“Anuncio – vos uma grande alegria (...): hoje, na cidade de
Davi, nasceu – vos um Salvador, que é o Messias Senhor” ( Lc 2, 10-11).
Neste
dia solene, ressoa o anúncio do Anjo que é um convite – dirigido também a nós,
homens e mulheres do terceiro milênio – para acolher o Salvador. Que a
humanidade atual não hesite em fazê – Lo entrar nas suas casas, nas cidades,
nas nações e em qualquer ângulo da Terra!
É verdade que nos últimos séculos,
foram muitos os progressos realizados em campo técnico e científico; podemos
hoje dispor de vastos recursos materiais. Mas, o homem da era tecnológica corre
o risco de ser vítima dos próprios êxitos da sua inteligência e dos resultados
das suas capacidades inventivas, caminha para uma atrofia espiritual, um vazio
do coração. Por isso, é importante abrir a sua mente e o seu coração ao Natal
de Cristo, acontecimento de salvação capaz de imprimir uma renovada esperança à
existência de todo o ser humano.
“Desperta, ó
homem! Por ti, Deus se fez homem” ( Santo Agostinho). Ó homem moderno, adultoe
todavia às vezes débil de pensamento e de vontade, deixa o Menino de Belém
conduzir – te pela mão; não temas, confia n’Ele! Deus se fez homem por amor do homem!
Somos convidados a formar coro com os anjos: Glória a Deus
no mais alto dos céus e paz na Terra às pessoas de boa vontade. Chegou a
salvação! A luz se manifestou para iluminar os caminhos da humanidade, que
anseia por paz e fraternidade. Deus se torna presente em nosso meio. A palavra
se fez carne e veio morar junto a nós!
Alegremo-nos todos no Senhor! Hoje nasceu o Salvador do
mundo; hoje desceu do céu a verdadeira paz. “Acabamos de ouvir uma mensagem
transbordante de alegria e digna de todo o apreço: Cristo Jesus, o Filho de
Deus, nasceu em Belém de Judá. A notícia faz-me estremecer, o meu espírito
acende-se no meu interior e apressa-se, como sempre, a comunicar-vos esta
alegria e este júbilo”, anuncia São Bernardo. Coloquemo-nos a caminho para
contemplar e adorar Jesus, pois todos temos necessidade dEle; é unicamente dEle
que temos verdadeira necessidade. A verdade é que nenhum caminho que
empreendemos vale a pena se não termina no Menino-Deus.
“Hoje nasceu o nosso Salvador. Não pode haver lugar para a
tristeza, quando acaba de nascer a própria vida, a mesma que põe fim ao temor
da mortalidade e nos infunde a alegria da eternidade prometida. Ninguém deve
sentir-se incapaz de participar de tal felicidade, a todos é comum o motivo
para o júbilo; pois Nosso Senhor, destrutor do pecado e da morte, como não
encontrou ninguém livre de culpa, veio libertar-nos a todos. Alegre-se o santo,
já que se aproxima a vitória. Alegre-se o gentio, já que é chamado à vida. Pois
o Filho, ao chegar a plenitude dos tempos, assumiu a natureza do gênero humano
para reconciliá-la com o seu Criador” (São Leão Magno). Daqui nasce para todos,
como um rio que não pode ser contido, a alegria destas festas.
Vamos à Gruta de Belém levando o nosso presente! E talvez
aquilo que mais agrade à Virgem Maria seja uma alma mais delicada, mais limpa,
mais alegre por ser mais consciente da sua filiação divina, mais bem preparada
por meio de uma confissão realmente contrita, a fim de que o Senhor resida com
mais plenitude em nós: essa confissão que talvez Deus esteja esperando há tanto
tempo…
Maria e José estão nos convidando a entrar. E, já dentro,
dizemos a Jesus com a Igreja: “Rei do universo, a quem os pastores encontraram
envolto em panos, ajudai-nos a imitar sempre a vossa pobreza e a vossa
simplicidade” (Preces das Laudes de 5 de janeiro).
No presépio contemplamos Jesus, recém nascido, que não fala;
mas é a Palavra eterna do Pai. Já se disse que o Presépio é uma cátedra. Nós
deveríamos hoje “entender as lições que Jesus nos dá, já desde Menino, desde
recém-nascido, desde que os seus olhos se abriram para esta bendita terra dos
homens” (São JosemariaEscrivá, É Cristo que passa, nº14).
Jesus nasce pobre e ensina-nos que a felicidade não se
encontra na abundância de bens. Vem ao mundo sem, ostentação alguma, e
anima-nos a ser humildes e a não estar preocupados com o aplauso dos homens.
Quando nos aproximarmos hoje do Menino para beijá-lo, quando
contemplarmos o presépio ou meditarmos neste grande mistério, agradeçamos a
Deus o seu desejo de descer até nós para se fazer entender e amar, e
decidamo-nos, nós também a tornar-nos crianças, para podermos assim entrar no
Reino dos Céus.
Sejamos anunciadores da Boa Nova da Salvação que veio até
nós! Na verdade, para que serviria celebrar o Natal de Jesus se os cristãos não
soubessem anunciá-Lo aos seus irmãos com a sua própria vida? Celebra
verdadeiramente o Natal todo aquele que, em si mesmo, acolhe o Salvador, com fé
e com amor cada vez mais intensos, aquele que O deixa nascer e viver em seu
coração para que possa manifestar-Se ao mundo na bondade, benignidade e doação
generosa de quantos n’Ele acreditamos.
No Natal, o nosso espírito abre – se à esperança, ao
contemplar a Glória divina escondida na pobreza de um Menino envolvido em panos
e reclinado numa manjedoura: é o Criador do Universo, reduzido à importância de
um recém- nascido. Aceitar este paradoxo, o paradoxo do Natal, é descobrir a
Verdade que liberta, o Amor que transforma a existência. Na Noite de Belém, o
Redentor faz – se um de nós, para ser nosso companheiro nas estradas insidiosas da História.
Acolhamos a mão que Ele nos estende: é uma mão que não nos quer tirar nada, mas
apenas dar.
Com os pastores, entremos na Gruta de Belém sob o olhar
amoroso de Maria, silenciosa testemunha do prodigioso nascimento. Que Ela nos
ajude a viver um bom Natal; nos ensine a guardar no coração o Mistério de Deus,
que por nós Se fez homem; nos guie ao testemunharmos no mundo a sua verdade, o
seu amor, a sua paz.
Um Feliz e Santo Natal para todos!
MONS. JOSÉ MARIA PEREIRA
SCE da Região Rio II
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