O Filho Perdido e o Perdão
Mons. José Maria Pereira
Em Lc 15, 1-32,
na introdução, os fariseus criticam Cristo porque “acolhe gente de má fama e
come com eles...”. Esta crítica provoca a resposta de Jesus com as três
parábolas da misericórdia que ilustram a atitude misericordiosa de Deus para
com os pecadores: a ovelha perdida; a moeda perdida; o filho pródigo (perdido).
Em todas elas dá importância muito particular à ALEGRIA daquele que encontra o
que tinha perdido. O pastor, depois de encontrar a ovelha, “coloca-a nos ombros
com alegria”, regressa à casa e convoca os amigos e vizinhos para que se
alegrem com ele. A mulher, depois de ter procurado por todos os recantos da
casa, ao encontrar a moeda perdida, faz a mesma coisa: “alegrai-vos comigo,
porque achei a moeda perdida!” Muito mais faz o pai ao ver ao longe o filho que
volta e que há tanto tempo tinha abandonado a casa paterna; não pensa em
recriminá-lo, mas em fazer uma festa!
O personagem
central destas parábolas é o próprio Deus (que é PAI), que lança mão de todos
os meios para recuperar os seus filhos feridos pelo pecado. “No seu grande amor
pela humanidade, Deus vai atrás do homem, escreve Clemente de Alexandria, como
a mãe voa sobre o passarinho quando este cai do ninho; e se a serpente começa a
devorá-lo, esvoaça gemendo sobre os seus filhotes (Dt 32, 11). Assim Deus busca
paternalmente a criatura, cura-a da sua queda, persegue a besta selvagem e
recolhe o filho, animando-o a voltar, a voar para o ninho.”
“Assim haverá
alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte, do que por
noventa e nove justos que não precisam de conversão” (Lc 15, 70). Isto não quer
dizer que o Senhor não estime a perseverança dos justos, mas aqui se põe em
realce o gozo de Deus e dos bem-aventurados diante do pecador que se converte.
É um claro chamamento ao arrependimento e a não duvidar nunca do perdão de
Deus.
O pecado, tão
detalhadamente descrito na parábola do filho pródigo, consiste na rebelião
contra Deus, ou ao menos no esquecimento ou indiferença para com Ele e para com
o seu amor, no desejo tolo de viver fora do amparo de Deus, de emigrar para uma
terra distante, longe da casa paterna. Como se passa mal quando se está longe
de Deus! “Onde se passará bem sem Cristo – pergunta Santo Agostinho -, ou
quando se poderá passar mal com Ele?”
“Correu-lhe ao
encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos” (Lc 15, 20). Acolhe-o como filho
imediatamente! Estas são as palavras da Bíblia: cobriu-o de beijos, comia-o a
beijos. Pode-se falar com mais calor humano? Pode-se descrever de maneira mais
gráfica o amor paternal de Deus pelos homens? Perante um Deus que corre ao
nosso encontro, não nos podemos calar, e temos que dizer-Lhe, como São Paulo:
“Abbá, Pai” (Rm 8,15). Quer que Lhe chamemos de Pai, que saboreemos essa
palavra, deixando a alma inundar-se de alegria.
“Deus
espera-nos como o pai da parábola, estendendo para nós os braços, embora não o
mereçamos. Não importa o que lhe devemos. Como no caso do filho pródigo, o que
é preciso é que lhe abramos o coração, que tenhamos saudades do lar paterno,
que nos maravilhemos e nos alegremos perante o dom que Deus nos fez de nos
podermos chamar e sermos realmente, apesar de tanta falta de correspondência da
nossa parte, seus filhos” (São Josemaria Escrivá; Cristo que passa, nº.64).
Essa parábola deve nos despertar para a beleza do sacramento da
Reconciliação (confissão). Na Confissão, através do sacerdote, o Senhor
devolve-nos tudo o que perdemos por culpa própria: a graça e a dignidade de
filhos de Deus. Cumula-nos da sua graça e, se o arrependimento é profundo,
coloca-nos num lugar mais alto do que aquele em que estávamos anteriormente.
O pecado existe e todo o pecado é uma ofensa a Deus, porém a misericórdia
de Deus é maior do que todos os nossos pecados. Contudo supõe uma atitude de
retorno: CONVERSÃO.
O Pai é Deus, que tem sempre as mãos abertas, cheias de misericórdia. O
filho mais novo é a imagem do pecador, que percebe que só pode ser feliz junto
de Deus, nem que seja no último lugar, mas com o seu Pai-Deus. E o mais velho?
É um homem trabalhador, que sempre serviu...; mas sem alegria. Serviu porque
não tinha outra solução, e, com o tempo, o seu coração tornou-se pequeno. Foi
perdendo o sentido da caridade enquanto servia. O seu irmão é já, para ele, “esse
teu filho”. É a figura de todo aquele que esquece que estar com Deus, nas
coisas grandes e nas coisas pequenas, é uma honra imerecida.
Deus espera de nós uma entrega alegre, sem tristeza nem
constrangimento, pois Deus ama aquele que dá com alegria (2 Cor 9, 7). “É uma
doce alegria pensar que o Senhor é justo, que conhece perfeitamente a
fragilidade da nossa natureza! Por que então temer? Ele que se dignou perdoar,
com tanta misericórdia, as culpas do filho pródigo, não será também justo
comigo, que estou sempre junto dEle?” (Santa Teresinha do Menino Jesus). Com
alegria sirvamos ao Senhor nas coisas mais pequenas!
Nenhum comentário:
Postar um comentário