Viver o Presente!
Mons. José Maria Pereira
A Palavra de
Deus em Is. 49, 14-15 tem a expressão mais profunda e eloqüente da ternura
maternal de Deus e de seu amor ao povo eleito e ao homem. A mãe não ama seu
filho porque ele é bom, mas porque é seu filho.
Deus é
comparado a uma MÃE CARINHOSA, que não esquece de seu filhinho: “Poderá uma mãe
esquecer de seu filhinho, e não amar o fruto do seu ventre?
Mesmo se
houvesse alguma mulher capaz de esquecê-lo, Eu não te esqueceria jamais” (Is
49, 14-15).
No Evangelho
(Mt 6, 24-34) Jesus ensina as pessoas a buscarem o essencial, o que realmente
conta.
O Senhor
dá-nos este conselho: “Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de
amanhã terá suas preocupações! Para cada dia bastam seus próprios problemas”
(Mt 6, 34). “E porque ficais preocupados com a roupa?” (Mt 6, 28). Jesus não
diz que não nos ocupemos das coisas que se referem ao alimento e ao vestuário,
mas que não nos preocupemos com desassossego e perturbação dessas coisas. É
como se dissesse: “Não vos preocupeis excessivamente com os bens materiais,
ainda que necessários à vida; não estais sobre a terra para aqui viverdes
imersos em pensamentos de coisas materiais, sois filhos de Deus, bem superiores
às flores do campo e às aves do céu. Deus pensará em vós, mais do que pensa nas
outras criaturas e vos dará o necessário.”
“Tudo mais vos
será dado por acréscimo”, segundo comenta Santo Agostinho: “não como um bem no
qual devais fixar a vossa atenção, mas como um meio pelo qual possais chegar ao
sumo e verdadeiro bem.”
Trata-se de
uma atitude de fé viva na Providência divina e de confiança filial no Pai
Celeste, que conduz à paz e serenidade de espírito.
“Para cada dia
bastam seus próprios problemas.”
O ontem já
passou; o amanhã não sabemos se chegará para cada um de nós, pois a ninguém foi
entregue o seu porvir. Do dia de ontem, só ficaram muitos motivos de ação de
graças pelos inúmeros benefícios e ajudas de Deus, bem como daqueles que
convivem conosco. Com certeza pudemos aumentar, nem que fosse um pouco, o nosso
tesouro no Céu. Podemos dizer do dia de ontem, com palavras do salmista: “O
Senhor tornou-se o meu apoio, libertou-me da angústia e salvou-me porque me
ama.” (Sl 17, 19-20).
O amanhã
“ainda não é”, e, se chegar, será o dia mais belo que jamais pudemos sonhar,
porque foi preparado pelo nosso Pai-Deus para que nos santifiquemos: “Vós sois
o meu Deus, os meus dias estão nas vossas mãos” (Sl 31, 16). Não há razões
objetivas para andarmos angustiados e preocupados pelo dia de amanhã: teremos
as graças necessárias para enfrentá-lo e sair vitoriosos.
O que importa
é o hoje. É o que temos para amar e para nos santificarmos, através de inúmeros
pequenos acontecimentos que constituem a trama de um dia.
Aqui e agora é
que eu tenho que amar a Deus com todo o meu coração... e com obras.
Boa parte da
santidade e da eficácia consiste certamente em vivermos cada dia como se fosse
o único da nossa vida. Dias para serem cumulados de amor de Deus e terminados
com as mãos cheias de boas obras. O dia de hoje não se repetirá nunca, e o
Senhor, espera que o impregnemos de Amor e de pequenos serviços aos nossos
irmãos. As aflições procedem, pois, quase sempre, de não vivermos com
intensidade o momento atual e de termos pouca fé na Previdência. Por isso
desapareceriam se disséssemos sinceramente ao Senhor: “quero o que queres,
quero porque o queres, quero como o que queres, quero enquanto o quiseres”
(Oração de Clemente XI). Vêm então a alegria e a paz.
“Não podeis
servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6, 24). “Os bens da terra, diz São Josemaria
Escrivá, não são maus; pervertem-se, quando o homem os torna como ídolos e se
prostra diante deles; mas tornam-se nobres, quando os converte em instrumentos
para alcançar o bem, numa missão de justiça e de caridade. Não podemos correr
atrás dos bens econômicos como quem procura um tesouro; o nosso tesouro é
Cristo e nEle se há de concentrar todo o nosso amor, porque onde está o nosso
tesouro, aí está também o nosso coração (Mt 6, 21)” (Cristo que passa, nº 35).
Deixemos de
ser servos do dinheiro e escravos de nós mesmos, para servir no Senhor com
alegria e livres da angústia possessiva.
Aproveitemos
bem o dia que estamos vivendo! Todos os dias da nossa vida estão presididos por
Deus que tanto nos quer. E só temos capacidade para viver o presente!
Aqui e agora
devemos ser generosos com Deus, fugindo da tibieza.