Mons. José Maria Pereira
O Evangelho
(Mc 10, 17-30), narra a escolha do jovem rico.
Quando
Jesus saía com os seus discípulos, a caminho de Jerusalém, apareceu um jovem
que se ajoelhou diante d’Ele e lhe perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para
ganhar a vida eterna?” O Senhor indica-lhe os Mandamentos como caminho seguro e
necessário para alcançar a salvação. O jovem, com grande simplicidade,
respondeu-lhe que os cumpria desde a infância. Então Jesus, que conhecia a
pureza daquele coração e o fundo de generosidade e de entrega que existe em
cada homem e em cada mulher, “olhou para ele com amor” e convidou-o a segui-Lo,
pondo à parte tudo o que possuía.
Como
gostaríamos de contemplar esse olhar de Jesus! Umas vezes, imperioso; outras,
de pena e de tristeza, por exemplo ao ver a incredulidade dos fariseus (Mc
2,5); outras, de compaixão, como à entrada de Naim, quando passou o enterro do
filho da viúva (Lc 7,13). É esse olhar que comunica uma força persuasiva às
palavras com que convida Mateus a deixar tudo e segui-Lo (Mt 9,9); ou com que
se faz convidar a casa de Zaqueu, levando-o à conversão (Lc 19,5).
Mas o jovem
prefere a “segurança” da riqueza e recusa o convite de Jesus!
Ao recusar
o convite, diz o Evangelho:” quando ele ouvir isso, ficou abatido e foi embora
cheio de tristeza, porque era muito rico” (Mc 10,22). “A tristeza deste jovem
deve fazer-nos refletir. Podemos ter a tentação de pensar que possuir muitas
coisas, muitos bens neste mundo, pode fazer-nos felizes. E no entanto, vemos no
caso deste jovem do Evangelho que as muitas riquezas se converteram em
obstáculo para aceitar o chamamento de Jesus. Não estava disposto a dizer Sim a
Jesus e não a si próprio, a dizer Sim ao amor e não á fuga!
O amor
verdadeiro é exigente. O amor exige esforço e compromisso pessoal para cumprir
a vontade de Deus. Significa disciplina e sacrifício, mas significa também
alegria e realização humana. Não tenhais medo a um esforço honesto e a um
trabalho honesto; não tenhais medo à verdade. Queridos jovens, com a ajuda de
Cristo e através da oração, vós podeis responder ao Seu chamamento, resistindo
às tentações, aos entusiasmos passageiros e a toda a forma de manipulação de
massas.
Segui a
Cristo! Vós, esposos, tornai-vos participantes reciprocamente, do vosso amor e
das vossas cargas, respeitai a dignidade humana do vosso cônjuge; aceitai com
alegria a vida que Deus vos confia; tornai estável e seguro o vosso matrimônio
por amor aos vossos filhos.
Segui a
Cristo! Vós solteiros ou que estais a preparar para o matrimônio!
Em nome de
Cristo estendo a todos vós o chamamento, o convite, a vocação: Vem e segue-Me”
(Beato João Paulo II).
A reflexão
da passagem bíblica sobre o jovem rico leva-nos a entender o uso dos bens
materiais. Jesus não os condena por si mesmos; são meios que Deus pôs à
disposição do homem para o seu desenvolvimento em sociedade com os outros. O
apego indevido a eles é o que faz que se convertam em ocasião pecaminosa. O
pecado consiste em “confiar” neles, como solução única da vida, voltando as
costas à divina Providência. São Paulo diz que a ganância é uma idolatria (Cl
3,5). Cristo exclui do Reino de Deus a quem cai nesse apego às riquezas,
constituindo-as em centro da sua vida, ou melhor disto, ele mesmo se exclui.
Quem é esse
jovem do Evangelho?
Posso ser
eu. Pode ser você... São muitas pessoas que observam os Mandamentos e até
desejariam fazer mais... Mas quando Deus pede algo mais... se retiram tristes,
porque estão apegadas a muitas coisas, que amaram o seu coração e impedem de
dar esse passo a mais. As vezes são medíocres, querem ficar satisfeitas apenas
com o mínimo necessário!...
Cristo nos
dirige, ainda hoje, o mesmo convite: “Vai e vende tudo o que tens e dá aos
pobres... e depois, vem e segue-Me.”
Todos nós temos alguma coisa para “vender”...
Quais são
as “riquezas”, de que devemos nos desfazer para esse algo mais e que tornam o
nosso coração materializado e insensível às coisas de Deus?
Cristo
continua nos olhando com amor!
Com esforço
devemos seguir o Mestre. “Neste esforço de identificação com Cristo, costumo
distinguir como que quatro degraus: procurá-Lo, encontrá-Lo, tratá-Lo, amá-Lo.
Talvez vos sintais como que na primeira etapa. Procurai o Senhor com fome,
procurai-O em vós mesmo com todas as forças. Atuando com este empenho,
atrevo-me a garantir que já O tereis encontrado, e que tereis começado a
tratá-Lo e a amá-Lo” (São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, nº 300).
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