhamos aprendido desde a nossa
infância a fazer o sinal da Cruz sobre a nossa testa, os nossos lábios e o
nosso coração, em sinal externo da fé que professamos. A Cruz é a árvore de
riquíssimos frutos, arma poderosa que afasta todos os males e espanta os
inimigos da nossa salvação: Pelo sinal da Santa Cruz, livrai-nos Deus Nosso
Senhor dos nossos inimigos, dizemos todos os dias ao persignar-nos. A Cruz,
ensina São João Damasceno, “é o escudo e o troféu contra o demônio. É o sinal
para que não sejamos atingidos pelo anjo exterminador, como diz a Escritura( Ex
9,12). É o instrumento para levantar aqueles que caem, o apoio para os que se
mantém em pé, o bastão dos débeis, o guia dos que se extraviam, a meta dos que
avançam, a saúde da alma e do corpo. Afugenta todos os males, acolhe todos os
bens, é a morte do pecado, a semente da ressurreição, a árvore da vida eterna”.
O Senhor pôs a salvação da humanidade no lenho da Cruz, para que a vida
ressurgisse de onde viera a morte, e aquele que vencera na árvore do Paraíso
fosse vencido na árvore da Cruz ( Prefácio da Missa da Exaltação da Santa Cruz).
A Cruz
apresenta-se na nossa vida de diversas maneiras: doença, pobreza, cansaço, dor,
desprezo, solidão... Hoje podemos examinar como é a nossa disposição habitual
em face dessa Cruz que às vezes se mostra áspera e dura, mas que, se a levamos
com amor, converte-se em fonte de purificação e de Vida, e também de alegria.
O amor à Cruz
produz abundantes frutos na alma. Em primeiro lugar, leva-nos a descobrir
Jesus, que sai ao nosso encontro e carrega sobre os seus ombros a parte mais
pesada da contradição. A nossa dor, associada à do Mestre, deixa de ser o mal
que entristece e arruína, e converte-se em meio de íntima união com Deus.
A Cruz de cada
dia é uma grande oportunidade de purificação, de despreendimento, de aumento de
glória.
A única dor
verdadeira é afastar-se de Cristo. Os outros sofrimentos são passageiros e
convertem-se em alegria e paz.
O trato e a
amizade com o Mestre ensinam-nos a ver e a enfrentar as dificuldades que se
apresentam com um espírito jovem e decidido, sem nenhum assomo de tristeza ou
de queixa.
À semelhança
dos santos, encararemos as contrariedades como um estímulo que é preciso
transpor neste combate que é a vida. Essa disposição de ânimo alegre e
otimista, mesmo nos momentos difíceis, não é fruto do temperamento ou da idade:
nasce de uma profunda vida interior, da consciência sempre presente da nossa
filiação divina. É uma atitude serena, que cria em todas as circunstâncias um
bom ambiente à nossa volta na família, no trabalho, com os amigos... - e
constitui uma grande arma para aproximarmos os outros de Deus.
Reza o hino:
Cruz fiel, tu és a mais nobre de todas as árvores; nenhuma outra pode
comparar-se a ti em folhas, em flor, em fruto”.
Ensina São
Josemaría Escrivá: “É verdadeiramente suave e amável a Cruz de Jesus. Não
contam aí as penas: só a alegria de nos sabermos corredentores com Ele”( Via
Sacra).
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