Homilia de Mons. José Maria Pereira
XIV Domingo do Tempo Comum Ano A
Alívio e Sofrimento
Estamos diante de um convite de Jesus: “Vinde a mim, todos
vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso…Pois o
meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11, 28-30).
Ao lado de Cristo, todas as fadigas se tornam amáveis, tudo
o que poderia ser custoso no cumprimento da vontade de Deus se suaviza. O
sacrifício, quando se está ao lado de Cristo, não é áspero e duro, mas amável.
Ele assumiu as nossas dores e os nossos fardos mais pesados. O Evangelho é uma
contínua prova da sua preocupação por todos: “Ele deixou-nos por toda a parte
exemplos da sua misericórdia”, escreve São Gregório Magno. Ressuscita os
mortos, cura os cegos, os leprosos, os surdos-mudos, liberta os
endemoninhados…Por vezes, nem sequer espera que lhe tragam o doente, mas diz:
Eu irei e o curarei: Mesmo no momento da morte, preocupa-se com os que estão ao
seu lado. E ali entrega-se com amor, como propiciação pelos nossos pecados. E
não só pelos nossos, mas também pelos de todo mundo.
Devemos imitar o Senhor: não só evitando lançar preocupações
desnecessárias sobre os outros, mas ajudando-os a enfrentar as que têm.
Temos de libertar os outros daquilo que lhes pesa, como
Cristo faria se estivesse no nosso lugar.
Ao mesmo tempo, podemos e devemos pensar nesses aspectos em
que, muitas vezes sem termos plena consciência disso, contribuímos para tornar
um pouco mais pesada e menos grata a vida dos outros: pelos nossos juízos
precipitados, pela crítica negativa, pela indiferença ou falta de consideração,
pela palavra que magoa.
Peçamos ao Senhor, na nossa oração pessoal, a ajuda da sua
graça para sentirmos uma compaixão eficaz por aqueles que sofrem o mal
incomensurável de estarem enredados no pecado. Peçamos-lhe a graça de entender
que o apostolado da Confissão é a maior obra de todas as obras de
misericórdias, pois é possibilitar que Deus derrame o seu perdão generosíssimo
sobre os que se afastaram da casa paterna. Que enorme fardo retiramos dos
ombros de quem estava oprimido pelo pecado e se aproxima da Confissão! Que
grande alívio!
Não encontraremos caminho mais seguro para seguirmos o
Senhor e para encontrarmos a nossa própria felicidade do que a preocupação
sincera por libertar ou aliviar do seu lastro os que caminham cansados e
aflitos, pois Deus dispôs as coisas “para que aprendamos a levar as cargas uns
dos outros; porque não há ninguém sem defeito, ninguém sem carga, ninguém que
se baste a si próprio, nem que seja suficientemente sábio para si” ( T. Kempis,
Imitação de Cristo, I,16). Todos precisamos uns dos outros. A convivência
diária requer essas ajudas mútuas, sem as quais dificilmente poderíamos ir para
a frente.
E se alguma vez nós mesmos nos vemos a braços com um fardo
excessivamente pesado para as nossas forças, não deixemos de ouvir as palavras
do Senhor: Vinde a mim. Só Ele restaura as forças, só Ele sacia a sede. “Jesus
diz agora e sempre: Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados,
e eu vos aliviarei. Efetivamente, Jesus encontra-se numa atitude de convite, de
promessa, de amizade, de bondade, de remédio para os nossos males, de conforto
e, sobretudo, de pão, de fonte de energia e de vida” ( BeatoPapa Paulo VI,
Homilia, 12/06/1977). Cristo é o nosso descanso.
O segredo é a oração. Quando, por vezes, na vida, nos
sentimos esmagados e não sabemos a quem mais recorrer, temos que voltar-nos
decididamente para o Sacrário, onde nos espera o Amigo que nunca atraiçoa nem
decepciona, e que, nesse colóquio sem palavras, nos anima, nos dá
critério e nos robustece para a luta.
Quantas preocupações e fardos
aparentemente insuportáveis se desfazem à luz trêmula da lamparina de um Sacrário!
Falando sobre a oração sobre as visitas de adoração a Cristo presente
sob as espécies eucarísticas, ensinou
São João Paulo ll: “É bom demorar- se com Ele e, inclinado sobre o seu peito
como o discípulo predileto ( cf. Jo 13,25 ), deixar-se tocar pelo amor infinito
do seu coração. Se atualmente o cristianismo se deve caracterizar sobretudo
pela “arte da oração”, como não sentir de novo a necessidade de permanecer
longamente, em diálogo espiritual, adoração silenciosa, atitude de amor, diante
de Cristo presente no Santíssimo Sacramento? Quantas vezes, meus queridos
irmãos e irmãs, fiz esta experiência, recebendo dela força, consolação, apoio!
Escrevia Santo Afonso Maria de Ligório: “A devoção de adorar Jesus sacramentado
é, depois dos sacramentos, a primeira de todas as devoções, a mais agradável a
Deus e a mais útil para nós”. A Eucaristia é um tesouro inestimável: não só a
sua celebração, mas também o permanecer diante dela fora da Missa permite – nos
beber na própria fonte da graça. Uma comunidade cristã que queira contemplar
melhor o rosto de Cristo, segundo o espírito que sugeri nas cartas apostólicas
Novo millennioineunte e RosariumVirginisMariae, não pode deixar de desenvolver
também este aspecto do culto eucarístico, no qual perduram e se multiplicam os
frutos da comunhão do corpo e sangue do Senhor” ( Carta Encíclica Ecclesia de
Eucharistia, João Paulo ll , 25).
Muitas vezes encontramos muita miséria humana: quantos
problemas, quantos sofrimentos, quanta desilusão e quanto amor negado!
Às vezes há problemas que não têm solução, há dor que nenhum
analgésico cura, há escuridão onde a luz não penetra! E Cristo nos repete:
“Vinde a mim todos vós que estais cansados…e eu vos aliviarei”. Só Ele poderá
aliviar o peso de nossos sofrimentos…
Mons. José Maria Pereira
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