Viver sem medo?
Mons. José Maria Pereira
Encontramos muitas pessoas com
medo! Muitas vezes estamos cheios de medo. A criança tem medo do escuro e da
pessoa que grita. O adolescente tem medo de si: medos inconscientes, mas
dolorosos; medos que se chamam timidez, complexos de inferioridade,
agressividade.
Muitos adultos vivem roídos de
medo, da pior forma de medo – a angústia. Muitas vezes vivemos tremendo: medo
do futuro, medo da morte, ou simplesmente do amanhã. Por medo, a pessoa se
tranca dentro de seu pequeno mundo, cada vez mais se isola da sociedade. Por
medo, levanta muros protetores cada vez mais altos, criam-se condomínios mais
fechados e seguros... Medo da doença... do desemprego....
Porém, Jesus no Evangelho (Mt 10,
26-33), com sua Palavra, derrama um bálsamo em nossos corações: “Não tenhais
medo!” É uma espécie de refrão que ressoa nas palavras de Jesus, repetido
(nesse trecho) três vezes. Antes de qualquer raciocínio, hoje deveríamos
assimilar e por assim dizer acolher em nós, saboreando-lhe toda a doçura, estas
palavras de Jesus: Não tenhais medo!
Todo o Evangelho, e antes ainda o
Antigo Testamento, está cheio disso. A Abraão Deus diz para não ter medo, na
hora mesma que o chama para fora de sua terra, para um país desconhecido. Aos
profetas diz: não temas, eu estou contigo. A Maria: não temas, encontraste
graça. Aos apóstolos, enviando-os ao mundo, diz: não temais diante dos
tribunais e diante dos governadores. A todos os discípulos: Não temais, pequeno
rebanho (Lc 12, 32).
Jesus oferece-nos as motivações,
oferece-nos o verdadeiro remédio para nossos medos. Não temais – diz – aqueles
que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Não temais, pois! Vós valeis
mais do que os pássaros. No entanto, nenhum cai por terra sem a vontade do
Vosso Pai. “O Vosso Pai” – o que dizer: o que fará por vós lhe sois filhos? A
revelação da PATERNIDADE de Deus e a revelação de uma vida além da morte asseguram,
portanto, o convite de Jesus. Todo o medo é redimensionado no momento em que
Jesus traça e revela um plano da vida humana – o plano mais verdadeiro e mais
pessoal do homem – em que nada o pode prejudicar, nem quem o mata. Vós podeis
nos matar, mas não podeis nos prejudicar, exclamava, dirigindo-se aos
perseguidores, o mártir São Justino, nos primeiros dias da Igreja.
A raiz maligna de cada medo
humano tem um nome preciso: é a morte, fruto do pecado. Jesus a venceu,
expiando o pecado, todo o pecado do mundo. Venceu a morte passando pela morte e
esvaziando-a de todo o veneno. A morte e a Ressurreição de Cristo são penhor de
nossa vitoria, são fonte de nossa esperança e de nossa coragem: Se Deus é por
nós, quem será contra nós... Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação?
A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? ... Mas, em
todas essas coisas, somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou
(Rm 8, 31-37). Tribulações, angústia, perseguição e fome: a Escritura tomou
conhecimento de nossos medos mais profundos, mas nos ofereceu uma saída, uma
esperança de vitória, graças a Jesus Cristo, que nos amou e se entregou por nós
(Gl 2,29).
Sem medo à vida e sem medo à
morte, alegres no meio das dificuldades, esforçados e abnegados perante os
obstáculos e as doenças, serenos perante um futuro incerto: o Senhor pede-nos
que vivamos assim. E isto será possível se considerarmos muitas vezes ao dia
que somos filhos de Deus, especialmente quando somos assaltados pela
inquietação, pela perturbação e pelas sombras da vida. Está é a vitória que
vence o mundo: a nossa fé (1Jo 5, 4) . E do alicerce seguro de uma fé
inamovível surge uma moral de vitória que não é orgulho nem ingenuidade, mas a
firmeza alegre do cristão que, apesar das suas misérias e limitações pessoais,
sabe que essa vitória foi ganha por Cristo com a sua Morte na Cruz e com a sua
gloriosa Ressurreição. Deus é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei?
Nem ninguém, nem nada, Senhor. Tu és a segurança dos meus dias!
Nas tribulações o Senhor nos
dirá: “Basta-te a minha graça” (2 Cor 12, 9).
Em todos os momentos peçamos a
proteção da Virgem Maria. “Na hora do desprezo da Cruz, Nossa Senhora está lá,
perto do seu Filho, decidida a correr a sua mesma sorte. – percamos o medo de
nos comportarmos como cristãos responsáveis, quando isso não é cômodo no
ambiente em que nos desenvolvemos: Ela nos ajudará” (São Josémaria Escrivá,
Sulco, 977).
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