Santíssima Trindade
Mons. José Maria Pereira
Depois de ter celebrado os mistérios da Salvação, desde o
nascimento de Cristo (Natal) até a vinda do Espírito Santo (Pentecostes), a
liturgia propõe-nos o mistério central de nossa fé: a Santíssima Trindade.
Toda a vida da Igreja está impregnada pelo Mistério da
Santíssima Trindade. E quando falamos aqui de mistério, não pensemos no
incompreensível, mais na realidade mais profunda que atinge o núcleo do nosso
ser e do nosso agir.
A revelação da Trindade é, portanto, uma cascata de amor: é o
gesto supremo da condescendência divina para com o homem. Os gregos diziam: “
Nenhum Deus pode se misturar com o homem” ( Platão). Nosso Deus, em vez disso,
se misturou com o homem; tramou sua vida com a do homem preparando-o para a
comunhão eterna com ele.
Mas é Cristo quem nos revela a intimidade do mistério
trinitário e o convite para que participemos dele. “Ninguém conhece o Pai senão
o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt, 11, 27). Ele revelou-nos
também a existência do Espírito Santo junto com o Pai e enviou-o à Igreja para
que a santificasse até o fim dos tempos; e revelou-nos a perfeitíssima Unidade
de vida entre as Pessoas divinas (Cf. Jo16, 12-15).
O mistério da Santíssima Trindade é o ponto de partida de
toda a verdade revelada e a fonte de que procede a vida sobrenatural e para a
qual nos encaminhamos: somos filhos do Pai, irmãos e co-herdeiros do Filho,
santificados continuamente pelo Espírito Santo para nos assemelharmos cada vez
mais a Cristo.
Por ser o mistério central da vida da Igreja, a Santíssima
Trindade é continuamente invocada em toda a liturgia. Fomos batizados em nome
do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e em seu nome perdoam-se os pecados;
ao começarmos e ao terminarmos muitas orações, dirigimo-nos ao Pai, por
mediação de Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Muitas vezes ao longo
do dia, nós, os cristãos repetimos: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito
Santo.
Meditando sobre a Trindade dizia S. Josemaria Escrivá: “Deus
é o meu Pai! Se meditares nisto, não sairás dessa consoladora consideração.
Jesus é meu Amigo íntimo ! (outra descoberta), que me ama com
toda a divina loucura do seu coração.
O Espírito Santo é meu Consolador!, que me guia nos passos de
todo o meu caminho. Pensa bem, nisso. Tu és de Deus..., e Deus é teu” (Forja, nº2).
Desde que o homem é chamado a participar da própria vida
divina pela graça recebida no Batismo, está destinado a participar cada vez
mais dessa Vida. É um caminho que é preciso percorrer continuamente.
A Santíssima Trindade habita na nossa alma como num templo. E
São Paulo faz-nos saber que o amor de Deus foi derramado em nossos corações
pelo Espírito Santo que nos foi dado (Cf. Rm 5, 5). E aí, na intimidade da
alma, temos de nos acostumar a relacionar-nos com Deus Pai, com Deus Filho e
com Deus Espírito Santo. Dizia Santa Catarina de Sena: “Vós, Trindade eterna,
sois mar profundo, no qual quanto mais penetro, mais descubro, e quanto mais
descubro, mais vos procuro”.
Imensa é a alegria por termos a presença da Santíssima
Trindade na nossa alma! Esta alegria é destinada a todo cristão, chamado à
santidade no meio dos seus afazeres profissionais e que deseja amar a Deus com
todo o seu ser; se bem que, como diz Santa Teresa, “há muitas almas que
permanecem rodando o castelo (da alma), no lugar onde montam guarda as
sentinelas , e nada se lhes dá de penetrar nele. Não sabem o que existe em tão
preciosa mansão, nem quem mora dentro dela”. Nessa “preciosa mansão”, na alma
que resplandece pela graça, está Deus conosco: o Pai, o Filho e o Espírito
Santo.
Desde pequenos, aprendemos de nossos pais a fazer o sinal da
cruz e chamar a Deus: de Pai, Filho e Espírito Santo.
Assim com toda a naturalidade, estávamos invocando o mistério
mais profundo de nossa fé e da vida cristã: Santíssima Trindade que hoje
celebramos.
Só Cristo nos revelou claramente essa verdade: Fala
constantemente do Pai: Quando Felipe diz: “Mostra-nos o Pai...”, Jesus
responde: “Felipe... quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,8).
Jesus promete o Espírito Santo: “Quando vier o Espírito da
Verdade, ele vos conduzirá à plena Verdade”.
Quando se despede, no dia da Ascensão, afirma: “Ide... e
batizai em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.”
A contemplação e o louvor à Santíssima Trindade são a
substância da nossa vida sobrenatural, e esse é também o nosso fim: porque no
Céu, junto de Nossa Senhora – Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho, Esposa de
Deus Espírito Santo: mais do que Ela, só Deus - , a nossa felicidade e o nosso
júbilo serão um louvor eterno ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. Estes
vieram em nós no Batismo. Estabeleceram em nós sua habitação e nos são mais
íntimos do que nós mesmos, diz Santo Agostinho. Em seu nome e no diálogo com
eles desenvolve-se toda a nossa vida de fé, desde o berço até o túmulo. No
limiar da existência fomos batizados “em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo”. No ocaso dela, partiremos deste mundo ainda “em nome do Pai, do Filho e
do Espírito Santo”.
Fazendo o sinal da Cruz, nós declaramos a cada vez, nossa
vontade de pertencer à Trindade.
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