Homilia de Mons. José Maria Pereira
Santíssima Trindade
Ano A
Ano A
Santíssima Trindade
Depois de ter celebrado os mistérios da Salvação, desde o
nascimento de Cristo (Natal) até a vinda do Espírito Santo (Pentecostes), a
liturgia propõe-nos o mistério central de nossa fé: a Santíssima Trindade.
A Igreja celebra o mistério mais elevado da doutrina
revelada, o seu mistério central. O enunciado do mistério é muito simples, como
aprendemos no Catecismo: A Santíssima Trindade é o mesmo Deus Pai, Filho e Espírito
Santo; três pessoas distintas e um só Deus verdadeiro. Mistério insondável que
nos leva a três atitudes: adorar, agradecer e amar. Somente compreenderemos
isso no Céu.
O Papa Bento XVl, em
2010, assinalou que “este domingo da Santíssima Trindade, em certa maneira,
recapitula a revelação de Deus ocorrida nos mistérios pascais: morte e
ressurreição de Cristo, sua ascensão à direita do Pai e a efusão do Espírito
Santo. A mente e a linguagem humanas são inadequadas para explicar a relação
existente entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e entretanto os Padres da
Igreja procuraram ilustrar o mistério de Deus, Uno e Trino, vivendo-o na
própria existência com profunda fé.
A Trindade divina, de fato, faz morada em nós no dia do
Batismo. ‘Eu te batizo, diz o ministro, em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo’. O nome de Deus, no qual fomos batizados, recorda cada vez que fazemos o
sinal da Cruz.
O teólogo Romano Guardini, a propósito do sinal da Cruz
observa: “fazemo-lo antes da oração, para que nos disponha espiritualmente em
ordem; para concentrar em Deus os pensamentos,
o coração e a vontade; depois da oração, para que permaneça em nós
aquilo que Deus nos deu.
Isso abrange todo o ser, corpo e alma, e tudo fica
consagrado em nome do Deus, Uno e Trino.”
Seguidamente Bento XVl afirmou que “no sinal da Cruz e no
nome do Deus vivente está, por isso, contido o anúncio que gera a fé e inspira
à oração. E, como no Evangelho Jesus promete aos Apóstolos que ‘quando vier o
Espírito da Verdade, Ele os introduzirá em toda a verdade’, assim acontece na
liturgia dominical, quando os sacerdotes dispensam, semana após semana, o pão
da Palavra e da Eucaristia”.
Toda a vida da Igreja está impregnada pelo Mistério da
Santíssima Trindade. E quando falamos aqui de mistério, não pensemos no
incompreensível, mais na realidade mais profunda que atinge o núcleo do nosso
ser e do nosso agir.
Mas é Cristo quem nos revela a intimidade do mistério
trinitário e o convite para que participemos dele. “Ninguém conhece o Pai senão
o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt, 11, 27). Ele revelou-nos
também a existência do Espírito Santo junto com o Pai e enviou-o à Igreja para
que a santificasse até o fim dos tempos; e revelou-nos a perfeitíssima Unidade
de vida entre as Pessoas divinas (Cf. Jo16, 12-15).
O mistério da Santíssima Trindade é o ponto de partida de
toda a verdade revelada e a fonte de que procede a vida sobrenatural e para a
qual nos encaminhamos: somos filhos do Pai, irmãos e co-herdeiros do Filho,
santificados continuamente pelo Espírito Santo para nos assemelharmos cada vez
mais a Cristo.
Por ser o mistério central da vida da Igreja, a Santíssima
Trindade é continuamente invocada em toda a liturgia. Fomos batizados em nome
do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e em seu nome perdoam-se os pecados;
ao começarmos e ao terminarmos muitas orações, dirigimo-nos ao Pai, por
mediação de Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Muitas vezes ao longo
do dia, nós, os cristãos repetimos: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito
Santo.
Meditando sobre a Trindade, dizia S. Jose Maria Escrivá: “Deus
é o meu Pai! Se meditares nisto, não sairás dessa consoladora consideração.
Jesus é meu Amigo íntimo ! (outra descoberta), que me ama
com toda a divina loucura do seu coração.
O Espírito Santo é meu Consolador!, que me guia nos passos
de todo o meu caminho. Pensa bem, nisso. Tu és de Deus…, e Deus é teu” (Forja,
nº 2).
Desde que o homem é chamado a participar da própria vida
divina pela graça recebida no Batismo, está destinado a participar cada vez
mais dessa Vida. É um caminho que é preciso percorrer continuamente.
A Santíssima Trindade habita na nossa alma como num templo.
E São Paulo faz-nos saber que o amor de Deus foi derramado em nossos corações
pelo Espírito Santo que nos foi dado (Cf. Rm 5, 5). E aí, na intimidade da
alma, temos de nos acostumar a relacionar-nos com Deus Pai, com Deus Filho e
com Deus Espírito Santo. Dizia Santa Catarina de Sena: “Vós, Trindade eterna,
sois mar profundo, no qual quanto mais penetro, mais descubro, e quanto mais
descubro, mais vos procuro”.
Imensa é a alegria por termos a presença da Santíssima
Trindade na nossa alma! Esta alegria é destinada a todo cristão, chamado à
santidade no meio dos seus afazeres profissionais e que deseja amar a Deus com
todo o seu ser; se bem que, como diz Santa Teresa, “há muitas almas que
permanecem rodando o castelo (da alma), no lugar onde montam guarda as
sentinelas , e nada se lhes dá de penetrar nele. Não sabem o que existe em tão
preciosa mansão, nem quem mora dentro dela”. Nessa “preciosa mansão”, na alma
que resplandece pela graça, está Deus conosco: o Pai, o Filho e o Espírito
Santo.
Desde pequenos, aprendemos de nossos pais a fazer o sinal da
cruz e chamar a Deus: de Pai, Filho e Espírito Santo.
Assim com toda a naturalidade, estávamos invocando o
mistério mais profundo de nossa fé e da vida cristã: Santíssima Trindade que
hoje celebramos.
Só Cristo nos revelou claramente essa verdade: Fala
constantemente do Pai: Quando Felipe diz: “Mostra-nos o Pai…”, Jesus responde:
“Felipe… quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,8).
Jesus promete o Espírito Santo: “Quando vier o Espírito da
Verdade, ele vos conduzirá à plena Verdade”.
Quando se despede, no dia da Ascensão, afirma: “Ide… e
batizai em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.”
A contemplação e o louvor à Santíssima Trindade são a
substância da nossa vida sobrenatural, e esse é também o nosso fim: porque no
Céu, junto de Nossa Senhora – Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho, Esposa de
Deus Espírito Santo: mais do que Ela, só Deus – , a nossa felicidade e o nosso
júbilo serão um louvor eterno ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo.
O então Papa Bento
XVl ressaltou que: ” assim como aconteceu com a Virgem Maria, a Santíssima
Trindade composta por Deus Pai. Deus
Filho e Deus Espírito Santo, deve conduzir a vida de todo cristão vivendo este
mistério com profunda fé e com a necessária abertura à graça “para avançar no
amor para Deus e para o próximo”.
Fazendo o sinal da Cruz, nós declaramos a cada vez, nossa
vontade de pertencer à Trindade.
Monsenhor José Maria Pereira
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