XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B
VIDA ESPIRITUAL E ORAÇÃO
O Evangelho ( Mc 6, 30-34) mostra a preocupação de Jesus
pelos seus discípulos, cansados depois de uma missão apostólica pelas cidades e
aldeias vizinhas. “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco’’,
diz-lhes. E explica o Evangelista Marcos que eram tantos os que iam e vinham
que não tinham tempo para comer. Então foram, numa barca, retiraram-se à parte,
a um lugar deserto.
Vinde… e descansai um pouco, diz-nos o Mestre. No descanso, longe de centrarmos
a atenção no nosso eu, também devemos procurar Cristo, porque o Amor não
conhece férias. “Em qualquer lugar para onde o homem se dirija, se não se
apoia em Deus, sempre achará dor", adverte-nos Santo Agostinho: ao menos a dor
de termos deixado o Senhor de lado.
Não devemos empregar os momentos de lazer em não fazer nada.
“ Descanso significa represar: acumular forças, ideais, planos…Em poucas
palavras: mudar de ocupação, para voltar depois- com novos brios- aos afazeres
habituais” ( Sulco, n°514). Esse deve produzir um enriquecimento interior,
consequência de se ter amado a Deus, de se ter cuidado com esmero da vida de
piedade ( oração, leitura bíblica, vida sacramental).
Às vezes muitos cristãos deixam sua vida espiritual de lado
ao escolherem, imprudentemente, lugares de férias onde o ambiente moral se
degradou de tal modo que um bom cristão não pode frequentá-los, se deseja ser
coerente.
O Senhor poderia dizer a muitos: “Por que continuas a caminhar
por estradas difíceis e penosas? O descanso não está onde tu procuras. Fazes
bem em procurar o que procuras; mas deve saber que não está onde procuras.
Procuras a vida feliz na região da morte. Não está ali! Como é possível que
haja vida feliz onde nem sequer há vida?” (Santo Agostinho).
Cada domingo somos enviados à missão; e também nós, como os
discípulos, voltamos sempre de novo para junto de Jesus, a fim de contar a Ele
o que fizemos e ensinamos. E com Jesus transformaremos a ação missionária em ação
de graças. Faremos ressoar hoje a voz de Jesus: Eu vos dou graças, ó Pai,
Senhor do Céu e da terra, por tudo que realizastes na semana que passou.
O Evangelho nos mostra a necessidade de o evangelizador, o
apóstolo, ficar a sós com Jesus, de retirar-se para um lugar solitário. Não é
possível comunicar o que não se tem. Daí a necessidade dos momentos de oração,
de um retiro espiritual. Jesus, após as atividades apostólicas, retirava-se
para as montanhas, onde permanecia em oração durante a noite.
É impossível ter-se um apostolado fecundo sem estas pausas
reparadoras aos pés do Mestre, destinadas a cobrar novas forças, não apenas
físicas, mas sobretudo, espirituais. Pausa de oração e de atenção interior para
aprofundar a palavra do Senhor e encarna-la, cada vez melhor, na própria vida.
Ensinou São Josemaría Escrivá: “… a tua vida de apóstolo
vale o que valer a tua oração” (Caminho,
83).
São João Paulo II ao apresentar as metas pastorais para o
século XXI, disse: “ Em primeiro lugar, não hesito em dizer que o horizonte
para o qual deve tender todo caminho pastoral é a santidade.Na verdade, colocar
a programação pastoral sob o signo da santidade é uma opção carregada de
consequências. Significa exprimir a convicção de que, se o Batismo é um
verdadeiro ingresso na santidade de Deus mediante a inserção em Cristo e a habitação
de seu Espírito, seria um contra-senso contentar-se com uma vida medíocre,
pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial. Para esta pedagogia da Santidade, necessita-se um
cristianismo que se destaque principalmente pela arte da oração. Empenhar-se
com maior confiança numa pastoral que dê todo espaço à oração pessoal e
comunitária significa respeitar um princípio essencial da visão cristã da vida:
O primado da graça”( Novo Millennio Ineunte, números 30 e
32).
A exemplo do Mestre, saibamos nos retirar para estarmos a
sós com o Pai, em oração. “Quem não avança, recua”, diz Santo Agostinho. A
medida de como está nossa vida interior está no modo como fazemos nossos momentos
de oração. A vida que levamos é uma tradução da oração que fazemos. Unidos ao
Senhor pela oração sejamos os bons pastores que, cheios de zelo, cuidam para
que as ovelhas não se percam.
Maria, Mãe de Cristo nossa paz, interceda por nós!
MONSENHOR JOSÉ MARIA PEREIRA
SCE da REGIÃO RIO II