Homilia de Mons. José Maria Pereira
Pentecostes
Missão do Espírito Santo
Missão do Espírito Santo
Com a Solenidade de Pentecostes encerramos o Tempo Pascal!
Pentecostes era uma das grandes festas judaicas; muitos
israelitas iam nesses dias em peregrinação a Jerusalém, para adorar a Deus no
Templo. A origem da festa remontava a uma antiqüíssima celebração em que se
davam graças a Deus pela safra do ano, em vésperas de ser colhida. Depois
acrescentou-se a essa comemoração, que se celebrava cinqüenta dias depois da
Páscoa, a da promulgação da Lei dada por Deus no monte Sinai. Por desígnio
divino, a colheita material que os judeus festejavam com tanto júbilo converteu-se,
na Nova Aliança, numa festa de imensa alegria: a vinda do Espírito Santo com
todos os seus dons e frutos.
Hoje é a plenitude do Mistério Pascal, com o Dom do Espírito
Santo à Igreja. É o nascimento da Igreja. O Pentecostes é o cumprimento da
promessa de Jesus: “… se Eu for, enviá-Lo-ei” (Jo 16,7).
O que aconteceu em Pentecostes é o contrário do que ocorreu
em Babel. Na torre de Babel cada um começou a falar a sua língua e por isso não
se entendiam. Em Babel, reina o egoísmo, o individualismo. Com a torre, os
homens ambicionavam chegar aos céus com as próprias forças, com os próprios
méritos. Em Pentecostes, há a união de línguas, todos reconhecem a linguagem
que se fala pelo Espírito. É uma linguagem do amor, que une o que estava
disperso. É uma linguagem que vai além dos aspectos culturais, cada um escuta
como se fosse sua própria língua e compreende. Em Pentecostes não é o homem que
tenta se alçar ao céu. É o Céu que desce ao homem no Espírito. Aqui não se
trata de méritos, mas pura graça. Tanto no relato de Atos ( 2, 1-11), como no
Evangelho de João ( 20, 19-23), fala-se que os discípulos recebem o Espírito
Santo quando estão reunidos em
comunidade. Desde a fundação da Igreja, o Espírito se faz presente quando dois
ou mais estão reunidos.
A vinda do Espírito Santo, no dia de Pentecostes, não foi um
acontecimento isolado na vida da Igreja. O Paráclito santifica-a continuamente,
como também santifica cada alma, através das inúmeras inspirações que se
escondem em “todos os atrativos, movimentos, censuras e remorsos interiores,
luzes e conhecimentos que Deus produz em nós, prevenindo o nosso coração com as
suas bênçãos, pelo seu cuidado e amor paternal, a fim de nos despertar, mover,
estimular para o amor celestial, para as boas resoluções, para tudo aquilo que,
numa palavra, nos conduz à nossa vida eterna. A sua ação na alma é suave e
aprazível; Ele vem salvar, curar, iluminar” (São Francisco de Sales).
No dia de Pentecostes, os Apóstolos foram robustecidos na
sua missão de anunciarem a Boa Nova a todos os povos. Todos os cristãos têm,
desde então, a missão de anunciar, de cantar as maravilhas que Deus fez no seu
Filho e em todos aqueles que creem nEle. Somos agora um povo santo para publicar
as grandezas dAquele que nos tirou das trevas para a sua luz admirável.
Ao compreendermos a grandeza da nossa missão, compreendemos
também que ela depende da nossa correspondência às moções do Espírito Santo, e
sentimo-nos necessitados de pedir-lhe freqüentemente que lave o que está
manchado, regue o que está seco, cure o que está doente, acenda o que está
morno, retifique o que está torcido. Porque sabemos bem que no nosso interior
há manchas, e partes que não dão todo o fruto que deveriam porque estão secas,
e partes doentes, e tibieza e também pequenos desvios, que é necessário
retificar.
Não se pode conceber vida cristã nem Igreja sem a presença e
a ação do Espírito Santo.
Depois que Jesus completou a sua obra, constituído Senhor a
partir de sua ressurreição, envia ao mundo o seu Espírito, o Espírito do Pai.
Conforme São João (Cf. Jo 20,19-23), Jesus comunica o seu Espírito, o mesmo
Espírito que Ele entregou ao Pai no dia da ressurreição. Para isso, sopra sobre
eles, transmitindo-lhes a vida nova, a força, o Espírito Santo: “Recebi o
Espírito Santo…” e o Dom do Perdão e da Reconciliação.
O Espírito Santo nos conduz à vida de oração. A vida cristã
requer um diálogo constante com Deus Uno e Trino, e é a essa intimidade que o
Espírito Santo nos conduz. Acostumemo-nos a procurar o convívio com o Espírito
Santo, que é quem nos há de santificar; a confiar nEle, a pedir a Sua ajuda, a
senti-Lo perto de nós. Assim se irá dilatando o nosso pobre coração, teremos
mais ânsias de amar a Deus e, por Ele, a todas as criaturas.
A chama do Espírito Santo transformou totalmente os apóstolos…
Que essa mesma chama ilumine e aqueça a nossa vida no caminho da Unidade, do
Bem e da Verdade…
“O Espírito Santo vem em socorro à nossa fraqueza”, diz S.
Paulo (Rom. 8,26). Diz São João da Cruz que o Espírito Santo, com a sua chama
está ferindo a alma, gastando e consumindo-lhe as imperfeições dos seus maus
hábitos.
Para chegarmos a um convívio mais íntimo com o Espírito
Santo, aproximemo-nos da Virgem Maria, que soube secundar como ninguém as
inspirações do Espírito Santo. “Perseveravam unânimes na oração, com algumas
mulheres e com Maria, a Mãe de Jesus” (At 1,14).
Rezemos hoje com a Igreja: Deus eterno e todo-poderoso,
quisestes que o mistério pascal se completasse durante cinquenta dias, até a
vinda do Espírito Santo. Fazei que todas as nações dispersas pela terra, na
diversidade de suas línguas, se unam no louvor do vosso nome.
Cantemos: Vem, vem, vem, vem Espírito Santo de
Amor, vem a nós, traz à Igreja em novo vigor.
Mons. José Maria Pereira
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