sexta-feira, 6 de setembro de 2013

HOMILIA DOMINICAL - 08/09/2013


Condições para Seguir Jesus






O Evangelho (Lc 14, 25-33) ensina que a verdadeira sabedoria, que nos leva à salvação, consiste no seguimento radical de Cristo; multidões O seguiam e Jesus voltando-se, disse-lhes: “Se alguém vem a Mim, e não odeia pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até a própria vida, não pode ser Meu discípulo”.

Odiar na linguagem bíblica, ou renunciar, segundo o uso semítico, significa amar menos, pospor, como se pode apreciar no texto paralelo de Mt 10, 37: “Quem amar o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim”. 

Só Deus tem o direito ao primado absoluto no coração e na vida do homem; Jesus é Deus e, por conseguinte, é lógico que o exija como condição indispensável para ser Seu discípulo. “Mas o Senhor, comenta S. Ambrósio, não manda nem desconhecer a natureza nem ser escravo dela; manda atender à natureza de tal maneira que se venere o Seu Autor e não afastar-se de Deus por amor aos pais”. Isto é válido para todos, mesmo para os simples cristãos, como para todos é válida também a frase seguinte: “Quem não carrega sua Cruz e não caminha atrás de Mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 27). 

Jesus vai a caminho de Jerusalém onde será crucificado e, à multidão que O segue, declara a necessidade de levar a Cruz com amor e constância. Ele levou a Cruz até morrer pregado nela; o cristão não pode pensar em levá-la só em alguns momentos da vida, mas terá que abraçá-la todos os dias, até à morte.

O seguimento de Cristo exige uma atitude radical de desprendimento de tudo que possa opor-se à proposta de Jesus. Mesmo os valores mais sagrados, como relacionamento familiar, devem submeter-se ao valor superior, o do Reino de Deus, à imitação de Jesus Cristo. Quem deseja ser discípulo de Jesus Cristo deve estar pronto a investir tudo, até a própria vida, até os valores mais sagrados como as vinculações de sangue e os bens matérias.

Isso não significa que os cristãos devam renunciar aos vínculos familiares e aos deveres de membro da sociedade. Significa antes que são chamados a viverem estes relacionamentos com liberdade e dedicação, respeitando o valor das pessoas e das coisas, bem como a própria dignidade.

 “Se alguém vem a Mim, mas não odeia o pai, a mãe...”; estas palavras do Senhor não devem desconcertar ninguém. O amor a Deus e a Jesus Cristo deve ocupar o primeiro lugar na nossa vida e devemos afastar tudo aquilo que ponha obstáculos a este amor: “Amemos neste mundo a todos", comenta São Gregório Magno, ainda que seja ao inimigo; mas odeie-se o que se nos opõe no caminho de Deus, ainda que seja parente... 

Devemos, pois, amar o próximo; devemos ter caridade com todos; com os parentes e com os estranhos, mas sem nos afastarmos do amor de Deus por amor deles”. Em última análise, trata-se de observar a ordem da caridade: Deus tem prioridade sobre tudo.

O Jesus que fala é o mesmo que manda amar os outros com a própria alma e entrega a Sua vida pelos homens. A frase, “se não odiar pai e mãe...” indica simplesmente que perante Deus não cabem meias-tintas. Poderiam traduzir-se as palavras de Cristo por amar mais, amar melhor, ou então por não amar com amor egoísta nem também com um amor de vistas curtas: devemos amar com o Amor de Deus.

 “Quem não carrega sua Cruz... não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 27). O caminho do cristão é a imitação de Jesus Cristo. Não há outro modo de O seguir senão acompanhá-Lo com a própria Cruz. A experiência mostra-nos a realidade do sofrimento, e que este leva à infelicidade se não se aceita com sentido cristão. A Cruz não é uma tragédia, mas pedagogia de Deus que nos santifica por meio da dor para nos identificarmos com Cristo e nos tornarmos merecedores da glória. Por isso é tão cristão amar a dor: “Bendita seja a dor. Amada seja a dor. Santificada seja a dor... Glorificada seja a dor!” (Caminho, 208). “... Qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 33). 

Se antes o Senhor falou de “odiar” os pais e até a própria vida, agora exige com igual vigor o desprendimento total das riquezas. Esta renúncia das riquezas há de ser efetiva e concreta: o coração deve estar desembaraçado de todos os bens matérias para poder seguir os passos do Senhor. Pois, é impossível “servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16, 13). Dizia São Josemaria Escrivá: “Se és homem de Deus, põe em desprezar as riquezas o mesmo emprenho que põem os homens do mundo em possuí-las”. (Caminho, 633).


MONSENHOR JOSÉ MARIA PEREIRA

(Reitor do Seminário Diocesano Nossa Senhora do Amor Divino e SCE das ENS)


Nenhum comentário:

Postar um comentário